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Luto gestacional: mães contam como superaram a perda de bebês

Neste mês, celebra-se o Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional e Infantil. Depoimentos reforçam importância do acolhimento

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Brasília (DF), 22/10/2019. Projeto Vozes do Silêncio na Secretaria de Saúde do DF. Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 22/10/2019. Projeto Vozes do Silêncio na Secretaria de Saúde do DF. Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles - Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles

“Estava grávida de nove semanas e, em 12 de março de 2018, um dia fatídico para mim, descobri que meu bebê tão amado já não estava mais com seu coraçãozinho batendo no meu ventre. Eu não acreditei que estava vivenciando mais uma perda gestacional.”

O relato é da técnica administrativa da Gerência de Práticas Integrativas em Saúde (Gerpis) Filomena de Oliveira Cintra e Silva (foto em destaque), 43 anos. Ela conta como foi difícil retornar para casa depois da morte do segundo bebê passados nove anos do primeiro luto. A primeira criança foi chamada de Alexis. A segunda, Isaac Felipe.

Após o trauma, Filomena, ou Saraswati, como é conhecida por seu nome espiritual, engravidou de novo e teve Catarina Prema, “uma arco-íris” – termo para as crianças que nascem após uma perda. Catarina completa 8 anos neste domingo (27/10/2019) e, nesse período, Filomena passou a lutar por mais informação e conscientização de todos envolvidos em casos como o dela. Entre eles, familiares, amigos e, principalmente, os profissionais da área.

“Sempre quis ser mãe. A primeira vez que engravidei foi em 2008. Descobri a perda da Alexis quando estava com nove semanas. O mundo caiu. Na tentativa de me consolar, uma enfermeira me disse que eu ainda era nova e poderia ter outros filhos. O difícil é o entendimento. Essas frases causam mais dor. Não estava chorando por outro filho que ainda viria a ter, e sim pelo que eu perdi”, afirma Filomena.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), estudos variados apontam que em torno de 20% das grávidas têm a gestação interrompida de forma espontânea antes da 12º semana de gestação.

Ainda assim, instituições médicas, profissionais de saúde, a legislação e a sociedade fecham os olhos para a dor silenciosa de mães durante o luto gestacional e deixam ainda mais pesado um sentimento por si só devastador.

Em razão dessa insensibilidade, foi criado o Dia Internacional de Conscientização da Perda Gestacional e Infantil, lembrado em 15 de outubro. Quando a morte ocorre até a 22ª semana, denomina-se “perda gestacional precoce”. A partir daí, “perda gestacional tardia”. A morte neonatal corresponde ao falecimento do recém-nascido até os 28 dias de vida completos.

Vozes do silêncio

Baseada na própria dor e na de tantas outras mulheres, Filomena criou o projeto Vozes do Silêncio. Ela faz um recorte de frases de mulheres que perderam seus bebês durante a gestação ou logo após o nascimento.

“Percebemos um silêncio em torno dessa dor e acredito que essa ferida precisa ser vista, pois, só assim, ela pode ser tratada e curada. Qual é a nossa responsabilidade nessa mudança? Como cada pessoa pode ajudar uma mãe e um pai que sofrem a dor de seus bebês, de forma consciente? Falta acolhimento e queremos auxiliar nisso. A maternidade faz eu me sentir especial”, diz Filomena.

Em todos os dias de outubro, com o objetivo de sensibilizar para a cura e consciência do tema, as frases estão sendo publicadas por ela nas redes sociais. Para conhecer mais sobre a história de Filomena e ver o projeto, acesse a página do Instagram @flordevida.por.saraswati.

