Lembra da professora Tereza Cavalcanti? Ela dá aula para concurseiros
Docente de português e literatura encerrou os trabalhos em colégios, em 2009, quando enveredou pelo ensino aos aspirantes a cargos públicos
atualizado
Compartilhar notícia
Como uma “engenheira das palavras”, Tereza Cavalcanti cravou seu nome na história da educação em Brasília. A definição, atribuída por seu mais especial “aluno” entre centenas de milhares em 31 anos de carreira – o próprio pai –, explica por que a professora de língua portuguesa e literatura cativou um sem-número de estudantes e se tornou uma das mais queridas docentes da capital da República.
“Em 2015, convidei meu pai, Carlos Alcebíades, a assistir, pela primeira vez, a uma aula de gramática ministrada por mim. Ao fim, ele disse: ‘Filha, você é uma engenheira das palavras, pois sua aula tem lógica cartesiana’”, relembra. Três décadas antes, Tereza, por pouco, não enveredou pela ciência da construção civil – como era o desejo do pai, que sonhava em ver a filha seguindo seus passos na profissão.
E mais: de 1995 a 1997, foi peça-chave no grupo de docentes responsável por definir as diretrizes do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), “vestibular” prestado pelos alunos em três fases – uma por ano – no ensino médio.
Base
Tereza nutre carinho por cada lugar em que trabalhou, mas o Leonardo marcou a vida dela de forma diferente. No colégio, ela pôs em prática os ensinamentos acadêmicos e alavancou a carreira. “A gente sai da universidade sem muita experiência. Ali [Leonardo da Vinci] me formei como professora. Já trabalhava, mas nesse colégio fui acolhida e aprendi a exercer a profissão de fato”, conta.
Na instituição, ela também moldou o próprio perfil, que mantém até hoje. Prontifica-se a chegar mais cedo ou estender o expediente, além de verificar a caixa de e-mails diariamente. O objetivo? Sanar dúvidas dos estudantes.
“Ela tenta mostrar novas perspectivas da matéria, explicar os porquês, sair da subjetividade. Assim, mostra o porquê de a literatura ser bonita”, relembra a ex-aluna Ana Albuquerque, 36.
Tereza não sai da memória daqueles que já se sentaram em uma sala de aula com ela. Por isso, são frequentes os reencontros com ex-alunos, na capital federal, Brasil afora e até no exterior. “Uma vez, fui à Espanha. Durante o voo, ouvi uma ex-aluna dizer: ‘Indo à Europa, que chique!’. Outro já me encontrou em uma praia deserta de Maceió”, recorda. “Não podemos fazer nada errado, pois está todo mundo de olho.”
O carinho dos ex-alunos é muito grande, e alguns deles criaram laços de amizade com a professora. É o caso do médico Lucas Leão, 28. Dez anos após a última vez em que estiveram juntos em uma classe, ele a reencontra pelo menos uma vez por mês. Quando Tereza sofre algum problema de saúde, é de Lucas o primeiro número discado por ela.
O rapaz foi aluno de Tereza no cursinho pré-PAS do hoje extinto Obcursos, em 2005, e no pré-vestibular de 2008. Tornou-se amigo dela não somente pelo aprendizado, mas pelo apoio extraclasse. “Após o fim do ensino médio, passei por dificuldades financeiras. Naquele momento, ela conseguiu bolsa para mim em cursinho”, conta Lucas, que se tornou médico da família. “É o mínimo que posso fazer por ela”, complementa.
Concursos
Tereza recorda com saudade os anos em que se dedicou ao ensino em escolas e cursinhos pré-vestibulares, mas descarta retorno a um trabalho desse tipo. A causa principal? O estresse da rotina, motivo pelo qual ela se despediu do ensino em colégios, em 2009, antes de apostar na carreira em cursos preparatórios para concursos.
“Em 2009, decidi que estava na hora de parar de trabalhar em escola. Foi decisão muito difícil, passei a vida inteira fazendo aquilo, mas estava cansada do ritmo. Ministrava seis aulas por manhã, às vezes era a mesma, achei que estava automatizando o processo. Parei de modo não traumático, nas férias. Apenas não voltei, não quis fazer drama ou despedida
Tereza Cavalcanti, professora de língua portuguesa e literatura
Hoje, Tereza leciona para concurseiros, presencialmente, no IMP Concursos, mas experimenta novas tecnologias: ela também ministra aulas em vídeo, no Gran Cursos. A nova investida, segundo ela, causou “frio na barriga, no início”, por receio de se tornar “um robozinho”. Hoje, porém, ela encara com naturalidade o trabalho diante de câmeras.