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Mãe de menino de 11 anos espancado teve outro filho assassinado

Durante o enterro do caçula, na tarde dessa sexta-feira (08/11/2019), a mulher se desesperou: “Não se vá”

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1 de 1 Enterro-de-menino-de-11-anos-1 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A mãe do menino de 11 anos encontrado morto em Águas Lindas (GO), Entorno do Distrito Federal, teve outro filho assassinado. Em julho de 2017, o rapaz, de 18 anos, foi executado em Santo Antônio do Descoberto (GO). Durante o enterro do caçula, na tarde dessa sexta-feira (08/11/2019), no Cemitério de Taguatinga, a mulher desesperou-se: “Meu filho, não se vá”, repetia aos prantos. O garoto morto a pauladas era o mais novo de sete filhos.

Para ela, a morte da criança foi uma injustiça. “Por mais errado que ele fosse, era só uma criança”, disse ela, que não quis ser identificada. “Agora, já são dois filhos meus enterrados aqui. Está doendo muito. O que mais quero é justiça, quero ver o assassino preso.”

O corpo da criança foi localizado por populares com sinais de espancamento, às margens de um córrego, no bairro Setor 07 da cidade, na terça-feira (05/11/2019). A Polícia Civil de Goiás (PCGO) investiga o crime.

Durante o sepultamento, Wallace Álvaro Pinheiro, 21, tio da criança, contou ao Metrópoles que o menino sempre passou por abrigos e se tornou mais agressivo após sofrer abuso sexual, aos 9 anos. “Ele sempre levou essa vida, passando de abrigo em abrigo. Mas se tornou assim depois que abusaram dele em Águas Lindas. Foi quando começou a usar drogas, porque deve ter sido um choque emocional muito grande para ele. Era só uma criança, precisava de mais apoio do governo”, lamentou o familiar.

De acordo com Wallace, o menino deixou a escola quando ainda cursava o 1º ano do ensino fundamental. “Depois que ele saiu desse abrigo, foi morar com uma tia e voltou a estudar. Mas ficou duas semanas e saiu da escola”, lembrou.

Para outra tia da criança, Dara Álvaro Pinheiro, 23, o menino deveria ter recebido mais apoio dos abrigos em que morou. “Ele saía quando queria. Chegava, comia e ia para a rua de novo. Sempre ficava entre Águas Lindas e aqui. Mas a mãe dele corria atrás, várias vezes foi até lá buscá-lo”, contou. “Ele era apenas uma criança. Se o Estado tivesse apoiado mais, ele não estaria morto agora”, considerou Dara.

Levada oito vezes à DP

PCGO suspeita que a criança tenha sido assassinada por pessoas de quem ela roubou. A vítima, que foi levada pelo menos oito vezes para a delegacia somente neste ano, tinha sinais de espancamento. Há indícios de que o garoto tenha sido assassinado com pedaços de pau ou ferro.

Conforme o delegado Cléber Martins, da 17ª Delegacia Regional de Polícia (Águas Lindas de Goiás), a hipótese da investigação é que o crime tenha sido motivado por vingança. Nenhum suspeito foi identificado até o momento.

Ameaças

Em razão dos diversos delitos, o garoto vinha sofrendo ameaças de morte. A criança havia passado por alguns traumas, como abuso sexual quando era menor e o falecimento do irmão mais velho.

Cleiton Vital de Oliveira, conselheiro tutelar de Taguatinga Norte, acompanhava o caso do menino. Segundo ele, a vítima fazia uso de substâncias entorpecentes e se tornava agressiva quando estava drogada.

Com medo de ameaças, a família se mudou de Águas Lindas (GO) para Ceilândia e, por fim, Taguatinga. De acordo com o conselheiro, quando o menino ficava sóbrio, reconhecia a situação crítica em que estava e que tinha que mudar.

“Quando ele não usava entorpecentes, ficava calmo e tranquilo. Eu conversava com ele, que dizia querer sair dessa vida. Reconhecia a gravidade das ameaças. Mas o vício foi maior, e ele acabou morto”, lamentou.

A ameaça ao jovem era constante. O conselheiro ofereceu o programa de proteção, porém ele recusou. “Acabamos o colocando em uma casa de acolhimento em Taguatinga, mas, como não era internação compulsória, não era obrigado a ficar lá. Então, podia sair à hora que quisesse. Ele cometia pequenos furtos para sustentar seu vício”, disse.

O conselheiro afirmou que a mãe do garoto está muito abalada e que, durante todo o processo, lutou muito pelo filho. “Ela sempre demonstrou preocupação e queria muito a recuperação dele. Eles se mudaram para três cidades diferentes por conta de o jovem sempre estar sendo ameaçado”, assinalou.

O que diz o MP

Em nota, a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude se pronunciou sobre o caso. “Foram propostas as medidas judiciais de proteção de acolhimento institucional e internação para tratamento de saúde mental. O acolhimento institucional não é medida restritiva de liberdade. As instituições de proteção de crianças atuam buscando a adesão às medidas protetivas e o fortalecimento dos vínculos familiares. No caso, a criança tinha família preocupada com a situação, que era atendida pela rede de proteção, inclusive Conselho Tutelar e Assistência Social”, ressaltou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Já a Secretaria de Desenvolvimento Social, também em nota, lamentou “profundamente o ocorrido” e destacou prestar apoio à família da criança. “No que diz respeito ao fato, é fundamental deixar claro que a criança não estava na UNAC III M Norte. A mesma se encontrava em fase de encaminhamento pela Central de Acolhimento de Taguatinga, porém recusava o encaminhado ao Serviço de Acolhimento. A criança chegou a ser encaminhada à UNAC III em setembro deste ano, permanecendo no local por menos de 24 horas quando se evadiu. Sobre possíveis fugas, é preciso esclarecer que o Serviço de Acolhimento não caracteriza as saídas da Unidade como fuga, pois os acolhidos não se encontram presos sob medida de restrição de liberdade”, destacou.

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