“Me arrependi”, diz PM que apontou arma e enforcou empresária
O policial militar afirma que “cometeu um excesso” ao cobrar dívida de R$ 40 mil da vítima, no Riacho Fundo
atualizado
Compartilhar notícia
Em entrevista ao Metrópoles, o policial militar Osiel Alves da Silva, 41 anos, afirma que se arrependeu de apontar arma e enforcar uma mulher no Riacho Fundo, no Distrito Federal, na tarde de quarta-feira (13/10). Câmeras de segurança registraram o momento em que o acusado agride a vítima. O PM alega que “cometeu um excesso” ao cobrar dívida de R$ 40 mil.
Conforme o Metrópoles revelou nesta quinta-feira (14/10), a empresária viveu momentos de terror depois de ser espancada e enforcada, e de permanecer sob a mira de uma pistola. Lotado no 17º Batalhão de Águas Claras, Silva afirma que foi agredido e se sentiu ameaçado pela mulher. Ele argumenta “exercício arbitrário das próprias razões e lesão corporal recíproca”.
“Ela disse que era estelionatária e que não iria pagar. Começamos a discutir. Se reparar bem na imagem, é possível ver que, antes de eu apontar o simulacro (réplica), ela tenta pegar uma faca para me acertar. Outra reação foi antes do mata-leão, ela também tentou acertar a minha cabeça. Reconheço e sei que cometi excessos. Me arrependi. Foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu. Fiz questão de registrar ocorrência e reconhecer o meu erro. Inclusive, cheguei à delegacia primeiro”, explicou o PM.
Procurado pela reportagem, Silva ressaltou que estava armado com um canivete e um simulacro. Ele nega que a arma da corporação tenha sido usada nas agressões. “Estava saindo de um evento e portava esse simulacro, com uma ponta vermelha. Ainda bem que ela não veio novamente para cima de mim, senão teríamos que resolver no corpo a corpo”, justificou.
Veja imagens da agressão:
Briga
Segundo a vítima, ela informou que não poderia quitar o valor integral e sugeriu o parcelamento do passivo. Contrariado, o sargento discutiu com a mulher, exigindo a quantia na totalidade.
A discussão acalorada transformou-se em agressão quando o militar disse que levaria todos os objetos da sala comercial. Havia grande quantidade de moeda estrangeira, pedras preciosas e cheques de altos valores, além de aparelhos eletrônicos.
Enforcamento
Quando a empresária do ramo têxtil impediu a ação e tentou retirar o militar do escritório, uma luta corporal teve início. Com o intuito de evitar que o dinheiro fosse levado, a mulher segurou a blusa do sargento, que reagiu torcendo os braços dela, jogando-a no chão e, depois, arrastando-a pelos cabelos.
Em uma antessala, o policial aplica um mata-leão na mulher, além de virá-la de costas e torcer os braços dela, dando a impressão de que a algemaria. Irritado, ele levanta a vítima pelos cabelos e chega a sacar a pistola, apontando a arma para a cabeça da empresária quando ela esboça reação de defesa.
Em seguida, o praça da PMDF recolhe dólares, euros, folhas de cheque preenchidos de altos valores, computador, celular e a bolsa da vítima, da marca Louis Vuitton. Antes de deixar o local, o policial trancou a empresária dentro da sala e levou a chave. Ela só conseguiu sair minutos depois, após chamar a atenção de funcionários que estavam em outro andar.
Apresentação
O sargento apresentou-se à 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) e entregou dinheiro e cheques que havia pegado na sala da empresária. Policiais militares da Corregedoria da PMDF estiveram no local para acompanhar o andamento da ocorrência.
A empresária foi ouvida em termo de declaração e apresentou sua versão dos fatos. Segundo ela, cerca de US$ 2 mil, uma folha de cheque preenchida e uma pedra de diamante certificada no valor de US$ 15 mil desapareceram. A vítima fará exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML) nesta quinta-feira (14/10).
Como se apresentou espontaneamente, escapando do flagrante, o policial responderá em liberdade.
A PMDF informou que “abrirá o devido processo para apurar a conduta do policial e, até que os fatos sejam elucidados, medidas cautelares serão adotadas, e o policial será afastado das atividades de policiamento”.
O outro lado
Em nota enviada ao Metrópoles, a defesa do PM alegou que a empresa da vítima “acumulou uma dívida de US$ 8 mil e se indispôs a liquidá-la, apesar de protelar o pagamento há cerca de 2 anos com promessas semanais de pagamento. Diante dos fatos, Osiel foi conversar com ela (empresária), como já havia feito antes e sem esperar ter um final trágico. Primeiro, ela o puxou pelo braço e afirmou que deveria arcar com o prejuízo, e ela anunciou que é uma estelionatária. Diante do ocorrido, Osiel ficou enfurecido”.
Além disso, o policial argumentou que sofreu ameaças. “Quando foi ameaçado com uma faca, sacou um simulacro para a mulher, que abaixou a faca ao se intimidar. Quando foi agredido na cabeça por trás, aplicou o golpe mata-leão. [O PM afirmou] Que, em momento algum, puxou-a pelo cabelo. Que pegou alguns pertences e, imediatamente, arrependeu-se de haver se exaltado e deslocou-se à 21ª DP para registro da ocorrência de exercício arbitrário das próprias razões e lesão corporal recíproca. Informa que foi ao IML ontem à noite e que vai entrar com bloqueio judicial dos bens e contas até total liquidação da dívida.”