Medicina, direito e veterinária: veja de quais cursos eram alunos que fraudaram cotas na UnB
Universidade expulsa e cassa diploma de 15 alunos que teriam burlado regras para ingresso destinadas a negros e indígenas
atualizado
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Após processo interno, em andamento desde 2017, a Universidade de Brasília constatou que 15 alunos de sete cursos ingressaram na instituição mediante fraude. Eles burlaram o sistema de cotas criado pela universidade para garantir o acesso dos que pouco chegavam aos bancos do ensino superior, especialmente negros e indígenas.
Confira de quais cursos eram esses estudantes:
- Direito – 4
- Medicina – 4
- Ciências Sociais – 3
- Letras-Francês – 1
- Ciência da Computação – 1
- Engenharia de Software – 1
- Medicina Veterinária – 1
A decisão, inédita na história da Universidade de Brasília (UnB), determinou nessa segunda-feira (13/7) a expulsão dos 15 alunos identificados como fraudadores do sistema de cotas. Além dos expulsos, dois egressos tiveram os diplomas cassados e oito, que já estavam afastados da universidade por outros motivos, os créditos anulados.
Em junho deste ano, o perfil Fraudadores de Cotas UnB passou a compartilhar informações pessoais de candidatos, em sua maioria brancos, que teriam sido aprovados em vagas exclusiva para cotistas negros ou indígenas.
Segundo a comunidade, as fraudes teriam sido registradas no ingresso de estudantes das mais diversas áreas da graduação.
Confira:
UnB inocentou 73
Em nota, a UnB afirmou ter aberto sindicância em novembro de 2017, quando recebeu denúncia de fraude na utilização da política de cotas raciais por parte de 100 estudantes. A administração, então nomeou comissão para fazer a análise dos casos. Em 2018, mais um caso foi acrescido à lista.
De acordo com a instituição, foram descartados 73 estudantes em uma averiguação preliminar. Outros 28 foram investigados.
Em 2019, a universidade criou uma nova comissão para dar andamento ao processo. “Todos os envolvidos tiveram direito à ampla defesa e ao contraditório”, assegurou a instituição.
O relatório final desta segunda comissão, que deu subsídios à decisão da reitora, passou pela Procuradoria Federal junto à UnB, que validou o processo agora concluído.
Com o encerramento dos trabalhos, a comissão se extinguiu, mas a Universidade continua atenta a eventuais casos de fraude. As denúncias, quando ocorrem, são recepcionadas pela ouvidoria ou pelas unidades acadêmicas, que encaminham os casos para o Decanato de Ensino de Graduação (DEG), responsável pela abertura de sindicância.
A UnB pede que os alunos que desconfiarem de fraudes denunciem as supostas irregularidades na ouvidoria da universidade. A informação deve ser encaminhada via e-mail, pelo endereço ouvidoria@unb.br.
Polêmica antiga
Não é de hoje que a Universidade de Brasília se vê obrigada a apurar denúncias de irregularidades cometidas pelos estudantes no processo de admissão da instituição de ensino.
Quando o programa de cotas foi criado, a UnB designava uma banca para realizar, pessoalmente, a entrevista dos candidatos. Agora, o processo se dá por autodeclaração.
Em 2018, um erro no sistema de cotas da instituição ganhou repercussão após a UnB aceitar uma jovem como cotista e negar o direito à sua irmã. As duas são gêmeas univitelinas. O caso foi noticiado pelo Metrópoles.
As gêmeas Carina Bastos da Costa Soares e Marina Bastos da Costa Soares (veja galeria de fotos) prestaram o vestibular para o curso de medicina veterinária. Apenas uma delas foi aprovada nas vagas reservadas a estudantes de escola pública.
O problema foi levado para análise do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Em caráter liminar, a 17ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária determinou que a UnB matriculasse as duas estudantes.
Segundo o magistrado responsável pelo caso, Rodrigo Parente Paiva, houve comportamento contraditório da comissão avaliadora. “Não há argumentos jurídicos no caso, tendo em vista que, consoante aos autos, é possível observar que sua irmã idêntica restou enquadrada como cotista, enquanto a impetrante ficou de fora de tal lista”, alega a sentença.
À época, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), responsável pela seleção, disse que a candidata Carina Bastos não havia apresentado a documentação exigida.
Outro caso
Em 2007, Alan Teixeira da Cunha e Alex Teixeira da Cunha, 18 anos, gêmeos univitelinos, passaram pela mesma situação. Na ocasião, os jovens – filhos de pai negro e mãe branca – disputavam vagas no vestibular da UnB por meio do sistema de cotas raciais. À época, a regra previa apenas critérios de raça e não socioeconômicos ou de origem escolar.
A submissão de fotografias à banca avaliadora levou o júri a decidir que Alan era negro, mas, Alex, não. O irmão “branco” recorreu – possibilidade prevista no edital do vestibular. A decisão foi mudada, mas os gêmeos não passaram no vestibular daquele ano.