“Me ensinou tudo o que sei”, diz aluno de idoso morto em acidente
Senhor de 74 anos está entre as 6 vítimas do acidente; sepultamento ocorreu nesse sábado (25/12), no cemitério do Gama
atualizado
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“Seu Joaquim foi um cara incrível para mim. Além de aprender a jogar futebol, eu aprendi a ser homem.” O relato é de José Wilke Batista. Com 25 anos atualmente, ele passou pelo menos cinco na companhia de José Joaquim de Macedo, de 74 anos, uma das 6 vítimas fatais do acidente ocorrido com um ônibus na BR-153, próximo a Aparecida de Goiânia, na última sexta (24/12).
Joaquim foi sepultado na tarde desse sábado no cemitério do Gama. Hoje, almoxarife de obras, Wilke se declara ao mestre: “Me ensinou tudo o que eu sei”.
“Eu cheguei do Ceará com 13 anos, que já é uma idade avançada para quem quer ser profissional, mas ele sempre me deu oportunidade. Bola, educação, ele ensinou muito. Sempre pegava as notas do colégio para saber como a gente estava nos estudos. O exemplo que ele passou para a gente vai influenciar muitas pessoas. Tem muitos alunos que seguem o exemplo dele e estão subindo na vida, era o exemplo que a gente não tinha, de seguir certo, continuar na escola”, lembrou Wilke ao Metrópoles.
Professor de futebol e atualmente gerente de futebol do Legião Futebol Clube, da segunda divisão candanga, Leandro Marques ficou inconformado com o acidente que dizimou a vida de Joaquim. “A gente está triste, mas não pela morte, que é normal. É pela forma. Ele não merecia. A gente esperaria um infarto, uma coisa mais natural. Pessoa igual ele não merece uma morte tão trágica assim”, lamentou o “Professor Peñarol”, como é conhecido no meio.
Para ele, a ausência de José Joaquim será sentida de várias formas. “Ninguém fazia o que ele fazia. Ele cuidava da questão disciplinar. O pessoal gostava muito dele por causa disso. Como professor de futebol, a gente treina mais taticamente, quer ganhar campeonatos, e o seu Joaquim visava mais a formação de uma pessoa. No nosso projeto, muitos alunos não viraram jogadores, mas casaram, são pais, se formaram”, relembrou Marques.
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Dentro de casa
Durante as despedidas, a família ainda tentava assimilar o acidente que vitimou Joaquim. A companheira do idoso, Maria do Carmo, 69, ainda busca uma maneira de seguir a vida. “Difícil, né? Mas tem que levar. Tenho dois filhos com ele, já são maiores, tenho minhas 3 netinhas, os xodós dele. Ele nunca teve filha mulher, então dava todo o carinho a elas. Foi uma fatalidade isso”, lamentou a senhora.
Filho de Joaquim, Vanderlei Macedo, 39, também luta para manter viva a lembrança do pai. “As memórias que ficam é de um senhor trabalhador, um superpai, um avô maravilhoso. Tinha um amor enorme pelas netas. Batalhou muito no meio esportivo no Gama, no Entorno. Muito impactante”, disse o homem em conversa com a reportagem.
Morto na madrugada do Natal, quando se encaminhava para celebrar a data, José Joaquim tornou a ocasião mais solene para a família.
“É uma coisa que não vai sair da nossa lembrança. Todo dia 24 a gente vai lembrar dele, uma pessoa carismática, alegre. Tirou muitos jovens da criminalidade, das drogas. Agora é tentar guardar essa memória e tornar essa data ainda mais especial, que foi a data da despedida, da saudade”, assinalou Vanderlei.
O acidente
O veículo da Real Expresso saiu de São Paulo (SP) com destino a Brasília (DF) e bateu, por volta das 2h, em um caminhão e uma viatura da concessionária que administra o trecho da BR-153. O ônibus despencou por uma ribanceira, parando somente no leito do córrego. O local é próximo ao ponto em que o piso da rodovia erodiu no último domingo (19/12), após fortes chuvas.
O Metrópoles acompanhou o trabalho da equipe de resgate para içar o ônibus da água. Os dois sentidos da BR-153 ficaram bloqueados para a operação de retirada do veículo do local. O trânsito só foi liberado no início da tarde de sábado.