Mais de 55 mil crianças de até 9 anos sofrem com obesidade no DF
A maioria, ou seja, 40,8 mil crianças, têm menos de 5 anos. Dados são de sistema de vigilância alimentar do Ministério da Saúde
atualizado
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No Distrito Federal, mais de 55 mil crianças de até 9 anos estão obesas. Os dados são divididos entre crianças menores de 5 anos – que somam 40,8 mil pessoas – e as que estão na faixa etária de 5 a 9 anos, com 15 mil pequenos dentro do quadro de obesidade. As informações são do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, do Ministério da Saúde.
O Brasil tem, atualmente, 399,9 mil crianças nessas faixas etárias, segundo o Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (Iped/DF). As que participaram do estudo correspondem a 3,59% e 17,2% do total, nas idades pesquisadas.
Os índices são maiores que os registrados em 2020, quando 1.792 crianças com menos de 10 anos eram consideradas obesas.
Além da alimentação, a obesidade pode ser desencadeada por outras doenças. É o caso de André*, 8 anos. A mãe do menino, Bia*, 46, conta que a condição começou quando ele tinha quase 2 anos. “Ele desenvolveu uma síndrome nefrítica entre 1 e 2 anos de idade. Desde então, faz uso de remédios como o corticoide, que, quando usado em grandes dosagens, pode causar obesidade infantil. Ele atingiu o nível máximo de dosagem e começou a engordar muito”, explica.
Apesar da condição de André ser causada pelo uso de medicamentos, ele sofre com comentários maldosos sobre o peso e outros empecilhos no dia a dia.
“Esses dias ele me contou que um colega da escola disse que ele estava muito gordo. A sorte é que ele é muito tranquilo em relação a isso. O André respondeu: ‘Estou, mas estou me preparando para ser lutador de sumô’. Em lojas, por exemplo, uma criança que gosta de roupas infantis, com personagens, por exemplo, não consegue comprar porque as roupas não cabem. Ele tem que usar roupa de adulto. Imagina isso, um menino de 8 anos, 1,33m de altura e usando roupa de adulto. É constrangedor. Ele sofre muito com isso. Tem que ter apoio psicológico e da família”.
Evolução
Darlene Lopes, 33, é mãe de Larissa, que hoje tem 12 anos. A menina sofre com sobrepeso desde os 4 anos. “Ela já nasceu com alguns problemas no rim e, com 4 anos já estava acima do peso. Tinha pressão alta, era pré-diabética”, diz Darlene.
As duas começaram a ter um acompanhamento nutricional e, então, perceberam as mudanças. “Ela tinha muita dificuldade para perder peso. Sofria com bullying na escola por conta disso desde nova. Com o acompanhamento, vimos que a alimentação era toda bagunçada, ela não comia frutas nem vegetais, por exemplo”, comenta Darlene.
Ao longo dos anos, a menina conseguiu perder 15kg e Darlene comenta que a vida de todos da casa está mais saudável. “Mudou muito a qualidade de vida”.
Tratamentos
Larissa teve acompanhamento em um programa do Hospital da Criança de Brasília (HCB) de combate à obesidade infantil. Letícia Fernandes, nutricionista infantil e idealizadora do projeto Nutri-duni-tê, explica que o acompanhamento é importante para todas as crianças.
“O foco não é o peso. Ultimamente, as crianças andam comendo muito industrializados e processados que têm muitos corantes, aditivos, gorduras e açúcar. Elas acabam trocando comida de verdade por isso. Elas acabam comendo isso em grande quantidade e recusando frutas e verduras, que seriam importantes para o crescimento e o desenvolvimento delas”, diz.
A especialista ressalta que a família precisa ser um ponto de apoio para auxiliar na manutenção dos hábitos dos pequenos. “Existem crianças que são consideradas magras e estão com colesterol alto, por exemplo. Ter o apoio da família é fundamental para auxiliar na mudança de hábitos e o acompanhamento de um bom profissional pode facilitar isso”.
Quem também trabalha com o público infantil acima do peso é a pediatra e gastroenterologista pediátrica Jaqueline Rosa Naves, do HCB. Ela detalha que os impactos da obesidade em criança são muito maiores do que quando adquirida quando adulto. “É considerada uma urgência médica”, diz.
“Nosso programa do HCB consiste em uma equipe base de gastroenterologista pediatra, nutrição e psicologia e outras especialidades de acordo com a demanda de cada paciente. Tudo parte do entendimento familiar e reconhecimento do problema com a família. O programa funciona no Hospital da Criança e a solicitação de primeira consulta se dá por meio de encaminhamento de outras unidades de saúde do DF”, explica.
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que o atendimento a pacientes com obesidade é feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). A SES também conta com o Centro Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão arterial (CEDOH), que é referência para casos de diabetes, obesidade e hipertensão arterial grave para usuários residentes e domiciliados na Região Central de Saúde.
Sobrepeso e obesidade
Segundo o Ministério da Saúde, tanto o sobrepeso quanto a obesidade se referem ao acúmulo excessivo de gordura corporal. O que difere os dois conceitos é a quantidade desse excesso e, consequentemente, a gravidade.
O sobrepeso está relacionado a um percentual menor quando comparado à obesidade, que tem a quantidade de gordura maior e mais probabilidade de impactar na saúde como um todo.