Veja uma das postagens realizadas nos últimos dias:

 

Ver essa foto no Instagram

 

*Projeto “Vozes do Silêncio” – Sobre a dor da perda gestacional e neonatal* *Outubro – Mês internacional da sensibilização da perda gestacional e infantil* Dia 23/10. Deve ter sido bem dolorido essa mãe ouvir esta frase ! Não existe menos ou mais dor ! A dor é uma só, a de perder seu bebê. Uma dor sem palavras. Só o fato do bebê não estar mais conosco, de não podermos dar colo, de não podermos dar beijos, de não termos sua presença isso é o que mais causa dor ! Dói muito porque o amor é imenso, não existe amor igual, por isso perder um filho (a) não tem dor igual. Uma esposa que perde um marido é viúva, um filho que perde seus pais é órfão, mas não existe nome para uma mãe e um pai que perde seu filho ou filha. Para ver todo o Projeto “Vozes do Silêncio” acesse meu Instagram @flordevida.por.saraswati Compartilhe ! Grata ! Saraswati Consultora e terapeuta do início da vida

Uma publicação compartilhada por Flor de Vida por Saraswati (@flordevida.por.saraswati) em

 

Na opinião de Filomena, o assunto é muito incompreendido e pouco falado “O intuito é compartilhar um momento de profunda tristeza porque muitas mães e pais que conhecemos podem estar passando pelo luto agora, e não é fácil. Apoiem essa mãe, esse pai, essa família, os acolhendo. Sei que nestas horas as pessoas não sabem muito o que fazer, mas só acolham”, pede.

Filomena, que atua com práticas integrativas em saúde (PIS), acredita que atividades como reiki, acupuntura, terapia comunitária e o uso de homeopatia podem ser importantes aliados das famílias que passam pela perda gestacional. A conversa com um psicólogo na unidade de saúde onde a gestante foi atendida também é importante.

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Filomena ou Saraswati, como é conhecida espiritualmente, também trabalha como consultora e terapeuta do início da vida
Filomena é mãe de dois anjos e uma arco-íris
"A maternidade faz eu me sentir especial", diz Filomena
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Secretaria de Saúde oferece práticas integrativas de saúde que ajudam na superação da perda gestacional

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Filomena ou Saraswati, como é conhecida espiritualmente, também trabalha como consultora e terapeuta do início da vida

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Filomena é mãe de dois anjos e uma arco-íris

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"A maternidade faz eu me sentir especial", diz Filomena

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Práticas Integrativas

Atualmente, a rede pública de Saúde oferece, na capital da República, 17 PIS com foco na recuperação e reabilitação da saúde, que vêm auxiliando muitas mulheres a superar o luto. Conheça as práticas integrativas oferecidas no SUS-DF.

“É necessário passar por esse processo de luto. Toda ajuda para superar a dor é válida. Nós vamos apreendendo a lidar com a perda e a passar para outras etapas mais facilmente”, aconselha Filomena.

Aqueles que se interessarem em alguma prática devem comparecer às Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região administrativa a qual reside para ter conhecimento do que é oferecido na localidade. Também é possível entrar em contato através do e-mail: gerpis.sesdf@gmail.com.

Reconhecimento do luto

A psicóloga Beatriz Montenegro, 43, é mãe de Carolina, 9, e de Eduardo, que nasceu prematuro em 2016 e morreu dois dias após o parto. Como havia passado por problemas de saúde durante a gravidez da primeira filha, na segunda gestação, fez acompanhamento desde o início.

Beatriz estava grávida havia aproximadamente sete meses de Eduardo quando apresentou um quadro de pré-eclâmpsia e o filho nasceu. “Ele estava bem, dentro do contexto. Viveu dois dias, teve uma hemorragia pulmonar e faleceu. Foi um momento muito difícil, porque todos nós queríamos muito ele na nossa família.”

A psicóloga comenta que foram anos de dor. Hoje, ela conta sua história dolorosa da perda do filho para tentar amenizar o sofrimento de outras mulheres, sobretudo para que não se sintam incapazes.

“Todas as pessoas que, de alguma maneira, tentam nos confortar fazem isso com a melhor das intenções. Mas, como elas não sabem o que dizer, acabam falando frases prontas, como ‘Deus quis assim’, ‘melhor assim porque ele poderia ter um problema’ ou ‘você vai engravidar de novo’. Contudo, são horríveis. Ninguém diria isso a uma viúva, por exemplo. O melhor é acolher, perguntar o que a mãe precisa, dizer que está ao lado dela e ser solidário àquela dor”, orienta Beatriz.

Entender que a morte do filho consistiu em uma fatalidade que não poderia ter sido evitada foi uma das partes mais difíceis para Beatriz. “Depois disso, eu, como psicóloga, não recusei ajuda”, diz. Segundo ela, práticas integrativas, como o reiki e a meditação, foram ótimas para ajudá-la a recuperar o equilíbrio. Outro apoio encontrado foi em grupos formados por mães que vivenciaram a mesma experiência.

