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Mapa das Desigualdades revela abismo social entre regiões do DF

Falta de acesso a serviços e à cultura é uma realidade para moradores de cidades carentes. No polo oposto está o rico Plano Piloto (foto)

atualizado

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André Borges/Agência Brasília
vista aérea de brasília estádio mane garrincha
1 de 1 vista aérea de brasília estádio mane garrincha - Foto: André Borges/Agência Brasília

Aos 50 anos, João Lino Oliveira, morador da Estrutural, foi ao cinema apenas duas vezes. Vendedor ambulante, não tem acesso a plano de saúde e, portanto, reúne pelo menos duas das principais características comuns à maioria da população da cidade, considerada uma das mais carentes do DF. O abismo social entre a região e o Plano Piloto foi revelado em um Mapa da Desigualdade chamado de “desigualtômetro”.

A medição social foi feita pelo Movimento Nossa Brasília, o Instituto de Estudos Socioeconômicos ( Inesc) e a Oxfam Brasil e divulgada recentemente. O estudo se propôs a comparar dados sobre mobilidade urbana, saúde, educação, cultura, saneamento básico e meio ambiente, segurança pública e trabalho e renda de diferentes regiões. Os primeiros números obtidos são de Samambaia, São Sebastião e Cidade Estrutural, onde João Lino mora há 17 anos.

A partir do “desigualtômetro”, termo criado pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, o mapa mostra diferenças significativas no acesso a determinados bens e serviços entre os moradores da região central e das áreas periféricas no Distrito Federal.

Nathália Cardim/Metrópoles
João Lino Oliveira, 50 anos, só foi ao cinema duas vezes na vida

Um dos indicadores que chamou a atenção dos pesquisadores foi a taxa de escolaridade da população de cada região. Enquanto no Plano Piloto somente 0,4% da população é analfabeta, na Estrutural, esse índice é de 5,8%.

Na área de saúde, o mapa aponta que o “desigualtômetro” do Plano Piloto chega a ser 15 vezes superior à região da Estrutural. Na região central, 84,4% dos moradores possuem plano de saúde enquanto na Estrutural, esse número é de 5,6%.

Outra disparidade que chama a atenção. Assim como João Lino, 89% dos moradores da Estrutural não vão ao cinema. No Plano Piloto, ocorre exatamente o contrário: 71% dizem que têm esse como um de seus programas culturais. Em São Sebastião, esse número cai para 17% e, em Samambaia, 35% (confira indicadores).

João Lino reclama da falta de investimentos em educação, saúde e saneamento básico na região. “Está tudo concentrado no Plano. Nós ficamos completamente desamparados. A classe que mora aqui é a de pessoas que não têm oportunidade. Falta de tudo. Desde postos de saúde a escolas suficientes para atender todos. O governo está neutro à nossa situação”, desabafou.

O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria das Cidades, no entanto, até a publicação desta matéria, não havia recebido resposta.

Os números do mapa foram feitos com base no Censo 2010 do IBGE, na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) da Codeplan do DF e no Fundo de Apoio à Cultura (FAC), também do DF.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Invasão no Distrito Federal: pobreza na capital do país

 

Cenário
A pesquisa foi desenvolvida de forma colaborativa. Oficinas abertas nas três regiões contaram com a participação de movimentos sociais para a elaboração do mapa. As atividades começaram com letras musicais de artistas locais.

Em Samambaia, o tema escolhido foi “O Chafariz”, do rapper Markão Aborígine, que retrata diversos aspectos sociais, políticos e culturais da cidade. Em São Sebastião, a música utilizada foi “Imagem de Rua”, do grupo SOS Periferia, clássico da cidade (assista ao vídeo abaixo).

Na Cidade Estrutural, o som do grupo Visão Realista “Na Quebrada” complementou a crítica a atual situação das periferias brasileiras.

 

Crescimento desordenado
Para o professor de sociologia Bruno Borges, o cenário de desigualdade no DF pode ser uma consequência do crescimento desordenado das regiões e o aumento da criminalidade nas cidades. “Brasília tem hoje o maior PIB do país, só que isso não se estende às demais cidades do DF e Entorno”, disse.

Segundo Borges, trabalhar a desigualdade social e direitos humanos tem se tornado uma prática cada vez mais necessária. “O maior desafio do DF é superar a pobreza, para fazer com que a desigualdade social diminua. Além disso, o papel do Estado é de minimizar as diferenças através de políticas públicas”.

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