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Legado olímpico: após torrar dinheiro no Cave, GDF decide demolir obra

Reforma do estádio no Guará deveria ficar pronta para os Jogos Olímpicos. Agora, governo local remove o pouco do que estava feito

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O Cave no Guará está em obras
1 de 1 O Cave no Guará está em obras - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O Centro Administrativo Vivencial e Esportivo (Cave), no Guará II, tornou-se exemplo de desperdício de dinheiro público. Por meio de convênio, o Ministério do Esporte autorizou repasse de R$ 1,5 milhão para o Governo do Distrito Federal (GDF) adequar o espaço para receber seleções de futebol que jogaram em Brasília nas Olimpíadas de 2016, mas a reforma não ficou pronta antes do torneio.

Na semana passada, a empresa responsável pelo empreendimento, a Construteq Construções Terraplanagens e Comércio de Equipamentos, iniciou a retirada das colunas, vigas e ferragens erguidas há dois anos. Ou seja, o pouco que o Executivo local conseguiu entregar vai ao chão.

“Quem passa por aqui diariamente não acredita como um governo, supostamente em crise, joga dinheiro no ralo dessa forma. Iniciaram uma obra milionária e simplesmente entenderam, agora, que ela não serve mais para nada”, criticou Clécio Oliveira, líder comunitário da Região Administrativa.

No total, foram anunciados investimentos de R$ 8,8 milhões para o complexo, sendo R$ 6.166.632,96 da União e o restante dos cofres do Palácio do Buriti.

A ideia de escolher o Cave como sede de delegações esportivas internacionais surgiu ainda na gestão de Agnelo Queiroz (PT). O petista gostaria que o centro fosse usado na Copa do Mundo de 2014, mas, por falta de projeto, a iniciativa não avançou .

Ao assumir o comando do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB) ressuscitou o plano. O objetivo era tornar o lugar passível de abrigar alguma das 11 seleções de outros países que disputaram partidas das Olimpíadas 2016 no Estádio Nacional Mané Garrincha.

O planejamento incluía construir novos vestiários, dormitórios, sala de aquecimento e uma pequena administração. A revitalização contemplaria bilheterias e tribuna de imprensa, além de melhorias nas arquibancadas. As obras foram iniciadas em outubro de 2015, prazo considerado exíguo para os Jogos Olímpicos do Rio, que começaram em agosto de 2016.

Em novembro de 2015, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) determinou a suspensão do empreendimento. Na ocasião, o procurador do Ministério Público de Contas local (MPC-DF) Demóstenes Albuquerque, justificando a decisão, alegou que o GDF deveria dar prioridade a outros serviços.

“Existem inúmeras obras paradas na cidade por falta de recursos, qual a lógica de tirar mais de R$ 2,5 milhões dos cofres do DF para algo já existente em Brasília? O DF foi sede de uma Copa do Mundo com a estrutura dei hoje, por que a mesma estrutura não pode ser usada?“, indagou o procurador à época.

Dirigentes das delegações da África do Sul, da Austrália e do Iraque – equipes que jogaram em Brasília – chegaram a receber o Cave como sugestão de centro de treinamento, mas tiveram de buscar outras alternativas na cidade, como o CT do Brasiliense.

Veja imagens de como estava o Cave na quarta-feira (21/3):

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Operários trabalham para desfazer o serviço executado
Detalhe das colunas
O espaço será revitalizado
O gasto feito até agora vai para o ralo
Mesmo após Copa e Olimpíadas, o estádio segue inutilizado
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Colunas começam a ser retiradas

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Operários trabalham para desfazer o serviço executado

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Detalhe das colunas

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O espaço será revitalizado

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O gasto feito até agora vai para o ralo

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Mesmo após Copa e Olimpíadas, o estádio segue inutilizado

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O cenário é desolador

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Recursos federais e do DF destinados à obra não foram suficientes para entregá-la a tempo

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Tapumes: nada de partidas de futebol

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Mato alto toma conta do Cave

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Abandono
Atualmente, o espaço transformou-se num terreno com mato alto, lama e construções inacabadas. Foram erguidas 60 colunas – cada uma com 3 metros de altura –, e agora são retiradas por funcionários da Construteq. Rente ao extenso muro ao redor do complexo, dezenas de estruturas metálicas estão abandonadas e acumulam ferrugem.

A secretária de Esporte, Leila Barros, chegou a fazer discursos dizendo que a reforma do Cave seria um legado para o DF, principalmente para os moradores do Guará, pois poderiam usufruir de um espaço para a prática de esportes.

O outro lado
Em nota, o Ministério do Esporte informou que, do valor total, houve autorização de R$ 1,5 milhão e o restante será repassado apenas “mediante a execução física da obra, aferida pela Caixa Econômica Federal, mandatária da União”. Ainda segundo a pasta, foram efetivamente repassados somente R$ 155 mil.

De acordo com a Secretaria de Esporte, o assunto deveria ser tratado exclusivamente pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), a qual, por sua vez, respondeu que a demolição de toda a estrutura é necessária por causa de “ajustes feitos no projeto”.

Segundo a companhia, a tribuna de honra e a bilheteria também serão destruídas para as adequações. “As obras foram retomadas e serão concluídas em setembro deste ano”, diz a Novacap. Sobre os gastos, informou que o investimento total no Cave é de R$ 8,8 milhões, mas não detalhou quanto da parte destinada pelo GDF foi gasta no empreendimento.

PPP em curso
Sem interesse em gerir o Cave após a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Governo do Distrito Federal decidiu entregar o complexo para a iniciativa privada. Um mês após o encerramento dos Jogos Olímpicos, a Subsecretaria de Parcerias Público-Privadas, da Secretaria de Fazenda, lançou procedimento de manifestação de interesse a fim de encontrar empresas dispostas a administrar o Kartódromo Ayrton Senna, o Estádio Antônio Otoni Filho, o ginásio de esportes e o Clube Vizinhança.

Posteriormente, o GDF decidiu fazer uma licitação apenas para o Kartódromo. O edital foi publicado em 7 de março. O futuro concessionário deverá investir cerca de R$ 13,9 milhões na revitalização do espaço de corridas. A abertura dos envelopes ocorrerá em 12 de abril.

A partir dessa data, a Secretaria de Fazenda estima um período de 60 a 90 dias para a assinatura do contrato com o concessionário, que poderá administrar o local pelos próximos 30 anos.

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