Maior boca de fumo da Asa Sul também esconde canis clandestinos
Para evitar a prisão de usuários que possam vir a delatar os traficantes da Cobra Coral, a ordem é que todos consumam as drogas no local
atualizado
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Encastelada em uma densa vegetação cercada por muros de alvenaria e alumínio, a invasão conhecida como Vila Cobra Coral é apontada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) como o maior ponto distribuidor e de consumo de drogas da Asa Sul. Erguidos há mais de 40 anos em torno de um centro espírita, casebres e barracos de pau a pique passaram a abrigar integrantes de uma associação criminosa especializada no tráfico de crack e na criação clandestina de cães da raça american bully.
Instaladas no coração da capital federal e ocupando área de 47 mil metros quadrados numa das regiões mais valorizadas do Plano Piloto, as cercanias da Vila Cobra Coral são vigiadas 24 horas por olheiros que vivem nos barracos. Investigações conduzidas por policiais da Seção de Repressão às Drogas (SRD), da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), identificaram que a invasão é o principal reduto de usuários ávidos pelas pedras amareladas.
O local, que se organizou para resguardar o esquema que fomenta o tráfico realizado entre as vielas, já foi alvo de várias operações policiais. Para evitar a prisão de usuários que possam vir a delatar os traficantes da Cobra Coral, a ordem dos criminosos é que todos consumam os entorpecentes dentro de barracos e em outros pontos espalhados pela invasão.
Veja imagens de um dos canis clandestinos:
Canis do tráfico
De acordo com as diligências policiais, um casal preso recentemente comandava o esquema que alimenta a venda das pedras para usuários da Asa Sul. Ednaldo Francisco dos Santos, 44 anos, e Cremilda Barreto dos Santos, 39, são os cabeças da associação criminosa instalada na Cobra Coral. Além de parentes, como uma filha de 22 anos, outros moradores do local integram o bando, que tem divisão clara de tarefas.
O avanço do tráfico e o lucro amealhado com a venda de crack fizeram com que os criminosos investissem recursos para girar a economia dentro da invasão, como a abertura de bares, minimercados e outras modalidades de prestação de serviços. Entre as atividades alheias ao tráfico, a quadrilha construiu canis e baias de concreto para criar cães da raça american bully. Um filhote pode ter preços variados, a depender de seu tamanho e de seu subtipo. O valor gira em torno de R$ 2,5 mil, mas chega a custar até R$ 5 mil.
Por meio de uma área de Cerrado, a reportagem do Metrópoles chegou até os fundos de uma casa que abrigava um dos canis que funcionam dentro da Cobra Coral. Em péssimas condições, o terreno contava com baias improvisadas, e algumas delas tinham chapas de alumínio para manter os cães em confinamento. Foram identificados pelo menos dois canis clandestinos dentro da invasão, além de barracos usados para manter os animais mais novos antes de serem vendidos.
Combate
O delegado adjunto da 1ª DP, Maurício Iacozzilli, reforçou que a associação criminosa é responsável pela maioria do crack consumido na Asa Sul. “Operações desencadeadas pela unidade resultaram na prisão do casal que comandava o tráfico dentro da Cobra Coral. Além do Ednaldo e da Cremilda, ainda predemos, recentemente, o braço direito deles. No entanto, ainda existem outros cinco suspeitos que estão em liberdade mantendo o fornecimento de drogas”, disse.
Além do tráfico de drogas, os integrantes da organização que moram na invasão e os usuários que orbitam os pontos de venda de entorpecentes são responsáveis por outros delitos registrados na Asa Sul, como roubos e furtos. “Onde há o tráfico de drogas, existem crimes contra o patrimônio cometidos por usuários para manter o vício. É um combate diário que travamos com os criminosos que usam a invasão para se esconder e fomentar o tráfico de entorpecentes”, destacou o delegado.
O Metrópoles apurou que, de acordo com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT), a ocupação, localizada ao lado da Embaixada da China, não pertence a nenhum Setor Habitacional de Regularização nem faz parte das estratégias definidas como Áreas de Regularização de Interesse Social ou Específico (ARIS ou ARINE) ou, ainda, como Parcelamento Urbano Isolado (PUI).