Mãe e filho sequestrados por youtuber no DF ficaram 13 horas em cativeiro
A família foi liberada após dizer que faria um depósito para os sequestradores e que não denunciaria o caso à polícia
atualizado
Compartilhar notícia
A família vítima do sequestro arquitetado pelo youtuber brasiliense conhecido como Rodrigão foi mantida por 13 horas em cativeiro, localizado na zona rural de São Sebastião. Mãe e filho foram interrogados incessantemente pelos criminosos, que queriam extorquir os empresários. As informações foram confirmadas na manhã desta terça-feira (28/7) durante coletiva de imprensa na Delegacia de Repressão a Sequestro (DRS) da Polícia Civil do DF.
O crime aconteceu no dia 3 de junho, mas os suspeitos foram detidos na semana passada. O diretor da DRS, Leandro Ritt, disse que o objetivo do sequestro era obter uma grande quantia em dinheiro, porque a família tinha um alto poder aquisitivo e o youtuber sabia disso.
“A relação entre o youtuber e uma das vítimas já durava muitos anos. O autor tinha ciência do patrimônio, pois frequentava a casa da vítima. A partir dessa intimidade surgiu a ideia do sequestro”, disse Ritt.
Após 13 horas tentando descobrir quanto de dinheiro a família tinha disponível em banco, os sequestradores entenderam que o patrimônio da família estava concentrado em imóveis, o que impossibilitaria uma transação financeira de alto valor em um curto espaço de tempo. O objetivo do bando, segundo a PCDF, era manter o sequestro por, no máximo, dois dias.
No dia do sequestro, Rodrigão e um dos comparsas se encontraram às 21h no Jardim Botânico, bairro onde mora o youtuber. As vítimas foram libertadas às 23h, após terem os celulares devolvidos. A intenção dos criminosos era manter contato com a família, para acertar a entrega do dinheiro. A quantia exigida pelos suspeitos não foi divulgada pela PCDF.
“Foi um erro de cálculo dos sequestradores que fez com que eles libertassem as vítimas. Ficou acertado que elas não procurariam a polícia e que depois realizariam o depósito em dinheiro para os sequestradores. Eles até devolveram os celulares para facilitar o contato com a família”, detalha o delegado
Arquiteto do crime
Acusado de ser o mentor de todo o sequestro, Rodrigão tem um canal no YouTube com 69,3 mil inscritos. No Instagram, ele acumula 47,7 mil seguidores. Ele era amigo da vítima justamente por conta do interesse em comum na temática de seus canais: automóveis.
Foi se aproveitando da intimidade que tinha com a família sequestrada que o youtuber passou a levantar informações a respeito do patrimônio do amigo e da mãe dele.
De acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal, a família anunciou a venda de um lote localizado no Lago Sul, bairro nobre da cidade, e Rodrigão deu início à execução do crime.
O plano consistia em raptar a mãe e o amigo, forçando um deles a efetuar o pagamento do resgate para libertação do outro. O acusado atuaria somente nos bastidores, coordenando a ação criminosa.
Um amigo de Rodrigão, especializado em tecnologia, fingiu ser corretor de imóveis, ligou para uma das vítimas e combinou um encontro para conhecer o lote, às 10h do dia seguinte, 3 de junho de 2020.
No horário combinado, mãe e filho chegaram ao local, onde o falso corretor os aguardava. Neste momento, ambos foram rendidos, com o uso de uma pistola, e levados para um veículo. Lá, estavam os dois comparsas, que efetivariam o sequestro e vigiariam o cativeiro.
Ao ser amarrada, a vítima mais jovem reagiu e tentou fugir. Foi então que o sequestrador decidiu levar também a mãe dele para o cativeiro. Os pertences das vítimas foram deixados em um lugar pré-combinado com o youtuber, que pegaria os objetos em seguida.
Um barraco na área rural de São Sebastião foi utilizado como cativeiro. As vítimas foram separadas e interrogadas exaustivamente, durante todo o dia, a respeito da capacidade financeira da família. O plano era libertar um dos dois, para providenciar o pagamento do resgate de quem fosse mantido refém.
Diante dos questionamentos, os sequestradores entenderam que o patrimônio da família estava concentrado em imóveis, o que impossibilitaria uma transação financeira de alto valor em um curto espaço de tempo. O objetivo do bando, segundo a PCDF, era manter o sequestro por, no máximo, dois dias.
Frustrados, Rodrigo e o amigo hacker decidiram libertar mãe e filho, por volta das 23h, dizendo que ligariam posteriormente para cobrar uma alta quantia em dinheiro, o que não ocorreu. As vítimas decidiram não registrar boletim de ocorrência, por medo, e optaram por deixar o país imediatamente, mas foram convencidas por um amigo a procurarem a DRS, que iniciou a investigação.
De acordo com os investigadores, Rodrigão chegou a visitar o amigo e a mãe dele, no Lago Sul, três dias após eles serem libertados do cativeiro. As vítimas contaram ao youtuber sobre as 13 horas que ficaram sob o poder de sequestradores e citaram que, apesar de terem sido orientados pelos criminosos a não acionar a polícia, registraram boletim de ocorrência na DRS, que investigava o caso. Foi neste momento que o suspeito abortou o plano de mandar os comparas entrarem em contato com mãe e filho por medo de serem descobertos.
Aos agentes, os suspeitos detidos apontaram o amigo da família como mentor de todo o sequestro. Ele, porém, nega a participação. Um quarto envolvido foi identificado, mas continuava foragido até a última atualização desta reportagem.