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Luzes do Teatro Dulcina acendem pela primeira vez após três anos de escuridão

As luzes da plateia e do tablado foram ligadas no sábado (25/7). Já os 5 mil metros quadrados totais do prédio foram iluminados na 3ª

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Homem no centro de palco com luz
1 de 1 Homem no centro de palco com luz - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Após três anos na escuridão, o palco do Teatro Dulcina de Moraes foi iluminado pela primeira vez nesta semana. O prédio tombado acumulava dívidas com a Neoenergia, chegando ao valor de R$ 480 mil. Negociações com a distribuidora permitiram reduzir os débitos e ganhar prazo para o pagamento. Desta forma, as luzes da plateia e do tablado foram ligadas no sábado (25/7). Já os 5 mil metros quadrados totais do prédio foram iluminados na terça-feira (1º/8).

“Esse é um primeiro passo, e com essa retomada aumenta o tempo de trabalho para restaurar as peças e analisar o que já conseguimos recuperar”, afirma o diretor do Espaço Cultural da Fundação Brasileira de Teatro, o ator e produtor Josuel Junior. A entidade é responsável por manter o teatro e a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, que tem sede no Conic, no Plano Piloto, coração Brasília.

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Dívidas acumulavam quase R$ 500 mil
Expectativa da gestão é recuperar teatro até o ano que vem
Com energia, é possível identificar o que está em funcionamento
Dulcina acreditava que cristal trazia energia para o teatro
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Luzes indicam um primeiro passo para retomada do teatro

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Dívidas acumulavam quase R$ 500 mil

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Expectativa da gestão é recuperar teatro até o ano que vem

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Com energia, é possível identificar o que está em funcionamento

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Dulcina acreditava que cristal trazia energia para o teatro

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As negociações fazem parte da estratégia adotada pela atual gestão da fundação que pretende revitalizar o local e dar sequência às atividades culturais no espaço. A estimativa é agora tentar parcerias para que, em um ano, o teatro possa voltar a ser acessível ao público.

“Em pleno funcionamento, daqui há um ano, pensando na responsabilidade de trocar a sinalização de emergência, revisar e corrigir os dutos de ventilação, limpar a estrutura, reformar salas, adequar melhor a acessibilidade para os novos padrões e otimizar as tecnologias”, explica Josuel.

De acordo com o atual secretário-executivo da FBT, Roberto Neiva, a Neoenergia cancelou os juros atrasados, concedeu uma entrada de R$ 15 mil e permitiu parcelas de R$ 4 mil mensalmente, o que possibilita o pagamento. “Dessa forma, saiu dos R$ 480 mil para R$ 65 mil e também fizemos um acordo para renovar a estrutura e ter mais economia”, reforça.

Em nota, a Neoenergia destacou que realizou uma série de reuniões com os responsáveis pelo local e ofereceu uma renegociação dos débitos, com condições para facilitar o pagamento e manter as faturas em dia.

Leilão

Sair do breu total não significa que as pendências da fundação foram resolvidas. No total, a entidade tem R$ 20 milhões de dívidas acumuladas e o prédio pode ir a leilão para pagar apenas R$ 328.467,34 em setembro. “A fundação tem adotado estratégias jurídicas para reverter o processo”, explicou Neiva sem detalhar.

Os administradores atuais da fundação correm contra o tempo para evitar a venda de um prédio tombado, que pode resultar no fechamento do teatro e da faculdade que fazem parte da história do Distrito Federal.

Até o momento, o leilão está marcado para 14 de setembro deste ano. Caso não seja arrematado nesse dia, outra data também já foi previamente estabelecida: 28 de setembro. Se o processo correr, a partir de outubro o cenário do Conic pode começar por mudanças.

Quando Dulcina sai de cena

Em 1993, Dulcina de Moraes, aos 83 anos, se afastou da fundação porque estaria em uma condição avançada de demência causada pela idade. Em 28 de agosto de 1996, morreu uma estrela: a morte de Dulcina agravou os problemas financeiros dentro da instituição.

A complicada situação financeira do espaço é antiga. Em 2013, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) afastou os antigos dirigentes da instituição por supostas irregularidades, conforme foi apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. A fundação chegou a ficar sob intervenção. Em 2017, um novo conselho foi definido pelo MPDFT com o apoio do corpo docente e discente para dar sequência às atividades. Em 2022, houve a primeira eleição para definir um conselho.

