Mãe de jovem que morreu após rave: “Estou perdendo um pedaço de mim”
Em desabafo emocionante, Valda pede às autoridades ajuda para esclarecer a morte da filha, Ana Carolina, de apenas 19 anos
atualizado
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Ao buscar a filha em uma casa na Ceilândia – para onde a jovem foi levada após sair da festa rave –, na noite de domingo (24/6), a cabeleireira Valda Lessa, 41 anos, percebeu que Ana Carolina Lessa, 19, estava agitada, nervosa, diferente do habitual. E também toda machucada. A mãe da estudante de enfermagem quis levá-la ao hospital, mas Carolzinha, como era carinhosamente chamada pelos mais próximos, se recusou. Depois de ficar dois dias sem dormir, só queria descansar.
Na manhã de segunda-feira (25), Ana Carolina amanheceu passando muito mal. A mãe a levou ao hospital. Lá, a jovem teve duas paradas cardiorrespiratórias e morreu. O corpo de Carolzinha foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul na manhã desta quarta (27). “Estou perdendo um pedaço de mim”, disse Valda.O caso foi mostrado em primeira mão pelo Metrópoles na segunda-feira (25). Na noite de domingo (24), após ser encontrada, a jovem mandou uma mensagem para um amigo: “Estou lúcida, mas quebrada”.
Carol era a filha mais velha da cabeleireira. Valda tem um rapaz de 16 anos e outro de oito. A única menina se foi. Até agora, a família e a polícia não sabem de fato o que aconteceu entre o sábado (23), quando Carol saiu para a festa rave, na área rural do Recanto das Emas, e o domingo (24), dia em que a estudante foi encontrada. Segundo os médicos, a vítima tinha sinais de violência sexual. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) ainda não ficou pronto.
Faço um apelo às autoridades que possam ajudar a esclarecer esse fato. Estou perdendo um pedaço de mim. É um pedido de uma mãe, em desespero, em um momento de dor. A dor pode até ser amenizada, mas a falta dela será para sempre
Valda Lessa, 41 anos, mãe de Ana Carolina
Amiga de Carol, Gláucia Silva também não entendeu o ocorrido com a jovem moradora de Arniqueiras. “Quando chegamos para buscá-la, ela estava muito alterada e não falava coisa com coisa. Apenas pediu desculpas por ter ido à rave sem avisar, pois quando saiu disse que iria para um aniversário de amigos da faculdade. Ainda não entendemos o motivo de os rapazes que a ajudaram não a terem levado para o hospital”, contou.
Avó de Ana Carolina, Maria de Fátima Figueiredo, 62, disse que ela era uma pessoa muito tranquila e estudiosa. “Estava na fase da rebeldia, mas nunca tivemos problema com a Carol relacionado a drogas ou a algo do tipo. Era uma menina maravilhosa, meiga e muito dócil”, contou.
Maria de Fátima lembra da última conversa que teve com a neta na segunda-feira (25), por telefone, quando a jovem estava no hospital. “Me disse: ‘Vovozinha, estou com fome’. A perda é dolorosa demais.”
Durante o enterro, ela fez um apelo emocionante. “Minha neta foi tragada pelo mundo. Peço aos jovens que reflitam sobre o que aconteceu com a Ana Carolina”, desabafou.
A universitária morreu na tarde de segunda (25) no Hospital São Matheus, no Cruzeiro. Na noite de sábado (23), ela esteve em uma festa rave chamada Arraiá Psicodélico. O evento tinha autorização para ser realizado. A jovem chegou a ser dada como desaparecida, mas foi localizada na tarde de domingo (24), na casa de um colega, em Ceilândia.
O estudante Lucas Brito, 21, encontrou Carol na tarde de domingo no estacionamento da festa. E levou a moça para essa casa no Pôr do Sol. Ele conta ter chegado ao evento aproximadamente às 22h de sábado e só encontrado Carolzinha – como ela era chamada pelos mais próximos – no domingo, por volta das 14h.
“Ela estava deitada numa canga, com os olhos arregalados e a boca inchada. Comprei água e dei minhas sandálias para ela calçar, porque estava descalça. Como a Carol estava de calça leg, não consegui ver na hora os ferimentos na perna. Vi somente um arranhão no braço”, contou Lucas.
Durante o velório, uma prima da mãe da Ana Carolina passou mal e precisou ser amparada pelos familiares. O clima era de muita comoção. O caso está sendo investigado pela 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro).
Presidente da Comissão de Combate à Violência Familiar da Ordem dos Advogados do Brasil no DF, Lúcia Bessa disse que a instituição vai prestar todo o apoio jurídico que a família precisar e também acompanhar o inquérito. “É preciso que crime bárbaro seja solucionado e os responsáveis sejam punidos”, disse.