Vice-governador e secretário de Meio Ambiente brigam pelo destino de Dengo: o leão fica no Zoo
A disputa já virou até meme na voz do rapper Pr15. Enquanto isso, o leão de 22 anos espera abrigo mais espaçoso no zoológico
atualizado
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O inofensivo leão Dengo despertou os instintos mais selvagens de integrantes do primeiro escalão do Governo do Distrito Federal. Uma disputa de poder para decidir onde o felino desdentado, portador de HIV e diagnosticado com artrose vai passar os últimos anos de sua vida fez dois governistas mostrarem suas garras. O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, André Lima, quer o Dengo debaixo da asa do DF. Renato Santana, vice-governador, defende com unhas e dentes a partida do animal para Cotia, em São Paulo, onde funciona o Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos.
Os dois políticos viraram protagonistas de uma novela animal que dividiu a cidade entre #VaiDengo e #FicaDengo. Ativistas defendem a ida do leão para um lugar mais espaçoso e bucólico. Dengo vive hoje confinado em uma jaula de 70 metros quadrados. Em Cotia, ele dividiria um espaço de 1.800 metros quadrados com outros 200 animais abandonados. Seria enviado a uma espécie de asilo dos bichos. Uma parte dos brasilienses acha que a casa de Dengo é o Zoológico de Brasília e que ele merece um fim de vida confortável, pois quem é rei nunca perde a majestade.
A confusão começou no início de agosto deste ano, quando Marcos Pompeu, fundador do Rancho dos Gnomos, passou pelo Zoológico de Brasília para buscar o Tigre Diego, que estava hospedado aqui a pedido do Ibama. Pompeu ficou consternado com a condição de Dengo e Tuan. O leão e a onça vivem em uma jaula apertada para o parte deles. Pela idade e as doenças não podem conviver com outros animais.
O Santuário paulista se ofereceu para cuidar dos felinos. Mas veterinários do Zoológico foram contra. Avaliaram que Dengo e Tuan não tinham condições de saúde para viajar. Foi aí que o segundo homem na hierarquia do GDF, o vice-governador, entrou em ação. Mediou um acordo para a transferência dos animais. E rugiu a boa nova: Dengo viajaria para a casa de repouso, em São Paulo. Só que o secretário André Lima achou que Santana estava invadindo o seu território. O Zoo é um órgão da administração indireta vinculado à Secretaria de Meio Ambiente.
A briga virou meme entre os membros do governo na voz do rapper Pr15: “Cê tá de Dengo”.
E aí começou o cat fight. Na selva política, André Lima tem um porte menor do que Santana. Mas não fugiu da briga. E atacou publicamente seu oponente. Antes de despachar Dengo, seria necessário avaliar quesitos jurídicos, técnicos e veterinários. Com medo da reação do vice-governador, o secretário pediu reforços. Convocou uma audiência pública e, na mais recente temporada deste “House of Cards”, episódio “National Geografic”, um colegiado formado por médicos do Zoo e do Conselho Regional de Medicina Veterinária concluiu que as doenças crônicas e a idade avançada de Dengo representa “um risco de saúde ou morte”, em caso de deslocamento.
“Com tantos problemas nas UTIs dos hospitais, acho que perdemos mais tempo do que o necessário com esse assunto”, reconheceu Renato Santana, que colocou a juba de molho.
Depois do quiproquó, o fundador do Rancho dos Gnomos desistiu da oferta: “Recuei quando percebi que a briga era política”. E quem rugiu por último foi André Lima, que passou a responsabilidade do caso para o Zoo e não fala mais sobre o assunto.
Dengo levou a pior. Depois de perderem um mês discutindo o vai e vem do rei deposto, o animal continua em suas modestas acomodações. Em meio à crise financeira, não há previsão de quando o GDF vai desembolsar os R$ 45 mil que faltam para os aposentos com vista para a vegetação. Mas vá lá, Dengo não é o único aposentado com risco de perder benefícios na capital da República.