Máfia das Próteses: PCDF apura se farmácia é usada para lavar dinheiro
Documentos apreendidos em drogaria do pai de um dos médicos detidos reforçam a desconfiança de que o estabelecimento seria apenas de fachada
atualizado
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Durante a deflagração da quinta fase da Operação Mr. Hyde, na manhã desta sexta-feira (03/05/2019), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apreendeu cerca de 3 mil ampolas de anabolizantes, R$ 70 mil em espécie e documentos que podem indicar que os suspeitos abriram clínicas e uma farmácia para lavar dinheiro do esquema criminoso responsável por mutilar centenas de pacientes submetidos a procedimentos desnecessários.
A drogaria funciona em Sobradinho e está registrada em nome do pai de um dos médicos detidos pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).
Os três médicos levados à prisão já haviam sido investigados na primeira fase da Mr. Hyde, em 2016, por seus nomes constarem em uma planilha como beneficiários de propina em troca de indicação da empresa TM Medical como fornecedora de materiais em suas cirurgias.
A TM Medical é de propriedade de Johnny Wesley Gonçalves, apontado pelas autoridades como líder da organização. O grupo criminoso teria movimentado milhões de reais em cirurgias, equipamentos e propinas.
Há casos de pacientes que foram submetidos a procedimentos desnecessários, como sucessivas cirurgias. Dessa forma, os suspeitos tinham mais lucro. Em outras situações, conforme revelado pelas investigações, eram utilizados produtos vencidos e feita a troca de próteses mais caras por outras, baratas.
Superfaturamento
Conforme apurado pela Cecor, há fortes indícios de que o grupo detido nesta sexta (03/05/2019) passou a controlar o mercado negro de cirurgias ortopédicas sem necessidade, após a prisão do grupo de Johnny Wesley. A atual quadrilha tinha o costume de superfaturar equipamentos e materiais. Um parafuso usado em cirurgias, por exemplo, que custa em média R$ 104, era repassado por R$ 2,5 mil.
Prisões e mandados de busca
Seis mandados de prisão e 15 de busca e apreensão foram cumpridos por policiais da Cecor, no Distrito Federal e em São Paulo, nesta sexta (03/05/2019). Entre os detidos estão três médicos e três funcionários de clínicas. Além dos R$ 70 mil em espécie, um veículo da marca Porsche, modelo Cayenne, está entre os bens apreendidos. O carro, avaliado em R$ 130 mil, está em nome da empresa A&C Clínica Médica Ltda., localizada em Sobradinho.
De acordo com os investigadores, a máfia faturava com o fornecimento de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs) ao grupo. Quanto mais equipamentos caros eram usados em cirurgias para colocação desses materiais, maior era a propina recebida por médicos envolvidos no esquema. Eles chegavam a faturar 30% extras sobre o valor pago pelos planos de saúde pela intervenção nos pacientes.
Desde que o caso veio à tona com a deflagração da primeira fase, em 1º de setembro de 2016, centenas de vítimas do esquema procuraram a polícia para prestar depoimento. Os relatos incluem mutilações e tentativa de homicídio, segundo consta no inquérito. Naquela data, 13 pessoas foram presas, incluindo médicos acusados de participar do esquema.
Novas fases
Em outubro de 2016, o alvo da segunda fase da Mr. Hyde foi o Hospital Daher. De acordo com as investigações, o dono da unidade de saúde, José Carlos Daher, teria participação ativa no esquema. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) chegou a pedir a prisão temporária dele por suspeita de destruição de provas, mas a solicitação foi negada pela Justiça. No entanto, o empresário, de 71 anos, foi detido por posse ilegal de uma pistola de uso restrito do Exército e das polícias Federal e Militar.
Na terceira fase da Mr. Hyde, a polícia prendeu o médico Fabiano Duarte Dutra por suspeita de atear fogo em documentos que poderiam servir como provas. Após a prisão, ele foi exonerado do cargo de coordenador de Ortopedia da Secretaria de Saúde do DF. Na época, a pasta informou não haver indícios de que as práticas ilegais também ocorressem na rede pública.
Em novembro de 2016, foi deflagrada a quarta fase. A operação foi acompanhada pela Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Os investigadores cumpriram dois mandados de busca e apreensão e dois mandados de condução coercitiva em cumprimento à decisão da 2ª Vara Criminal de Brasília.
Eles apuraram a atuação dos médicos Marcelo Gonzaga Peres e Marco Antônio Alencar de Almeida, integrantes do plano de saúde da PMDF. Os envolvidos tinham participação direta na concessão de autorizações para cirurgias pelo plano de saúde.