“Cada um vive o luto da sua maneira, mas encontrar pessoas que passaram por aquela situação e ter o compartilhamento da experiência é algo que conforta”, conta.

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A psicóloga procurou ajuda após a perda do bebê que nasceu prematuro
Se apegar à religiosidade e à fé também foi um ponto de apoio para a psicóloga
"O melhor é acolher e perguntar o que a mãe precisa", orienta
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Beatriz é mãe de Carolina, 9 anos, e de Eduardo

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A psicóloga procurou ajuda após a perda do bebê que nasceu prematuro

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Se apegar à religiosidade e à fé também foi um ponto de apoio para a psicóloga

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"O melhor é acolher e perguntar o que a mãe precisa", orienta

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Juliana e Bernardo

“Estava grávida e muito feliz. Tive um sangramento, achei estranho e a minha obstetra sugeriu que eu fizesse uma ecografia. Quando a médica estava fazendo o exame, pelo rosto dela eu imaginei que algo não estava certo. Quando ela iniciou a frase: ‘Mãe, já não há mais o saco vitelínico…’. Eu não queria acreditar. Infelizmente, não tinha mais o que fazer.”

Foi assim que a enfermeira e doula Patrícia Somera, 40, recebeu a notícia de que sua primeira filha, Juliana, tinha falecido. Ela passou por duas perdas gestacionais em 2019. O primeiro processo ocorreu no início do ano, em fevereiro. Em junho, veio a notícia: Patrícia engravidou novamente.

“A segunda gestação durou oito semanas. Eu ouvi o coraçãozinho dele e depois, quando fui fazer um exame, havia parado de bater. Aquilo foi o que mais me doeu. Eu havia me prendido àquele coração. Todo o meu processo do segundo aborto terminou em julho. É muito doloroso. Senti um vazio na alma mesmo. Senti que eu não queria que esse bebê, o Bernardo, fosse embora”, lamenta.

No caso da enfermeira, apesar de procurar algumas práticas integrativas que a ajudaram no processo, a maior ajuda veio de dentro da própria casa. Além do marido, o web designer Renato Luiz de Carvalho, 37, e da cadela da família. “Em novembro de 2018, nós adquirimos a nossa border collie, que se chama Nina. Foi ela quem me ajudou a passar por tudo isso. Apesar de ter um supermarido, ela era tudo o que eu precisava naquele momento tão doloroso, minha verdadeira companheira.”

Para Patrícia, ainda falta um olhar empático da maioria das pessoas. “Viver o luto é muito importante. É necessário cuidar para não se tornar um problema pior, como, por exemplo, uma depressão profunda. Não temos que ter medo por estarmos fragilizados. Essa é a vida real”, relata.

Ainda segundo ela, “mulheres, quando se juntam, se curam. Precisamos falar sobre isso sim. Esse segredo é um problema, porque permite que muitas mulheres se sintam sozinhas, isoladas e sem suporte durante um processo que já é muito traumático. Agora, estou me cuidando. Faço yoga e funcional. Foi a forma que eu consegui para ressignificar a perda da Juju e do Bernardo”, concluiu a enfermeira.

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Patrícia passou por duas perdas gestacionais em 2019
Nina é a border collie de Patrícia e seu esposo, Renato Luiz de Carvalho
"Foi ela quem me ajudou a passar por tudo isso. Apesar de ter um supermarido, ela era tudo o que eu precisava nesse momento tão doloroso"
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Nina e Patrícia

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Patrícia passou por duas perdas gestacionais em 2019

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Nina é a border collie de Patrícia e seu esposo, Renato Luiz de Carvalho

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"Foi ela quem me ajudou a passar por tudo isso. Apesar de ter um supermarido, ela era tudo o que eu precisava nesse momento tão doloroso"

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Para quem precisa de ajuda:

Facebook Flor de Vida por Saraswati

Facebook Mães de Anjos

Grupos de WhatsApp: Apoio Lótus, por Filomena (61) 98129-2627;

Mães de Estrelas;

Mães de Anjos.

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