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“Médica disse que meu filho estava morto, mas nasceu vivo”, diz jovem

A adolescente é uma das 11 vítimas que denunciaram à PCDF profissionais do Hospital Regional de Samambaia por negligência e erro médico

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Gestante aos 16 anos, a estudante V. G. S. viveu horas de apreensão após dar entrada no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) apresentando fortes dores na região da barriga. Na unidade pública de saúde, foi recebida e atendida por uma médica que, sem nem mesmo precisar realizar qualquer exame, diagnosticou a morte precoce de seu bebê e receitou um abortivo. Nove horas depois, a grávida entrou em trabalho de parto e, contrariando o diagnóstico da profissional, deu à luz um menino cujo coração ainda batia.

A surpresa e a alegria da mãe e dos familiares duraram pouco, exatas uma hora e 40 minutos. Após ela deixar a sala de cirurgia para se instalar no quarto, um médico informou à jovem que seu bebê de seis meses havia sofrido complicações e não resistiu. O óbito foi registrado às 23h30 daquele dia.

Ao Metrópoles, a adolescente sustentou que a morte da criança é resultado da negligência dos profissionais e poderia ter sido evitada com um diagnóstico preciso.

“A médica apenas tocou na minha barriga e disse que meu bebê tinha morrido. Sem fazer exames, me medicou. Mais tarde, por volta das 19h, outro médico me examinou, com um estetoscópio, e disse que não conseguia ouvir os batimentos cardíacos. Mesmo assim, meu filho nasceu vivo. Se fosse em qualquer outro hospital ou qualquer outro médico, ele poderia estar comigo hoje”, desabafou a jovem.

A adolescente é uma das 11 pacientes a procurar a 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) para denunciar as irregularidades no HRSam. Os relatos graves envolvem erros médicos, mortes de bebês e até humilhações. As queixas levaram a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) a abrir investigação.

Punições

Os relatos chocantes chegaram ao conhecimento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Nesta quarta-feira (17/07/2019), o chefe do Executivo local falou publicamente, pela primeira vez, sobre os casos. “Já determinamos que seja feito o acompanhamento e vamos fornecer todos os dados aos órgãos competentes pela investigação. Se houver realmente irregularidades, vamos punir esses profissionais”, ressaltou.

O governador determinou a criação de uma comissão de sindicância para apurar as denúncias. Os nomes devem ser publicados na edição do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta quinta-feira (18/07/2019).

Pelo menos oito médicos são alvo de investigação. Na delegacia, em depoimento, uma das vítimas chegou a relatar aos policiais que, após reclamar e gritar de dor durante atendimento, um médico disse: “Com um órgão [vagina] desse tamanho, do que ainda está reclamando?”. Em outro caso, uma idosa contou que um profissional lhe mandou calar a boca porque considerava que “ela perguntava demais”.

Na tarde desta quarta, o chefe do Executivo local se reuniu com o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, a fim de estudar quais medidas serão adotadas. “Não podemos punir ninguém de início, salvo quando existe uma clareza no que está acontecendo, e não pretendemos cometer nenhum tipo de injustiça”, ponderou.

Gaze esquecida na vagina

Erika Pereira Nascimento, 25 anos, foi outra a denunciar o HRSam. Não bastasse o trauma de perder o primeiro filho por complicações na gestação, de acordo com a mulher, os médicos responsáveis pelo parto do natimorto esqueceram, em seu útero, duas gazes utilizadas no procedimento cirúrgico.

Erika relatou ter procurado a unidade após realizar exame de ultrassom que apontou a morte precoce do bebê. Diante da comprovação, a equipe optou pela internação da jovem. “Eles [médicos] disseram que não tinham como fazer mais nada. Fizeram os procedimentos de internação, mas só fui fazer o parto no dia seguinte, por volta das 5h.”

Dois dias após o parto, a autônoma recebeu alta médica e voltou para casa. No entanto, durante a recuperação, começou a ter complicações. “Fiz todo meu resguardo da maneira como me foi recomendado e, no final dele, comecei a sentir umas dores e percebi que saía um líquido com odor forte e sangue da minha vagina. No início, achei que fazia parte do próprio resguardo”, conta.

Cinco dias após ela apresentar os sangramentos na região uterina, as dores se intensificaram, levando-a a procurar novamente o HRSam. “Eu sentia uma dor muito forte. Quando tocava, parecia ter um caroço. Fui ao hospital ver o que era, e o médico retirou de dentro da vagina a primeira gaze, que estava podre, e em seguida outra.”

Segundo Erika, o profissional responsável pela extração dos materiais hospitalares omitiu a informação no prontuário, em uma tentativa de “tentar esconder o erro médico”. À reportagem, a jovem disse ter procurado a PCDF no dia seguinte, para denunciar o fato, e disse ter se sentido “esquecida”.

“Foi tudo muito difícil. Primeiro, perdi meu primeiro filho, em um hospital que não tinha atendimento bom, que foi negligente. Fui esquecida e minha irmã teve de procurar os médicos para que eles me atendessem. Depois do parto, quando estava me recuperando e sofrendo meu luto, ainda tive que passar por tudo isso, inacreditável”, lamentou a autônoma.

O que diz a Secretaria de Saúde

Por meio de nota, a direção do HRSam comunicou que “todas as providências estão sendo tomadas pela direção e pela Superintendência da Região de Saúde Sudoeste”. Ainda de acordo com o texto, “um processo sigiloso foi aberto no âmbito da Secretaria de Saúde”. A pasta não informou se os médicos investigados continuam exercendo suas funções.

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