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Mãe de vítima de racismo religioso desabafa: “Impedida de estudar”

Adolescente de 14 anos foi impedida de entrar em escola com fio de conta, usado por motivo religioso. Mãe questiona direção

atualizado

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Loyane Barbosa, 40, enfermeira, candomblecista
1 de 1 Loyane Barbosa, 40, enfermeira, candomblecista - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A adolescente de 14 anos vítima de racismo religioso em uma escola cívico-militar do Distrito Federal está abalada e com medo, segundo a mãe da garota, Loyane Barbosa, 40. Adepta da Umbanda, a menina chegou à escola utilizando um fio de conta, símbolo religioso, mas acabou barrada na entrada. “Me senti impotente, porque minha filha estava sendo impedida de estudar”, desabafou a mãe.

O caso, ocorrido no no Centro Educacional 3, de Sobradinho, gerou um segundo episódio de intolerância quando o pai de santo da jovem tentava resolver a situação com a direção, mas foi xingado. Um boletim de ocorrência foi registrado nessa terça-feira (28/2), na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).

Loyane Barbosa conta que o diretor da escola chegou a ameaçar a filha de transferência. “Uma ameaça que veio de uma pessoa que é incapaz de estar no cargo que está. Existem outras religiões, por que a minha tem que ser tratada diferente? Estou muito chocada, muito abalada. Isso é completamente absurdo.”

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Loyane e Pai Leandro
Loyane é mãe da adolescente que teve o uso do fio de contas questionado em escola militarizada do DF
Ela explica uso religioso
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A adolescente chegou à escola com o fio de conta no pescoço e foi impedida de entrar em sala. Uma tenente do colégio questionou o uso do colar e colocou a mão no acessório religioso, tentando removê-lo. A estudante recuou e disse que precisava falar sobre a retirada com o seu sacerdote, o que foi aceito pela policial depois do diálogo.

A jovem chamou Leandro Mota Pereira, conhecido como Pai Leandro de Oxossi, que levou ainda sua advogada e chamou a mãe da garota. Teve, então, início uma reunião, na sala da direção da escola, com o corpo civil e militar da instituição. Os militares chegaram a se desculpar e tentar entender o significado do fio de conta.

“Nessa conversa, só o vice-diretor falava. A todo momento ele dizia que minha filha estava mentindo. O diretor chegou já dizendo que era advogado, para intimidar a gente. Eles queriam que a gente engolisse o manual [de vestimenta] que fizeram, passando por cima da nossa Constituição. Era o primeiro dia de aula dela, que vem de uma escola particular de freiras onde isso nunca ocorreu”, relata a mãe.

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Líder religioso diz ter ido na escola para resolver um mal-entendido envolvendo uma aluna adepta da Umbanda
Pai Leandro registrou ocorrência na PCDF junto com o advogado Talaguibonan Arruda, diretor jurídico da Federação de Umbanda e Candomblé do DF
Dani Sanchez, da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, acompanha o caso
O episódio aconteceu no CED 3 de Sobradinho, uma escola cívico-militar
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Pai de Santo denuncia racismo religioso dentro de escola militarizada no DF

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Líder religioso diz ter ido na escola para resolver um mal-entendido envolvendo uma aluna adepta da Umbanda

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Pai Leandro registrou ocorrência na PCDF junto com o advogado Talaguibonan Arruda, diretor jurídico da Federação de Umbanda e Candomblé do DF

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“Porr* de pai de santo”

Na reunião, os militares até propuseram uma atividade extra-curricular em que os religiosos explicassem mais do próprio credo, para evitar casos de preconceito. Mas, segundo Loyane, o corpo pedagógico disse que estava “perdendo tempo” com o diálogo e o diretor da escola ofendeu a religião e a dignidade do religioso.

“Ele falou o seguinte: ‘A aluna disse que ligaria para o pai dela. Eu não sabia que ia ligar para a porr* de um pai de santo’. Eu pensava passar por isso em qualquer lugar, mas jamais dentro de uma escola e de um diretor que deveria ensinar. Isso comprova que as pessoas precisam mais de fé, amar mais ao próximo. É um servidor público que não tem capacidade para lidar com pessoas”, lamentou Pai Leandro.

O diretor ainda teria se recusado a se retratar e saído da escola. A Secretaria de Estado de Educação do DF afirmou que abriu um processo administrativo na Corregedoria para apurar o caso e vai adotar providências “para assegurar o melhor atendimento à estudante”. “A pasta ressalta, ainda, que repudia qualquer tipo de racismo e reforça o compromisso e empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como o suporte aos envolvidos.”

Denúncia

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF), deputado distrital Fábio Felix (PSol) abriu uma investigação e apresentou denúncia para órgãos de controle e inclusive para o governo federal. O parlamentar também cobrou esclarecimentos da Secretaria de Educação e da pasta da Segurança, uma vez que o colégio onde ocorreu o caso é de gestão compartilhada.

“O Pai de Santo foi destratado na escola da pior foram possível, com referências muito desrespeitosas, agressivas e do nosso ponto de vista, criminosas às religiões de matriz africana”, declarou Fábio Felix. O distrital é autor de uma lei distrital que proíbe e combate o racismo religioso. A legislação federal também veda a prática preconceituosa.

Janaína Bittencourt, assessora da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, esteve na Decrin acompanhando o registro da ocorrência. “É um crime porque houve diversas tentativas de cercear o direito. O direito da aluna de acessar a escola, de usar uma indumentária religiosa. É como se o diretor dissesse que meninos judeus de quipá não podem entrar”, comenta. Talaguibonan Arruda, diretor jurídico da Federação de Umbanda e Candomblé do DF, também prestou assistência.

“O que a gente observa é que é presente a intolerância institucional. As pessoas escolhidas para a administração pública, muitas vezes, não estão preparadas para lidar com o diferente. A cultura europeia prevalece. Por isso, muitos dos nossos se escondem por medo, perdem oportunidades, empregos.”

O Metrópoles tentou contato com diretor da escola e com a secretaria de Segurança Pública. Nenhuma das partes havia se posicionado sobre o caso até a última atualização deste caso. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações dos citados.

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