Liderança feminina no mercado de trabalho é tema de conferência no DF
Painel sobre liderança feminina foi um dos destaques da VOGA Conference 2024. Debate teve a participação da CEO do Metrópoles, Lilian Tahan
atualizado
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A capital federal foi palco de uma conferência que trouxe para a cidade um seleto grupo de especialistas do mercado financeiro, líderes empresariais e investidores para um debate sobre tendências, empreendedorismo e a nova realidade econômica global. A segunda edição anual do VOGA Conference 2024 ocorreu no Royal Tulip Brasília, nesta sexta-feira (16/8).
Reconhecido como um dos mais importantes fóruns de discussão econômica no Brasil, o Voga Conference trouxe, na edição deste ano, uma programação vasta, com especialistas renomados, que abordaram temas desde inovação no setor público e empreendedorismo feminino até o impacto da tecnologia na sociedade.
Com foco em transformação, inovação e responsabilidade social, a conferência é realizada anualmente como oportunidade de networking e desenvolvimento de estratégias, de modo a impulsionar o futuro dos negócios e da sociedade.
Durante o painel “Liderança Feminina: Impacto e Evolução no Mercado”, o debate sobre o papel das mulheres no mercado de trabalho ganhou destaque. A conversa foi mediada pela jornalista Tainá Farfan e contou com a falas da CEO do Metrópoles, Lilian Tahan; da âncora da CNN, Tainá Falcão; e da sócia do BTG Pactual, Martha Leonardis.
CEO do Metrópoles Lilian Tahan, afirmou que, ao se tornar uma vitrine para outras mulheres, as líderes têm a missão de desbravar novos caminhos e inspirar.
“A coragem de enfrentar os desafios, sem saber o que vinha pela frente, foi a característica que me trouxe até aqui. Então, para mim, a liderança tem muito a ver com inspiração e desbravamento de caminhos novos. Muitas vezes, a gente não sabe o que nos aguarda, mas a coragem de experimentar, às vezes, nos coloca em posições de liderança”, refletiu.
Tainá Falcão destacou a importância de reconhecer a multifuncionalidade das mulheres, que desempenham vários papéis de liderança simultaneamente, seja em casa, no trabalho ou em outras áreas da vida.
A âncora da CNN compartilhou experiências no jornalismo e ressaltou a importância de encorajar e desafiar as novas gerações de mulheres no campo, especialmente em áreas tradicionalmente ocupadas por homens. “É claro que isso acaba sendo naturalizado, mas é um ponto de reflexão para a gente pensar todos os dias. Ainda é um desafio”, ponderou.
A mediadora do debate, Tainá Farfan, complementou a discussão, relembrando de um estudo, divulgado em 2013, que indicava que apesar das mulheres chegarem a cargos de chefia, elas tinham dificuldade em se manter nestes postos.
Lilian citou o início da sua trajetória profissional, principalmente dentro da cobertura política, na qual foi acostumada com um ambiente majoritariamente masculino nas redações de jornais.
“Talvez isso tenha forjado um pouco da minha característica para o que eu me tornei hoje, líder de um projeto em que eu, felizmente, conseguir colocar todo um board feminino no comando do Metrópoles. Se a gente não criar esse contexto, para que mais mulheres estejam ocupando esses espaços, a gente volta a ter uma desproporção pendendo para os homens em cargos de liderança” avaliou Tahan.
À frente das áreas de Responsabilidade Social e Eventos da BTG Factual, Martha Leonardis comentou sobre as dificuldades que ainda enfrenta representando uma minoria de mulheres que ocupa cargo de chefia.
“Em alguns momentos, eu me masculinizei, e eu me masculinizei quase na forma de me vestir, para chamar menos atenção, de uma forma geral em cores e etc. E, na forma de falar, eu estava super assertiva, né? Mas eles gostam de falar que a gente fica agressiva quando falamos mais duro, mas é assertiva. Porém, foi quando resgatei meu lado feminino que tive mais conquistas e resultados nos meus debates”, contou a sócia da BTG Factual.
Tainá Falcão também destacou um desafio recorrente: as conquistas das mulheres muitas vezes são acompanhadas de um “mas também”, uma forma de minimizar o mérito feminino. Ela enfatizou a necessidade de mudar essa mentalidade e de fortalecer a cultura de reconhecimento das conquistas femininas sem reservas.
Diferença salarial
O painel também abordou a questão da diferença salarial entre homens e mulheres. Tainá Farfan trouxe à tona dados recentes do Ministério do Trabalho que revelam que os homens ganham, em média, 20% a mais que as mulheres em todas as áreas de atuação. Ela apontou que, mesmo em cargos de liderança, a desigualdade salarial persiste.
Martha Leonardis lembrou de uma experiência pessoal do início de carreira em que, após perceber disparidades salariais, teve que reivindicar uma correção de seu salário. Ela destacou que muitas mulheres ainda hesitam em lutar por seus direitos devido ao medo de serem percebidas como agressivas.
“Eu bati na porta de quem pagava e falei: ‘Quero saber porque eu ganho menos do que fulano. Eu quero entender’, e a pessoa me respondeu: ‘Ah, porque você é casada, seu marido tem dinheiro’. Falei que não tinha entendido e pedi para começarmos a conversa de novo. E aí, enfim, eu reivindique e ganhei, mas isso é muito difícil”, relembra Martha.
Lilian Tahan complementou que ser mãe pode ser ainda mais desafiador no mercado de trabalho, mesmo que a mulher seja tão qualificada quanto um concorrente homem.
“Quando eu tive a oportunidade de fazer a diferença, eu contratei três mulheres grávidas, em processo seletivo ou que estavam como freelancer na empresa. É minha forma de reagir ao que eu fui vítima um dia”, acrescentou Lilian.