Médica acusada de desviar dinheiro da Saúde do DF é presa ao agredir policiais
Cinthya Telles ofendeu os policiais e impediu fisicamente a movimentação dos agentes, que cumpriam mandado de busca e apreensão
atualizado
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A médica Cinthya Cristina Telles, uma das proprietárias do Instituto Med Aid Saúde (Imas), organização social que assinou contrato de R$ 85,1 milhões com a Secretaria de Saúde do DF, foi presa nessa quarta-feira (18/8), em Limeira (SP). Ela agrediu policias civis de São Paulo que cumpriam mandado de busca e apreensão no âmbito da Operação Ethan, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Cinthya ofendeu os policiais e impediu fisicamente a movimentação dos agentes. Ela foi contida e conduzida à sede da Divisão de Capturas, onde foi autuada em flagrante por desacato, desobediência, resistência e lesão corporal. Um vídeo feito pelos investigadores mostra o momento em que a suspeita empurra uma delegada. Veja:
A ação do MPDFT apura possível superfaturamento milionário em contratação emergencial, entre março e outubro do ano passado, de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) pelo Instituto de Gestão Estratégica em Saúde do Distrito Federal (Iges-DF).
Além da médica, o ex-secretário de Saúde Francisco Araújo é investigado. Conforme o Metrópoles publicou no último sábado (14/8), Francisco embarcou para Manaus assim que soube que seria intimado a depor na CPI da Covid, no Senado Federal.
Foram cumpridos 61 mandados de busca e apreensão no DF, nos hospitais de Base e de Santa Maria, e em cinco estados: Amazonas, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
Organização criminosa
A investigação, que foi conduzida diretamente pelo Ministério Público, revelou um esquema ilegal instalado no Iges-DF que resultou no desvio de milhões de reais em dois contratos destinados ao fornecimento emergencial de leitos de UTIs, entre o período de março a outubro de 2020.
As empresas contratadas foram a Domed, responsável por 50 leitos no Hospital Regional de Santa Maria e a Organização Aparecidense de Terapia Intensiva (Oati), que forneceu 20 leitos no Hospital de Base e outros 10 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião.
Para além do superfaturamento de preços ofertados pelas empresas que participaram da seleção e do direcionamento das contratações em favor das empresas, as investigações apontaram que as contratadas não forneceram insumos, medicamentos e mão de obra em quantidade e qualidade exigidos.
As ilegalidades praticadas, segundo os promotores, tiveram como consequência a ocorrência de altíssimas taxas de mortalidade nos leitos de UTIs de alguns hospitais administrados pelos suspeitos.
Contrato milionário
Em junho de 2020, equipes do MPDFT fizeram vistorias nas UTIs dos hospitais de Base e de Santa Maria. O foco era verificar as condições e a real ocupação dos leitos nos locais dedicados ao combate contra o coronavírus. Dessas visitas surgiram constatações de erros e envio de recomendação ao Iges-DF, responsável pela gestão das duas unidades.
A Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) chegou a emitir documento, recomendando ao Iges-DF a anulação do termo aditivo ao contrato com a Organização Aparecidense de Terapia Intensiva (Oati) para a instalação de leitos de UTI. A empresa foi a terceira colocada no processo seletivo e apresentou proposta mais cara que as duas primeiras.
Segundo a promotoria, em março do ano passado, o Iges-DF celebrou contrato emergencial com a empresa Domed para a gestão de até 70 leitos de UTIs destinados a pacientes com Covid-19. Inicialmente foram instalados 50 leitos no Hospital Regional de Santa Maria pelo valor de R$ 4.282,26 por dia/leito.
Ainda segundo a Prosus, em abril de 2020, “embora a Domed tenha apresentado interesse na contratação dos 20 leitos remanescentes do contrato, o Iges-DF consultou a segunda colocada na concorrência, o Instituto Med Aid Saúde (Imas).
A empresa também manifestou interesse na contratação dos leitos, que estariam disponíveis em 15 dias. O valor seria de R$ 5.700 por dia/leito. Mas a proposta foi rejeitada pelo Iges-DF com o argumento que o prazo de instalação não poderia ultrapassar 7 dias por se tratar de “urgência máxima”
O MPDFT detalhou que a Oati, terceira colocada, foi então convocada, e apresentou proposta no valor de R$ 5.857,02 por dia/leito. A presidência do Iges-DF solicitou urgência ao setor responsável e fechou contrato com a empresa para a gestão de 20 leitos de UTI no Hospital de Base.
Em junho, novo aditivo contratou mais 20 leitos da Oati pelo valor de R$ 5 mil por dia/leito. Esse aditivo representa aumento de 100% em relação ao contrato inicial com a empresa, o que não é permitido pela Lei de Licitações.
A Prosus também verificou que, à época, estava aberto o processo seletivo para contratação de outros 40 leitos de UTI e que, por isso, não haveria justificativa para a assinatura do termo aditivo. De acordo com a recomendação, o valor praticado pela Oati “é expressivamente superior ao praticado pela 1ª colocada, em evidente violação ao princípio da economicidade”.
Ethon
O nome da operação faz alusão a Ethon que, segundo a mitologia grega, era o abutre enviado por Zeus diariamente ao monte Cáucaso para devorar o fígado de Prometeu. O fígado de Prometeu se reconstituía completamente para, no dia seguinte, voltar a ser devorado por Ethon.
O outro lado
O Metrópoles acionou a defesa dos investigados na ação do MPDFT, mas, até a última atualização desta reportagem, ninguém havia se manifestado. O espaço segue aberto para possíveis declarações.
Por meio de nota, o Iges-DF comentou a operação deflagrada nesta quarta e justificou que os contratos em questão “foram firmados em gestões anteriores, antes de março de 2021, quando a atual direção assumiu a instituição”.
Segundo o instituto, ações de controle interno promovendo auditorias em todos os contratos firmados têm sido realizadas. “Esse trabalho vem sendo feito rigorosamente pela Controladoria Interna. Caso sejam identificadas irregularidades, providências serão adotadas para solucioná-las”, disse, ainda em nota.