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Mãe de Jessyka sobre pena de 21 anos para ex-PM: “Resposta foi rápida”

“Esperávamos uma pena em cima da crueldade de ter perdido uma filha, mas não é a real. É a realidade da lei”, disse Adriana da Silva

atualizado

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Mãe de Jessyka
1 de 1 Mãe de Jessyka - Foto: Michael Melo/Metrópoles

“Muito sofrimento, mas pelo menos ele foi condenado”, disse a técnica de enfermagem Adriana Maria da Silva (foto em destaque), 40 anos, mãe de Jessyka Laynara da Silva Souza, 25, assassinada com quatro tiros no dia 4 de maio de 2018. Na madrugada desta terça-feira (30/04/2019), o ex-PM Ronan Menezes do Rego, 28, foi condenado a 21 anos e 9 meses de reclusão pelo feminicídio e por tentativa de homicídio.

“Esperávamos uma pena em cima da crueldade de ter perdido uma filha, mas é uma pena que não é o real. É a realidade da lei brasileira. Claro que poderia ter sido mais, por causa da dor e do sofrimento, mas creio que a resposta foi rápida”, destacou Adriana. “Ele ter saído da PM já foi algo forte. Nada vai fazer pagá-lo, nem fazer minha filha voltar, mas pelo menos teve a condenação”, acrescentou nesta terça-feira (30/04/2019), após o julgamento.

A vendedora Letícia Gomes, 28, prima de Jessyka, engrossa o coro: “Não estamos satisfeitos, mas dos males, o menor”, diz. Ela carrega no braço a tatuagem com o nome da jovem assassinada. Os familiares da vítima devem se reunir com o advogado na tarde desta terça para decidir sobre o que será feito após a sentença.

Júri popular
Tribunal do Júri de Ceilândia condenou o ex-policial militar do DF após quase 20 horas de julgamento. A decisão foi proferida pelo juiz Tiago Pinto de Oliveira. Os jurados não acataram o pedido de absolvição solicitado pela defesa do acusado. A pena será inicialmente em regime fechado, pelo feminicídio e pela tentativa de homicídio do personal trainer Pedro Henrique da Silva Torres. Ele ainda responderá por ameaça à vítima, crime pelo qual pegou pena de 2 meses e 7 dias de detenção.

No julgamento, Ronan se pronunciou sobre o crime pela primeira vez desde o assassinato. “Eu sei o que fiz, mas criaram uma história para que eu parecesse um monstro. Não estou aqui para me eximir do que fiz. Aconteceu um feminicídio e uma tentativa de homicídio, sim, mas não sou um espancador. Não buscaram a verdade”, ressaltou.

O crime
O crime ocorreu em 4 de maio de 2018 na QNO 15, em Ceilândia Norte. Jessyka foi morta a tiros pelo então soldado da Polícia Militar. Segundo testemunhas, Ronan não aceitou o término do relacionamento com a jovem. Após ameaçá-la e agredi-la por diversas vezes, o policial suspeitou que ela estava tendo um caso com o professor de academia Pedro Henrique da Silva Torres, 29. O PM foi até o local e atirou contra o rapaz. Levado ao hospital, o instrutor passou por cirurgia e conseguiu se recuperar.

Jessyka, no entanto, não teve a mesma sorte. Ronan foi até a casa onde ela morava com a avó e disparou quatro vezes contra a moça, que não resistiu aos ferimentos e morreu no local.

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Ronan e Jessyka Laynara
Ronan Menezes está preso na Papudinha
Jéssyka tirou foto do rosto, marcado pelas agressões de Ronan
Espancada, a vítima apresentava vários hematomas por todo o corpo
Marcas roxas pelo corpo
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Ronan se entregou após assassinar a ex-namorada

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Ronan e Jessyka Laynara

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Ronan Menezes está preso na Papudinha

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Jéssyka tirou foto do rosto, marcado pelas agressões de Ronan

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Espancada, a vítima apresentava vários hematomas por todo o corpo

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Marcas roxas pelo corpo

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Jéssyka mostrou corte na cabeça provocado por coronhada desferida por Ronan

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Último presente de Jéssyka para a avó

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Projétil encontrado na meia-calça da irmã de Jéssyka

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Familiares e amigos de Jéssyka fizeram uma manifestação contra o feminicídio no sábado (27/04/2019)

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Comoção
Um dos momentos de maior comoção do julgamento envolveu a mãe de Jessyka, a técnica de enfermagem Adriana Maria da Silva, 40 anos. Muito emocionada, ela não conteve as lágrimas ao falar das agressões sofridas pela filha durante o relacionamento com Ronan. “Em um dos episódios em que foi agredida na garganta, ela nem conseguia engolir de tantos socos que ela recebeu”, disse.

