Mães de alunos humilhados por professora protestam em escola: “Queremos respostas”
Munidas de cartazes, mães de crianças especiais cobravam resposta sobre o pedido afastamento da diretora da unidade por possível omissão
atualizado
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Mães de alunos da Escola Classe (EC) nº 08, do Guará, compareceram à unidade regional de ensino da região, na tarde desta sexta-feira (7/7), e fizeram um protesto após o Metrópoles revelar que uma professora humilhava alunos especiais durantes as aulas. O caso é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Munidas de cartazes, as mulheres de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) cobravam uma resposta da Regional de Ensino sobre o pedido de afastamento da diretora da unidade por uma possível omissão diante do que foi revelado nas gravações.
“Nós viemos para cá manifestar para que eles saibam que não é um caso pontual, mas sim uma insatisfação coletiva. Nós viemos para cá ter uma resposta [sobre o pedido de afastamento]”, explica Marina Valente, 34 anos, mãe responsável pelas gravações.
Os áudios gravados são de três dias: 5, 9 e 12 de junho de 2023. Marina usou um tablet guardado na mochila do filho de 11 anos para registrar as aulas da criança ao perceber que o menino apresentava comportamentos incomuns em casa.
O aparelho registrou momentos de humilhações vividas pelo filho e outros três colegas de turma. Aos berros, a professora das crianças, Samantha Christine Soares Gurgel, foi gravada enquanto ameaçava e depreciava estudantes com TEA.
Veja como foi o encontro:
Além de Marina, as mães de outros dois alunos da mesma classe compareceram à manifestação. Tâmara Fortuna, 44 anos, e Patrícia Oliveira, 40, seguraram cartazes e repetiram palavras de ordem enunciadas pelo grupo presente.
Veja:
“Decepcionante. Pelo que foi passado na mídia, eles hoje dariam uma resposta para gente do que aconteceria. A professora está afastada por licença médica, não foi a direção que tomou as providências”, lamentou a enfermeira Patrícia Oliveira, mãe de um dos alunos presentes no áudio.
O presidente nacional do Movimento Orgulho Autista Brasil (MOAB), advogado Edilson Barbosa, participou do ato e repudiou a forma de tratamento recebido pelas crianças. “Não admitimos essa forma de atendimento, de tratamento.”
O representante organiza, juntamente com as mães, um novo ato de cobrança de posicionamento sobre o afastamento da diretora da EC. O grupo irá se reunir, às 14h da próxima quarta-feira (12/7), na Secretaria de Educação.
Na gravação, a professora chega a dizer às crianças para não começarem com “essa loucura” e os ameaça ao falar que eles vão “ver o que é bom para tosse”. Duas professoras ficavam responsáveis pelos quatro estudantes. A que teve os áudios divulgados está afastada, por licença-médica; a segunda, que continua em atividade, consta como testemunha do caso, por ter agido de forma conivente diante do ocorrido, segundo a denúncia.
Ouça:
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) confirmou o caso, e a Ouvidoria investiga a denúncia, com “devida apuração” da Corregedoria do órgão. “A pasta reforça o compromisso e o empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como [oferecer] todo o suporte para os estudantes”, destacou.
Cuidados
Manter o canal de comunicação aberto com os filhos e questionar os motivos de não quererem fazer alguma atividade típica, como ir ao colégio, é uma das recomendações da psicóloga Paola Rodrigues, do Instituto de Medicina e Psicologia Integradas (Impi), principalmente aos pais de crianças com TEA.
“É importante sempre perguntar como foi o dia. Muitas vezes, começando a falar da rotina como forma de abrir as portas para o filho falar sobre a dele. Uma estratégia eficaz é usar de brincadeiras também”, orienta a especialista.
Outro conselho da psicóloga é conversar com outras famílias e com a equipe da escola, para verificar se o espaço é, de fato, um ambiente saudável.
Alguns sinais para se atentar:
- Criança começa a pedir para faltar aula sem motivo;
- Perdas no rendimento escolar;
- Alterações de humor;
- Mudanças de comportamento, como agressividade e ataques de raiva;
- Perda de autoconfiança;
- Comportamento arisco ao toque.
Denúncias
Com as gravações, a família da criança de 11 anos registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que investiga denúncia por supostos maus-tratos. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Conselho Tutelar também foram acionados.
O gabinete da secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, recebeu e-mail da Ouvidoria do Governo do Distrito Federal (GDF), com detalhes sobre o caso. O departamento informou que “adotará todas as medidas cabíveis, podendo, inclusive, no curso da apuração, promover o afastamento da servidora, nos termos da Lei Complementar nº 840/2011”.
Um novo professor substituiu as duas responsáveis pela turma, segundo a SEDF. O Metrópoles tentou contato com a defesa da educadora denunciada, mas os advogados dela informaram que só se pronunciarão sobre o caso após se certificarem da ocorrência.