Marcha das Mulheres Negras reúne cerca de 10 mil pessoas na área central de Brasília
Policial reformado do Maranhão, que defende a intervenção militar, dispara para o alto e é detido pela PM. Ele já havia sido preso na semana passada
atualizado
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A Marcha das Mulheres Negras reúne cerca de 10 mil mulheres na área central de Brasília nesta quarta-feira (18/11), segundo a Polícia Militar. As manifestantes estavam concentradas no Ginásio Nilson Nelson e seguiram pela Esplanada dos Ministérios. Ao chegar no Congresso Nacional, foram confrontadas pelos manifestantes que pedem a intervenção militar e cobram a saída da presidente Dilma Rousseff. Uma grande confusão se formou.
A Polícia Militar usou spray de pimenta para conter o tumulto e o incidente causou discussão no plenário do Congresso. Parlamentares pró-Dilma e a favor do impeachment trocaram acusações. Segundo relatos, foram dados tiros para o alto e usadas bombas caseiras.
Os intervencionistas acusaram os integrantes da marcha de destruírem barracas e o boneco inflável gigante do general Antonio Hamilton Martins Mourão. Membros da passeata, por sua vez, acusaram os intervencionistas de atirar e jogar bombinhas nos integrantes do ato. O policial civil do Maranhão Marcelo Penha foi detido pela PM e encaminhado à 5ª Delegacia de Polícia (área central). Ele foi autuado por uso de arma de fogo sem estar em serviço e por disparar em via pública.
Veja vídeo de quando Marcelo foi detido na semana passada:
Ele disse ao Metrópoles que integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) atiraram um rojão contra ele, que, com medo de ser agredido, efetuou quatro disparos para o alto. “Foi a forma que encontrei para chamar a atenção dos policiais e eles me salvassem”, justificou. Penha chegou a ser detido na semana passada por conta da arma, mas foi liberado em seguida pela Corregedoria da corporação, depois de explicar que estava de férias em Brasília.
Spray de pimenta
O major explicou ainda que, para evitar o contato corporal com os manifestantes, a polícia teve de usar spray de pimenta para dispersar a confusão. O spray também atingiu jornalistas e deputados que foram ao protesto para averiguar o que estava acontecendo, entre eles, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
O petista retornou à Câmara com os olhos irritados e lacrimejando. Ele explicou que foi ao local da confusão por ser presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. “Me pegaram por trás, não deu para ver nada”, afirmou, antes de ser atendido no posto médico da Casa.
Segunda confusão
Quando finalmente a confusão entre os integrantes da marcha e os manifestantes que pedem a intervenção militar acabou, um novo protesto ocorreu no gramado em frente ao Senado. Um homem disparou três tiros e foi preso pela PM. Segundo o major Juliano Farias, foi o mesmo detido na noite da última sexta-feira (13), com um revólver.
Logo em seguida aos disparos, integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) desceram para o gramado e tentaram arrancar a faixa pedindo o impeachment instalada por movimentos acampados no local há quase um mês, mas foram contidos pela Polícia Militar e pela Polícia Legislativa.
Plenário
No plenário, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) alegou que integrantes da Marcha das Mulheres Negras foram agredidas por manifestantes pró-impeachment que estão acampados em frente ao Congresso Nacional. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informou que a retirada dos acampados deve ser fruto de decisão conjunta dos presidentes da Câmara e do Senado. “Vou pedir à PM e à PF que investigue a existência de armas com manifestantes”, informou.
Depois da confusão, a marcha iniciou o retorno para o Ginásio Nilson Nelson, onde estão instaladas as mulheres. Quatro faixas do Eixo Monumental, no sentido Palácio do Buriti, foram interditadas para o deslocamento.
Desigualdade
A marcha foi idealizada para juntar o maior número possível de organizações de mulheres negras do país a fim de defender a equidade racial, social e de gênero. Outros movimentos de mulheres também participam. A ministra Nilma Lino Gomes, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, discursou no evento.
As mulheres negras são 49 milhões no Brasil. De acordo com a organização, o racismo, o machismo, a pobreza e as desigualdades social e econômica prejudicam a vida dessas famílias. Questões como a dificuldade para entrar no mercado de trabalho, os salários menores, a construção negativa da imagem da mulher negra, a construção do papel social e do direito, ainda não respeitado, estão no centro da movimentação.
A Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras tem como missão promover a ação política de entidades na luta contra o racismo, o sexismo, a opressão de classe, a lesbofobia e outras formas de discriminação. É formada por 27 organizações distribuídas por todo o país.
“A marcha tem caráter declaratório, para trazer as denúncias quanto à situação da mulher negra no país. Infelizmente, ainda ocupamos as últimas posições na estrutura social. Acreditamos que, como parte representativa do povo brasileiro, merecemos uma melhor distribuição social. Além disso, buscamos o enfrentamento contra o racismo e a violência contra a mulher. Desejamos o bem viver de todas”, afirma Carmen Foro, vice-presidente da CUT e uma das organizadoras da marcha. Com informações da Agência Estado