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“Lockdown isolado não serve de nada”, diz presidente do CRM-DF

Farid Buitrago Sánchez manteve a posição do Conselho Regional de Medicina contra a medida do GDF. “Houve erro no planejamento”, disse

atualizado

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Farid Buitrago Sáchez
1 de 1 Farid Buitrago Sáchez - Foto: Reprodução

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Farid Buitrago Sánchez, manteve a posição contra o lockdown no DF, divulgada em ofício enviado ao governador Ibaneis Rocha (MDB) nessa segunda-feira (1º/3). Em entrevista coletiva realizada na tarde desta terça-feira (2/3), Sánchez voltou a afirmar que o “lockdown, na forma como foi decretado no DF, é ineficaz”, disse.

Para Farid Buitrago Sánchez o ofício refere-se ao momento em que o DF vive. “Esse decreto do governador não diminuiu a transmissibilidade do vírus. O serviço de transporte público, por exemplo, continua a funcionar. A transmissão do vírus vai acontecer. A transmissão do vírus não vai diminuir com lockdown como foi feito”, afirmou.

Para ele, o lockdown só daria certo se fosse aliado a outras medidas, como o distanciamento social e a vacinação em massa, além da abertura de mais leitos de UTI. “Estávamos à beira de um colapso e UTIs foram desmobilizadas. A Secretaria de Saúde não se preparou da forma adequada. Essa medida isolada é feita de forma errada”, reforçou.

Sobre a polêmica provocada pela ofício, Farid Buitrago Sáchez afirmou que a divergência ocorre, e isso é normal. “É importante que a discussão seja trazida à tona. Há divergências até em torno do uso de máscaras. É importante que se discuta. Difícil chegar a um consenso”, acredita.

“A crítica ao lockdown é sobre como foi adotada no DF, como medida única de contenção da Covid-19 no DF. Já sabíamos que os casos iriam aumentar e nada foi feito. Nesse contexto, essa medida não foi adequada. Voltaremos atrás se for o caso, se tivermos errados. Estamos abertos para ouvir opiniões”, completou o presidente do CRM-DF.

Polêmica

Também nesta terça-feira (2/3), o ex-presidente do CRM-DF Eduardo Pinheiro Guerra criticou o posicionamento da atual gestão da entidade em ser contra o lockdown em Brasília, num momento em que os casos de contaminação aumentaram e as UTIs estão lotadas.

“Acredito que a maioria dos colegas médicos do DF, como eu, foram surpreendidos com o inusitado ofício CRM-DF n° 905/2021, dirigido ao senhor Governador do DF, condenando a adoção de lockdown. Finalmente o CRM-DF rompe o seu longo silêncio mantido durante esse duro período que vivemos e, acredito que o seu silêncio teria sido mais benéfico para a sofrida população da capital”, disse em nota pública.

Eduardo Pinheiro se indignou com os argumentos do CRM na nota de que a medida seria ” ineficaz, atentatória contra direitos fundamentais da Carta Magna e condenada até mesmo pela Organização Mundial da Saúde”.

Ele ainda apontou a contradição no documento, que acaba dando como exemplo o aumento da contaminação por Covid-19 na capital após o carnaval. Por fim, o ex-gestor demonstra sua indignação com a entidade que representa a classe médica e ironiza: “Ao que parece, está inaugurada a era terraplanista da medicina do Distrito Federal”.

A declaração

Na segunda-feira, conforme publicado em primeira mão pelo Metrópoles, o conselho encaminhou ofício ao governador Ibaneis Rocha (MDB) declarando: “O CRM-DF é contra o lockdown como medida de controle de transmissão”.  No documento, a entidade diz que o lockdown “já se mostrou ineficaz” e “atenta contra os direitos fundamentais da Carta Magna”.

Ao reforçar o posicionamento, o CRM destaca que “a restrição maior de liberdade causa o aumento da incidência de transtornos mentais e agravamento das demais doenças crônicas, além de prejuízo irremediável à economia”.

A declaração do CRM-DF contra o lockdown no DF também provocou reações de infectologistas, da comunidade acadêmica e até de outras categorias, como a de enfermeiros na capital da República.

A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) divulgou nota pública na qual diz “manifestar profunda preocupação” com posicionamento do CRM-DF.

“As medidas de restrição preconizadas no decreto do GDF são baseadas em evidências sólidas obtidas em estudos científicos bem desenhados e executados em diversos locais do mundo. Estas medidas reduzem a transmissão do vírus e podem apresentar impacto positivo sobre o comportamento da epidemia, contando com a adesão da população”, disse, em nota, a faculdade.

A Sociedade de Infectologia do DF (SIDF) afirmou, também em nota, que não concorda com o posicionamento do CRM-DF. Segundo a SIDF, o conselho montou uma câmara técnica com infectologistas, mas não a consultou antes de se posicionar a favor do tratamento precoce e contra o lockdown.

“O DF, assim como o restante do Brasil, encontra-se em uma grave crise de saúde pública e tal situação requer máxima expertise, para que as melhores medidas de contenção sejam implementadas, visando assim o benefício da sociedade como um todo. Soluções simples ou radicalismos não atendem à necessidade atual”, diz a diretoria da Sociedade, no documento.

Caos funerário

Na mesma linha, o Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) divulgou nota na qual diz apoiar o lockdown “por entender que a medida é necessária para reduzir a circulação de cepas mais transmissíveis da Covid-19, evitar o colapso do sistema de saúde e impedir um caos funerário em plena capital do país”, aponta o documento.

“Apoiar o lockdown não nos impede de criticar a falta de planejamento do GDF. Depois de um ano de pandemia, deixar que o sistema de saúde pública chegue à beira do colapso é inadmissível. Falta gestão, compromisso e estratégia no combate à pandemia e quem paga o prejuízo pelas falhas dos nossos governantes é a população, mais uma vez obrigada a se submeter a medidas tão radicais”, completa o Coren.

Mais tarde, em documento de 13 páginas, um grupo de pesquisadores de diferentes universidades do Brasil e de Portugal destacaram que a pandemia no Brasil está em franca expansão na maioria dos estados.

“[No documento] Mostramos com dados reais que o isolamento social, o chamado lockdown, é um instrumento eficiente de combate à pandemia, como muito bem exemplificado pela comparação entre o Distrito Federal e o estado do Amazonas. Mostramos também alguns prognósticos de possível evolução da pandemia baseados em nosso modelo epidemiológico”, ressaltaram os especialistas.

Confira o documento: 

Situação da Pandemia de Covid-19 no Brasil e Impactos da Campanha de Vacinação by Metropoles on Scribd

Um manifesto on-line, lançado nessa segunda-feira, reunia a assinatura de centenas de profissionais de Saúde contra a posição do CRM-DF. Confira o manifesto aqui.

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