Médico da rede também questiona qualidade da água captada no Lago
Especialista lotado na Unidade Básica de Saúde do Itapoã alertou a Secretaria de Saúde sobre o aumento de pacientes com gastroenterite
atualizado
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O endocrinologista Flávio Cadegiani não é o único médico a colocar a qualidade da água captada do Lago Paranoá sob suspeição. Em 23 de outubro, o clínico Estevão Cubas Rolim, lotado na Unidade Básica de Saúde do Itapoã, enviou ofício à Secretaria de Saúde pedindo investigação do recurso hídrico ofertado na região.
Como revelou o Metrópoles na segunda-feira (18/12), Cadegiani fez um alerta assustador em seu perfil pessoal no Instagram. No texto, ele relata que dezenas de seus pacientes têm apresentado sintomas de gastroenterite, e atribui os casos a um possível surto iniciado logo após o governador Rodrigo Rollemberg e o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, inaugurarem, em 2 de outubro, a captação emergencial de recursos hídricos no maior espelho d’água do Distrito Federal (foto em destaque).
O especialista, que dá plantão no posto de saúde do Itapoã, demonstrou mesma preocupação com o aumento expressivo de pessoas com queixas gastrointestinais, e alertou para uma provável epidemia.A situação atual sugere relação de causa e efeito diante do vínculo epidemiológico comum dos usuários do consumo de água da rede pública, devendo ser investigada eventual situação que põe em risco a população
Estevão Cubas Rolim, médico da Rede Pública de Saúde do DF
Rolim também chamou atenção para o sabor da água, motivo de protestos recorrentes dos pacientes que o procuram. “Importante pontuar as reclamações de diferença expressiva no gosto e aparência, características que levam à possibilidade de contaminação, o que deve ser objeto de análise pelos órgão competentes”.
O profissional finalizou o relatório pedindo nova análise da água do subsistema do Lago Paranoá. Ele abastece, além do Itapoã, a Asa Norte, o Lago Norte, o Paranoá, o Taquari e parte de Sobradinho II. “Solicito avaliação quanto à qualidade da água e sua adequação ao consumo, em especial considerando a recente mudança de abastecimento por nova estação de tratamento”.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que as suspeitas levantadas por Estevão Cubas Rolim não procedem. “Os casos citados pelo médico foram investigados à época e não se encontrou qualquer relação entre eles e a qualidade da água. Também foi realizada, na ocasião, análise da água da região e todas as amostras tiveram laudo satisfatório”.
Médico orienta suspensão do consumo
Conhecido na cidade por atender a alta sociedade, Flávio Cadegiani passou a orientar seus pacientes a evitar o consumo do recurso hídrico captado na região central de Brasília. “Recomendo fortemente que, até normalizarem o abastecimento, usem água mineral, mesmo para cozinhar. Se for usar a água filtrada, sugiro que ferva bem antes de usar”, completou.
O endocrinologista chegou a essa conclusão ao perceber que 50 pacientes, dos cerca de mil que atende, reclamaram de sintomas como diarreia, vômitos e dores de barriga. Depois do alerta público, recebeu um contato da Secretaria de Saúde, que pediu mais informações sobre os casos relatados. A solicitação oficial foi feita por e-mail, o que, na opinião do médico, “demonstra uma preocupação com o fato”.
A partir do alerta de Cadegiani, muitos seguidores interagiram com a postagem. Alguns deles contaram que também tiveram problemas parecidos. Em um dos comentários, um fotógrafo informou que 14 de seus funcionários estariam com esse quadro. Em outro relato, uma seguidora contou que sofreu por quase três semanas em função de uma infecção intestinal: “Meu médico disse a mesma coisa”.
Na terça (19), após a repercussão do caso, o especialista disse acreditar na seriedade da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), mas manteve a opinião de defender a abertura de uma investigação minuciosa.
A Caesb negou a hipótese veementemente. Por meio de nota, a estatal informou que a água produzida e distribuída pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Lago Norte “é de excelente qualidade” e que o alerta do médico é “informação falsa, tendenciosa e prejudicial aos interesses da população”.