Tempos áureos, em que espetáculos se apresentavam no teatro Dulcina com a casa cheia

“Com a morte da Dulcina, a sucessão de quem tomava conta era feita por uma panelinha que formava o conselho. Então, em 20 anos, houve poucas mudanças na gestão”, afirmou Débora Aquino, administradora judicial pelo Ministério Público do DF na Fundação Brasileira de Teatro e na Faculdade Dulcina de Moraes em 2017.

“A fundação estava passando por uma dilapidação por parte das pessoas que estavam gerindo o espaço”, alegou. De acordo com ela, o leilão seria o ponto final na obra de Dulcina. “Um espaço como esse ser vendido por uma bagatela dessas que nem paga a dívida é um absurdo, é um descaso. A gente vai perder no coração de Brasília mais um ponto cultural, uma riqueza e um patrimônio do DF e do país”, disse.

As dívidas

As dívidas são de origem diversas, como trabalhistas, previdenciárias, multas tributárias, débitos com Governo do Distrito Federal, juros acumulados, processos, entre outros. A maior fatia desse bolo de dívidas é a previdenciária – são R$ 16.023.637,63. O endividamento deixa o CNPJ da fundação em condição negativa, o que não permite receber emendas e outros tipos de repasses financeiros.

Na sequência, foi estimado o montante de R$ 3.451.081,58 em dívidas, decorrentes de processos que a fundação perdeu. “A grande maioria desses processos só foi perdido à revelia, inclusive a ponto de serem executados em razão da falta de defesa técnica”, disse o atual secretário-executivo da Fundação Brasileira de Teatro, Roberto Neiva.

De acordo com Neiva, além de recorrer no que for possível e tentar negociações com as dívidas, o conselho quer entrar com pedido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o reconhecimento do espaço como patrimônio federal. “Estamos correndo, organizando o inventário de tudo que se tem aqui e está parado em caixas para dar início às tratativas.” A previsão é que seja feito neste mês. O objetivo é que essa medida permita suspender a previsão de leilão.

“Com o leilão suspenso, as dívidas negociadas a gente consegue atuar na raiz dos problemas que estão postos e, em paralelo, construir ações positivas que estejam aptas a ser implementadas”, acrescentou.

Um dos planos é revitalização do prédio para gerar receita com aluguel, retorno das aulas presenciais, disponibilização do acervo para exposições, reformulação do plano pedagógico da faculdade para ofertar cursos técnicos em artes, além dos tradicionais de bacharelado. Outro ponto é voltar com o teatro para apresentações. “Essa é a segunda maior sala de teatro do Distrito Federal, só perde para a Villa-Lobos no Teatro Nacional, que também está fechada.”

“Dulcina é um patrimônio nacional”

“O ator que sou hoje é porque eu passei pela faculdade Dulcina de Moraes”, afirmou o ator Deo Garcez, que fez grandes obras nacionais, como as novelas Xica da Silva, O Cravo e a Rosa, e está há oito anos em cartaz com a peça Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade. Deo chegou a ter aula com Dulcina e ressaltou a importância da atriz para sua formação.

“É o símbolo mesmo do profissionalismo, da qualidade técnica, da qualidade artística. A atriz grandiosa, genial e ao mesmo tempo mestra, porque ela ensinava muito bem, ela valorizava talentos”, contou em tom de admiração. O ator tinha saído do Maranhão para morar em Brasília e encontrou uma oportunidade de crescer na carreira artísticas estudando na fundação.

Veja a entrevista na íntegra: 

“A Dulcina é um patrimônio nacional, até um patrimônio histórico cultural do Brasil e, porque não dizer, do mundo. Uma mulher que teve toda a importância no século passado. Ela foi uma heroína, ela é uma heroína”, emendou o ex-aluno e ator global. Para ele, a admiração pela Dulcina aparece como uma bênção antes de entrar em cena. “No camarim, eu tenho sempre um porta-retrato com a foto dela ali, como uma inspiração. Ela é o meu amuleto”, declarou-se.

A Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, criada e mantida pela Fundação Brasileira de Teatro (FBT), é fruto do sonho e do compromisso da atriz Dulcina de Moraes com a formação de artistas e arte-educadores no Brasil. A faculdade, com mais de 40 anos de atuação, foi criada em 1982, em Brasília, oferecendo originalmente os cursos de Licenciatura em Educação Artística, Bacharelado em Artes Cênicas e Bacharelado em Música.

A mantenedora é a Fundação Brasileira de Teatro, uma das mais antigas fundações da área artística, instituída em 1955, ainda no Rio de Janeiro. Depois de 17 anos de funcionamento naquela cidade, transferiu sua sede para Brasília, onde se encontra até o presente momento. Assim como a faculdade, sua criação foi um empreendimento de Dulcina e de seu marido, o também ator Odilon Azevedo.

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