Médico do DF relata terror em hospitais de Manaus: “Cenas de guerra”
Brasiliense se candidatou para atuar voluntariamente no combate à pandemia na capital amazonense e confirma cenário crítico no estado
atualizado
Compartilhar notícia
Recém-formado e atuando como médico há dois anos, o brasiliense Isaac Sanglard (foto em destaque), 28 anos, é um dos profissionais de saúde que se candidataram voluntariamente para auxiliar no combate à pandemia do novo coronavírus em Manaus (AM) – uma das capitais brasileiras mais atingidas pela Covid-19.
Lotado na emergência do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), Sanglard entrou em contato com a Força Nacional, que viabilizou a operação.
Com o aval da direção do HRT, ele vivenciou o dia a dia dos colegas amazonenses que se dedicam a tratar pacientes infectados com o vírus mortal.
“Fui convidado como parte da missão de diagnóstico situacional. Fiquei em um centro de referência a fim de fazer um diagnóstico da situação para o Ministério da Saúde“, explicou.
O médico ficou na capital amazonense por 10 dias, tempo suficiente para sentir na pele o drama no local. “São cenas de guerra: estar em um lugar que você não conhece, trabalhar com pessoas que você não conhece e numa rotina com estresse 24h por dia. O cenário é muito crítico mesmo”, disse.
Sanglard relembra como eram os atendimentos: “Estava em um [hospital] 100% focado no tratamento da Covid-19. Quando o paciente chegava, já estava em estado muito ruim. Se a gente conseguisse estabilizar, era lucro”.
Colegas exauridos
Segundo ele, o que mais impressionou foi perceber a rapidez com que pacientes com coronavírus pioravam seu quadro clínico. “Se desestabilizam muito facilmente. Era preciso pensar e agir muito rápido para reverter o quadro”, conta.
O jovem médico ainda se lembra da alta quantidade de óbitos em um curto espaço de tempo. “Eram de três a quatro mortes por turno. Nas unidades de terapia intensiva, também morria muita gente”, completou.
Sanglard conta ter visto trabalhadores da linha de frente no combate à pandemia exauridos. “A equipe que está lá está exausta, abatida.”
Ele não descarta atuar voluntariamente em outros estados com cenários críticos. “A experiência de Manaus foi intensa. Fica meu agradecimento à direção do HRT, que possibilitou a realização desse trabalho.”
“Heróis nacionais”
Toda a operação da qual participou foi financiada pelo Ministério da Saúde. O órgão arcou com os custos da viagem, alimentação e hospedagem do brasiliense.
A situação do estado amazonense no que diz respeito ao número de casos confirmados do novo coronavírus é delicada. Com mais de 9 mil infectados e 750 mortos, os governos estadual e federal têm realizado operações a fim de levar médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem para auxiliar no combate local contra a doença.
Recentemente, passou a circular um vídeo que mostra um avião lotado de profissionais de saúde com destino a Manaus.
Na gravação (veja abaixo), o piloto da aeronave declara que os médicos e enfermeiros, entre eles alguns brasilienses, são “heróis nacionais”.
O comandante pediu que todos os passageiros aplaudissem os profissionais que iriam arriscar suas vidas no combate ao coronavírus em território amazonense. “São heróis anônimos, que trocaram a capa pelo jaleco”, disse o piloto, ao decolar do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek.