Médico que deu alta a menina de 7 anos, vítima de dengue, é indiciado
A PCDF concluiu que Pietra Isaac, morta aos 7 anos, foi vítima de imperícia do médico de um hospital particular que a mandou para casa
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) indiciou o médico que deu alta a Pietra Isaac, menina de 7 anos vítima de dengue. A menina estava doente e, na ocasião, o profissional de plantão no hospital particular Daher, no Lago Sul, afirmou que ela “estava com dengo“, e mandou a menina para casa. A criança morreu no dia seguinte, após seu quadro de saúde evoluir para dengue hemorrágica.
O inquérito conduzido pela 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) e obtido pelo Metrópoles apontou que houve imperícia por parte de um dos médicos que atendeu Pietra, na segunda vez que ela procurou o hospital particular. Os laudos produzidos pela perícia indicaram que a causa da morte foi “complicação de dengue grave”.
“[…] havia clara indicação de internação hospitalar, reavaliações seriadas e reposição volêmica”, diz o laudo do Instituto Médico Legal (IML).
O caso de Pietra teve início em 15 de novembro, quando a menina foi levada ao Hospital Daher, no Lago Sul, passando mal. O primeiro diagnóstico apontava para bronquite e virose, sendo receitado medicamentos para tais doenças. Porém, no dia seguinte, após apresentar piora no quadro, Pietra retornou à unidade de saúde.
A primeira médica que atendeu a criança no Daher a diagnosticou com dengue e, de imeadiato, recomendou internação. Porém, como o hospital não tem uma unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica, a pediatra afirmou que escreveria uma recomendação para que a família transferisse e internasse Pietra no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib).
“Sua filha está com dengo”
De acordo com o relato da mãe de Pietra à PCDF, enquanto aguardava o retorno de alguns exames da filha no Daher, houve troca de plantão. O novo médico que atendeu Pietra disse que à mãe que a menina estava “dengosa”. “O que sua filha tem é dengo”, teria dito o médico.
Após essas palavras, o profissional de saúde dispensou a menina e recomendou remédio e repouso, em casa. A mãe de Pietra chegou a insistir dizendo que a criança estava com dor, mas o médico liberou Pietra.
A garotinha passou a vomitar sangue, apresentar febre alta e não conseguia se alimentar. A mãe, então, optou por levar Pietra ao Hmib. Ela foi internada na UTI e, posteriormente, precisou ser intubada. Em 17 de novembro, a menina morreu.
O que diz o médico
No inquérito da PCDF, o médico que mandou Pietra para casa afirmou ter dito que a menina estava com dengo, mas disse que usou a expressão apenas como uma forma de “quebrar o gelo”.
O especialista afirmou, ainda, não se recordar da conversa que teve com a mãe da menina após a chegada dos exames. Segundo o profissional, as plaquetas de Pietra estavam em 136 mil.
O médico confirmou que disse à família que não haveria necessidade de internação. Ao final da consulta, ele recomendou que a criança fosse levada a um hospital de referência, caso houvesse piora no quadro.
Justiça
O inquérito da 10ª DP foi encaminhado à Justiça — que pode tornar ou não o médico réu. A indicação da PCDF é de que o profissional seja julgado por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – por imperícia médica.
“Os relatos da mãe da vítima demonstram que o indiciado não agiu com o zelo e o dever profissional que lhe incumbiam. Além disso, o laudo produzido pelo IML informou que o quadro de saúde da vítima era indicativo de internação e, o próprio indiciado admitiu que deu alta médica, realizando, portanto, uma análise incorreta do quadro”.
A reportagem procurou o Hospital Daher, mas, até a última atualização desta matéria, a unidade de saúde não havia emitido nenhum parecer. O espaço segue aberto e o texto será atualizado após possíveis manifestações.