Máfia dos Concursos cobrava R$ 120 mil para vaga de professor no GDF
Sete servidores foram presos nesta quarta-feira (28/3) pela Polícia Civil, na terceira fase da Operação Panoptes
atualizado
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De olho em um salário inicial de R$ 4,8 mil, candidatos aliciados pela Máfia dos Concursos concordaram em pagar R$ 120 mil para garantir uma vaga de professor no quadro efetivo da Secretaria de Educação do DF. O problema é que a casa caiu. Sete deles foram presos nesta quarta-feira (28/3) pela Polícia Civil, na terceira fase da Operação Panoptes.
Outros dois servidores administrativos também acabaram na cadeia por contarem com “ajuda” do esquema. Todos serão alvos de processos administrativos e exonerados, segundo o GDF.
Nesta fase, os alvos são os candidatos, já que os líderes, aliciadores e integrantes de bancas organizadoras de concursos foram presos nas etapas anteriores da Panoptes, em agosto e outubro do ano passado.
De acordo com o delegado Valente, os fraudadores foram identificados porque tiraram notas altas na redação e na prova objetiva, mas durante a investigação ficou provado que eles não tinham o conhecimento necessário para o exercício do cargo. Alguns chegaram a cometer erros crassos de concordância, embora estivessem em sala de aula na função de ensinar crianças e adolescentes.
O policial explicou que a descoberta dos candidatos envolvidos nas fraudes do certame da Secretaria de Educação foi possível graças a uma ajuda da banca organizadora (Cebraspe), conhecendo os mecanismos de correção e perfil dos candidatos. Denúncias anônimas também colaboraram.
Gabaritos alterados
O start da investigação ocorreu a partir da prisão de Ricardo Silva do Nascimento, ex-funcionário da banca, em outubro. Conforme as apurações, ele preenchia os gabaritos dentro da instituição vinculada à Universidade de Brasília (UnB).
Ele alterava os gabaritos de quem comprava a vaga, conseguindo a aprovação dos mesmos após a prova. O candidato combinava o preenchimento dos gabaritos das provas objetivas com apenas quatro ou cinco itens. Isso facilitava a identificação deles por parte do funcionário do Cebraspe. O mesmo ocorria com a prova subjetiva e redações incompletas.
Durante as investigações da Panoptes (referência ao monstro da mitologia que tinha 100 olhos), a PCDF identificou, pelo menos, mais três modus operandi da quadrilha. O grupo agia com a utilização de pontos eletrônicos, uso de identidades falsas para que outras pessoas fizessem a prova no lugar dos inscritos, além de celulares.
Uma das pessoas que fraudou o concurso da Educação se apresentou à Draco e não foi alvo de prisão preventiva. Nas próprias oitivas, parte dos indiciados admitiram o crime. Eles vão responder pelo artigo 311-A do Código Penal (fraude à certame de interesse público) e pela participação na organização criminosa.
Helio Ortiz
A primeira fase da operação foi deflagrada em 21 de agosto do ano passado. Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra Helio Garcia Ortiz, o filho dele, Bruno de Castro Garcia Ortiz, Johann Gutemberg dos Santos e Rafael Rodrigues da Silva Matias.
Helio Ortiz é considerado o chefe da organização criminosa. Bruno, segundo a polícia, agia de forma operacional; Rafael seria seu braço direito; e Johann facilitava o esquema fornecendo graduação e pós a quem precisasse e pagasse bem.
Em outubro, ocorreu a segunda fase da operação. Na ocasião, a PCDF desarticulou um grupo que pretendia fraudar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por meio de ponto eletrônico. O ex-funcionário do Cespe (atual Cebraspe) Ricardo Silva do Nascimento foi preso preventivamente.
Histórico
Em 2009, o ex-técnico judiciário do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) Helio Garcia Ortiz foi indiciado pela Polícia Federal por falsificação de documento público, estelionato, falsidade ideológica e uso de documento falso. Além disso, foi acusado de liderar a Máfia dos Concursos e cometer uma série de crimes em processos seletivos públicos no Distrito Federal.
Em maio de 2006, Helio Ortiz foi alvo da Operação Galileu, deflagrada pela Polícia Civil do DF, após suspeita de fraude do concurso da própria corporação, realizado em 2004. Na época, ele foi acusado de burlar 12 certames.