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Maior evento de TI do mundo, que será no DF, tem elo com a Lava Jato

Congresso Mundial de Tecnologia da Informação (WCTI) está marcado para outubro. Presidente da entidade que fez lobby para trazer o encontro é apontado como operador de José Dirceu. Empresa de ex-secretário de Turismo vai organizar evento

atualizado

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WCIT/Divulgação
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1 de 1 wcit - Foto: WCIT/Divulgação

A Operação Lava Jato volta a se aproximar do Palácio do Buriti, depois das denúncias envolvendo um suposto pagamento de propina para a construção do estádio Mané Garrincha. O novelo que os investigadores desenrolam agora envolve nomes próximos da política local e um empresário apontado como operador do ex-ministro José Dirceu. O pivô desse caso é a preparação para o megaevento de tecnologia que a capital federal sediará neste ano, o (WCIT).

Ao longo de 2012, o Governo do DF, representado pelos então secretários de Turismo, Luís Otávio Neves, e de Ciência, Tecnologia e Inovação, deputado distrital distrital Cristiano Araújo (PSD), se empenhou em trazer o principal evento de Tecnologia de Informação do mundo para a capital brasileira. A articulação incluiu viagem ao Canadá e tinha o aval do governador da época, Agnelo Queiroz (PT), e do então senador Rodrigo Rollemberg (PSB), que havia indicado Luís Otávio, conhecido por Tavinho, para integrar a equipe do governo petista.

Pelo lado da iniciativa privada, quem tomou as rédeas do processo foi a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), com atuação destacada do seu então vice-presidente Jeovani Salomão, que hoje preside a entidade. No fim de 2012, Brasília foi oficializada como sede do evento, que será realizado em outubro deste ano. Cristiano Araújo lembra que Salomão foi fundamental para trazer o encontro para o DF e que o empresário se reunia constantemente com representantes do governo. “Ele teve papel estratégico pela posição que tinha com os sindicatos da área”, contou.

José Dirceu e empresa de fachada
Recentemente, no entanto, uma das associações de Salomão tem lançado desconfianças sobre o evento. Proprietário da Memora, da área de TI, ele foi citado em depoimento no âmbito da Operação Lava Jato como operador de uma empresa ligada ao ex-ministro José Dirceu, segundo declaração do ex-diretor da Ação Informática, Maurício Teixeira, que narrou o encontro dos dois.

O executivo disse que teria recebido indicação de Salomão para que a Ação fizesse um depósito para uma outra companhia, a empreiteira Credencial, como parte de uma suposta consultoria. Essa consultoria seria prestada como parte da concorrência em uma licitação de serviços de informática de mais de R$ 50 milhões com o Banco do Brasil.

A Credencial, no entanto, é uma empresa que não existe de fato. Com movimentação milionária, ela operou ao longo de anos sem ter um funcionário contratado sequer e já é alvo da Lava Jato por ser de fachada e ter feito depósitos à empresa JD Assessoria, pertencente a José Dirceu. Investigadores apontam a JD como empresa aberta pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil para receber propina desviada da Petrobras, no esquema de corrupção que extraviou bilhões de reais da petroleira.

Segundo descrição do juiz Sérgio Moro, em despacho de 19 de maio deste ano, a Credencial operava em favor do grupo político de Dirceu. Esses encontros entre Salomão e Teixeira teriam ocorrido em 2010. Na sequência, a Credencial recebeu R$ 4,9 milhões da Ação. Recentemente, a Ação foi vendida.

Imagine Cup Brasil/Divulgação
Jeovani Salomão, da Assespro

 

Baixa procura
Essa relação, segundo empresários da área tecnológica, tem afastado uma série de empresas do evento em Brasília, já que não querem suas marcas associadas ao WCIT. Discute-se, inclusive, até que ponto a realização do congresso pode ser prejudicada.

Em outras edições, o WCIT já contou com palestras de peso, como a da ex-primeira ministra da Inglaterra Margareth Thatcher e do ex-presidente russo Mikhail Gorbatchov. É uma questão, segundo dizem os empresários, de autopreservação. O evento que, segundo os organizadores, pretende receber ao menos 2,5 mil convidados, tem a dois meses da sua realização apenas 900 participações confirmadas.