Adriana também falou da dificuldade da família em lidar com a perda de Jessyka, descrita como uma pessoa de bom coração. “Minha filha era um anjo. Ele acabou com toda a nossa família. Todos os dias tenho que ter força para aguentar ver meu filho Ruan, de 10 anos, [irmão de Jessyka] abraçado com a foto dela”, lamentou.

“Covarde e monstro”
Chamado para depor como testemunha-chave pelos promotores de acusação Kleber Benício Nóbrega e Tiago Fonseca Moniz, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o irmão da vítima, Marcos Yuri, chamou Ronan de “covarde e monstro”. Ao júri, descreveu os momentos que antecederam a morte.

“Cheguei em casa por volta de 12h30, almocei e fui dormir. Acordei com uma gritaria e, quando vi, minha irmã discutia com o Ronan. Ele queria ver o celular dela, mas ela não deixava. Quando percebi que os ânimos estavam exaltados, peguei a arma dele, que estava dentro de casa, e dei para meu primo guardar”, detalhou.

Marcos Yuri ainda contou que “ele me pediu a arma de volta e disse que estava tudo tranquilo. Voltei a dormir e acordei com os disparos. Foi quando encontrei minha irmã morta no banheiro e o vi saindo no carro”.

O primo que ficou com a arma de Ronan temporariamente foi Luiz Cláudio da Silva, que também depôs nesta segunda-feira e afirmou ter segurado Ronan pela cintura a certo ponto da discussão. Ele ainda alegou ter sido o primeiro a encontrar Jessyka caída após ter sido baleada. “Fui logo no pescoço, vi que não tinha pulso e falei: ‘Minha prima morreu’”, relatou.

Conforme Luiz Cláudio, Ronan ligou para seu celular minutos após o crime e indagou: “Ela morreu, mano?”.

Ânimos exaltados
A estratégia da defesa do ex-policial militar irritou o MPDFT e a acusação. Uma psicanalista foi convocada para responder a questões “à luz da psicologia”, como descreveu uma advogada de Ronan, mas os promotores alegaram que a mulher nada tinha a ver com o caso. Segundo eles, a testemunha estava sendo usada como perita, e a defesa tentava se antecipar à declaração final.

Os advogados da família de Jessyka solicitaram impugnação de todas as perguntas feitas à psicanalista. No entanto, o juiz indeferiu o pedido ao alegar “direito de plenitude da defesa, assegurado pela Constituição Federal”.

A defesa de Ronan tentou, por meio de perguntas, argumentar que o acusado teria uma relação de carinho com a vítima e que, inclusive, prestava auxílio financeiro à família de Jessyka. Os advogados também fizeram perguntas às testemunhas para expor um suposto caso extraconjugal entre a vítima e o professor de educação física Pedro Henrique Torres.

Ronan teria ciúmes de Pedro Henrique e, pouco depois de Jessyka ter sido morta, foi à academia onde o homem trabalhava e acertou três tiros nele. O professor foi levado ao hospital com ferimentos, mas sobreviveu.

Outra tática da defesa foi chamar uma ex-namorada do acusado para rebater a imagem de namorado agressivo que a própria vítima revelou a uma amiga, por meio de mensagens de voz, dias antes de ser assassinada. “Ele gostava de me presentear, sempre me tratou muito bem. Nos relacionamos por oito meses e foi muito bacana”, disse a moça, durante o julgamento.

Os advogados de Ronan também apontaram inconsistências nos depoimentos de algumas testemunhas, recolhidos pela Polícia Civil do DF na época do crime. Um deles é o do irmão de Pedro Henrique, Davi da Silva Torres, que não conseguiu explicar as divergências entre as declarações.

Pai se manifesta
Durante a oitiva das testemunhas da defesa, Ronan chorou quando ouviu os sargentos com quem integrou o Grupo Tático Operacional (Gtop) da Polícia Militar do DF. O acusado também não segurou a emoção durante o depoimento do pai, José Wanilson do Rego.

Ao júri, ele negou que o filho tenha agredido Jessyka durante o relacionamento dos dois. “Nunca a vi ferida e nunca ninguém reclamou para mim disso”, garantiu.

No dia do crime, o pai afirmou que o ex-militar o procurou dizendo que pensava em se suicidar. “Foi quando pedi a ele uma última palavra, um abraço. Dei um abraço nele, coloquei ele no carro, peguei a arma, acionamos a advogada e fomos esperar por ela na chácara. Foi quando negociei a rendição dele com o agente da Polícia Civil”, contou.

O pai também se emocionou ao ser questionado sobre como está a vida da família após o crime. “Nossa vida desabou. Os planos que ele tinha, que eu tinha [acabaram]. Duas vidas perdidas. Somos atacados pela internet, pela mídia”, desabafou. No júri desta segunda, estavam sete pessoas. Entre elas, cinco mulheres e dois homens.

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