“Sua filha tem é dengo”, disse médico à mãe da menina morta por dengue
Médico ressaltou que a criança estava “dengosa duas vezes” porque ela também foi diagnosticada com dengue. Garotinha morreu dois dias depois
atualizado
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Enquanto Pietra Isaac, de 7 anos, era atendida em um hospital particular do Distrito Federal, o médico responsável pelo caso teria menosprezado o quadro de saúde da menina e dito à mãe da paciente que a criança tinha era “dengo”.
Segundo Camila Isasc, mãe de Pietra, o profissional ressaltou que a criança estava “dengosa duas vezes”, porque a garotinha também foi diagnosticada com dengue. Para tratar a doença, ele indicou repouso em casa e ingestão de líquidos. A menina acabou morrendo dois dias depois.
Para Camila, houve negligência por parte da equipe de saúde do hospital particular. A mulher decidiu, nesta quinta-feira (23/11), registrar boletim de ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), que vai investigar o caso. As supostas falas do médico constam no documento.
Pietra havia sido levada para o Hospital Daher, no Lago Sul. Porém, o estado dela piorou, e a criança começou a vomitar sangue. Então, a família levou a menina para o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), mas ela morreu na última sexta-feira (17/11).
O primeiro diagnóstico recebido por Pietra apontava para um quadro de bronquite e virose, com receita de medicamentos para tratar sintomas respiratórios. No dia seguinte, a menina voltou ao Daher, porque teve piora na saúde.
Outra médica atendeu a paciente e afirmou que Pietra estava, na verdade, com dengue. Em seguida, orientou que a família buscasse o Hmib – unidade de saúde da rede pública considerada referência para esse tipo de atendimento em crianças. No entanto, na troca de plantão, o médico citado avaliou a garota, discordou da profissional anterior e disse que o tratamento poderia ser feito em casa, apenas com hidratação e descanso.
Como Pietra apresentou vômito de sangue, febre alta e falta de apetite, a mãe dela a levou ao Hmib, onde a menina ficou internada na unidade de terapia intensiva (UTI) e precisou ser intubada.
“Foi um descaso, desumano. Você [fica] largado de qualquer jeito, implorando para tomar remédio, para ser internado. Um hospital que tem pediatria, mas não internação pediátrica? O que é isso? [São] despreparados. Se aconteceu com a minha, com quantos outros não aconteceu [também]?”, questionou, em relação ao atendimento no Hospital Daher.
Morte por dengue é investigada
O Metrópoles tenta contato com o Hospital Daher desde o fim da tarde de quarta-feira (22/11), antes de a primeira matéria sobre o caso ser publicada. No momento, a página voltada para imprensa estava fora do ar. A reportagem, então, enviou mensagens para os contatos indicados pelo próprio centro.
Na manhã de quinta-feira (23/11), novas tentativas de contato foram realizadas por meio do e-mail da área de comunicação do hospital. Nenhuma delas foi respondida.
O espaço segue aberto para eventual manifestação do Hospital Daher. As matérias serão atualizadas com a resposta.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou que a paciente chegou ao Hmib em estado grave, na madrugada de quinta-feira (16/11), e que foi “prontamente atendida”.
“Ela foi direto para a sala amarela, fez todos os procedimentos e exames, e foi regulada [internada] na UTI. Todo o atendimento foi realizado pela equipe, mas, diante da gravidade do quadro, ela veio a óbito no fim da tarde do mesmo dia. A Secretaria de Saúde informa, ainda, que um comitê investiga a causa da morte e tem prazo para divulgá-la. A pasta esclarece que deve informar o resultado nos próximos dias”, concluiu a SES-DF.
Aniversário
Dois dias antes de morrer devido a complicações causadas por dengue hemorrágica, Pietra comemorou o aniversário de 7 anos no hospital. Camila Isaac relatou que a filha chegou a escrever em um diário o que queria de presente: “Melhorar logo”.
Uma das lembranças marcantes ocorreu justamente no aniversário anterior de Pietra, quando a menina foi avisada de que teria uma comemoração mais simples. “Eu disse que faria uma festinha. Não seria nada grande. E ela disse: ‘Está bom, mamãe. Não tem problema’. Eu falei para ela escolher alguns amiguinhos, enfeitei as mesas, pedi um bolo temático todo diferente, crepe. No fim, a Pietra virou pra mim e falou: ‘Mãe, você disse que faria uma festinha, mas fez uma festona’. Tudo agradava a ela, até o [que era] pouco”, relembra Camila.