A Memora confirma que prestou serviços à Ação Informática como parte dessa licitação. A companhia diz não ter feito transações comerciais com a Credencial, mas se nega a comentar a reunião de Salomão com Teixeira, narrada à PF, e tampouco se Salomão teria outras relações com a Credencial. Limita-se a declarar que “Salomão não fez práticas ilícitas”.

Organização pelo setor público
Se Jeovani Salomão foi o grande articulador da vinda do WCIT para Brasília no campo da iniciativa privada, na esfera pública quem mais atuou para trazer o megaevento foi Luís Otávio. Nada além do que se espera de um secretário de Turismo. A partir do fim do ano passado, contudo, uma operação pouco ortodoxa envolveu a sua empresa. A Auguri Promoções e Eventos Ltda foi contemplada com a organização do maior evento de TI do mundo — aquele mesmo do qual Tavinho participou na captação em 2012.

O empresário nega que haja conflito de interesses na história, dizendo que o processo todo foi transparente. “Nós apoiamos dezenas de eventos (na secretaria), de água a tecnologia. Esse foi um que nós (da Auguri) participamos de uma tomada de preços como qualquer outra, e foi muito posterior à minha saída do governo”, justificou Tavinho, cuja empresa hoje conta com nove empregados.

A contratação para o evento foi feita justamente pela Assespro, no mesmo ano que Salomão chegou à presidência da entidade. Procurada pelo Metrópoles, a Assespro nega qualquer relação entre o trabalho de Salomão e Tavinho na contratação de sua empresa, dizendo que o contrato foi baseado no oferecimento do menor preço.

Internet/Reprodução
Luís Otávio Neves, ex-secretário de Turismo

 

A remuneração do evento, segundo Tavinho, é em cima do “movimento”. Ele nega que tenha sentido uma retração na captação de participantes devido ao recente envolvimento de Salomão na Lava Jato. “Está tudo normal”, declara.

Ressalta, porém, que, caso seja confirmado que Salomão realmente operou para Dirceu e suas empresas, ele deveria ser afastado da Assespro. “Se esse negócio for provado, eu acho que ele vai sair, que ele não é a peça principal do evento”, disse Tavinho, após uma conversa com a reportagem na sede da sua empresa.

O governo do DF já destinou R$ 1.665.455 como taxa de realização do evento em 2013. Segundo a assessoria de imprensa do GDF, desde que Rollemberg assumiu o Executivo não houve nenhum repasse para o WCIT. De acordo com a assessoria, o governador se reuniu, em 2015, com Salomão para tratar do tema, mas frisou que esse foi o único encontro entre eles. Cristiano Araújo informou que, à época, não assinou documentos sobre o evento e tampouco discutiu quem seria contratado.

Mané Garrincha
Em maio deste ano, o conteúdo da delação premiada assinada por executivos da construtora Andrade Gutierrez, investigada na Operação Lava Jato, veio à tona envolvendo os nomes dos ex-governadores do DF, José Roberto Arruda, e Agnelo Queiroz (PT).

Clóvis Primo, um dos delatores e executivo da Andrade Gutierrez, afirmou que, antes mesmo da formação do consórcio que venceu a licitação para construir o estádio Mané Garrincha, já havia um acerto, em 2009, que determinava o recebimento de 1% do valor em propinas para o então governador Arruda. O consórcio que ergueu a arena era formado pela Andrade Gutierrez e pela Via Engenharia.

Mesmo após a prisão de Arruda, em 2010, o acordo de propina foi mantido, segundo a delação. Rogério Sá, outro executivo da Andrade Gutierrez, também afirmou que Agnelo Queiroz recebia propina de diretores da empreiteira. No caso do petista, no entanto, não havia, segundo a delação, um percentual estabelecido. Mas, segundo Rogério Sá, Agnelo teria pedido valores para o PT.

À época, Arruda e Agnelo negaram o recebimento de propina.

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