Lazer, preço? O que tem levado brasilienses a trocar o Plano por Águas Claras
Conforme pesquisa da Codeplan, Águas Claras foi a região do DF que mais recebeu moradores entre 2015 e 2018. Maioria saiu do Plano Piloto
atualizado
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Águas Claras está entre as regiões administrativas do Distrito Federal que mais ganharam moradores nos últimos anos. Conforme o estudo Migração Interna no Distrito Federal – 2015 a 2018, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a maior parte dos migrantes para Águas Claras saiu do Plano Piloto. Mas quais fatores podem ter provocado essa mudança?
De acordo com a pesquisa realizada pelo órgão, nesse período, 192.235 pessoas saíram de uma região administrativa para outra. Águas Claras recebeu o maior número de migrantes, 29.051 pessoas. Desse total, 14.523 tinham o Plano Piloto como antiga moradia.
Veja:
O Metrópoles conversou com corretores de imóveis, entidades e pessoas que optaram pela mudança do Plano para Águas Claras, para entender as razões para essa migração.
De acordo com Marcelo Sicoli, um dos diretores do Sindicato dos Corretores de Imóveis do DF (Sindimóveis-DF) e conselheiro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do DF (CRECI-DF), o valor mais em conta do metro quadrado em Águas Claras tem influenciado, mas o preço não é o principal fator.
“Em média, o preço médio do metro quadrado em Águas Claras é 33% mais barato do que em Brasília”, diz. “Esse índice é do estudo que é feito mensalmente pela imóvel web. Eles fazem esses estudos baseados em anúncios”, explica.
“Antes, Águas Claras tinha algumas deficiências estruturais, mas, com o passar do tempo, a infraestrutura pública melhorou bastante. Áreas que ficavam alagadas não ficam mais, tem o transporte público, com três estações de metrô”, pontua. “Então, as pessoas encontraram transporte público disponível, fluxo viário melhor, imóveis mais baratos”, completa.
Com o crescimento da região administrativa, ele aponta que opções de lazer nos condomínios e o comércio local também são atrativos para novos moradores. “Há condomínios grandes que mesmo tendo apartamentos menores do que os da Asa Sul e Asa Norte são condomínios clubes, onde você tem salão de festas, piscina. Então, mesmo que a pessoa more em um espaço menor, ela tem uma estrutura melhor”, destaca Sicoli.
“Além disso, agora existem em Águas Claras alguns condomínios que Asa Sul e Asa Norte não têm, que são aqueles onde há shopping, comércio, supermercado, academia, tudo ali à disposição do morador”, acrescenta.
Diferenciais
Conforme Eduardo Aroeira Almeida, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (ADEMI-DF), essas diferentes opções com preços mais baixos também atraem os mais jovens.
“É uma cidade mais nova, com condomínios mais adaptados. Não que isso não ocorra no Plano, mas quando ocorre, como por exemplo no Noroeste, o valor fica muito mais caro”, afirma. “A qualidade da cidade e a consolidação de comércios, shoppings, universidades, a torna por si só muito atrativa, e isso é muito identificado pelos próprios jovens”, completa.
Segundo ele analisa, diferentes opções de mobilidade dentro da cidade também chamam a atenção. “Tem um perfil mais moderno de cidade sustentável, no sentido de que tem diversidade de uso lá. A pessoa quer ir num mercado e consegue ir a pé, isso é uma característica bem típica de Águas Claras. Além de ter outras modalidades de transporte, gente que anda de bicicleta, de patinete elétrico…”, comenta Eduardo.
Júlia Pereira, gerente de pesquisas da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, da Codeplan, reforça que a busca por um apartamento em Águas Claras ainda é maior por parte de pessoas que estão iniciando a carreira profissional e procuram por preços mais baixos.
“Águas Claras teve esse grande boom entre 2000 e 2010 que continua se refletindo, mas a tendência agora é dar uma estabilizada”, assinala. “O que a gente observa é que a estrutura etária é muito concentrada entre os 30 e 50 anos. Hoje, ainda é viável alugar ou comprar um apartamento a um preço mais barato que no Plano, seja para pessoas que estão saindo da casa dos pais agora ou para quem já tem suas vidas, famílias e morava no Plano.”
Áreas de lazer
Fatores como preço e infraestrutura motivaram o bancário George Cardoso, de 40 anos, e o companheiro dele, Roberto Silva, 63, a se mudarem para Águas Claras. O casal vivia no Setor de Hotéis e Turismo Norte e deixou o Plano Piloto em fevereiro deste ano após pesquisar preços e comprar uma residência na Rua Buriti.
“Com o tempo, o apartamento foi ficando pequeno para a gente, precisávamos de um espaço maior e, na pesquisa de imóveis, verificamos que o preço em Águas era mais vantajoso em relação ao tamanho do apartamento, a própria estrutura do edifício”, conta George.
Além do valor do aluguel ser menor, chamou a atenção dos dois a área de lazer do novo condomínio. “Tem piscina, academia, churrasqueira, área gourmet, salão de festas, uma estrutura completa.”
“Estou agora em home office, mas imagino que o lado negativo [da mudança] possa ser o trânsito. Tenho consciência de que quando as coisas voltarem ao normal, o trânsito estará mais carregado. Na região onde eu morava mal tinha ônibus e agora tem o metrô, que pode ser uma opção”, acrescenta.
Prédio com elevador
O casal Joacyr Gomes de Oliveira, 82, e Laura Andrade Guimarães de Oliveira, 78, deixou o Plano Piloto em novembro de 2020. Mobilidade, lazer e preço foram os principais motivos que levaram os dois aposentados a escolherem um apartamento em Águas Claras.
“Morávamos no segundo andar de um prédio que só tinha escada. Quando a gente era novo, tudo bem, mas o tempo foi passando e vieram os problemas de saúde, aí ficou difícil”, comenta Joacyr. “O condomínio estava caro lá, a gente pagava e não usava nada. E como eu já tinha uma filha morando aqui [Águas Claras], viemos para cá. Estou satisfeito”, completa ele.
Joacyr e Laura viveram na Quadra 408 da Asa Norte por 40 anos, onde criaram os três filhos. Após venderem o imóvel, eles compraram um apartamento na Rua 25 Norte, em Águas Claras. “Tinha muito bar, muito barulho, era difícil de estacionar porque a gente não tinha garagem. Agora, temos tudo que precisamos, com mais conforto. É mais barato e tem as vantagens da garagem, piscina, casa de jogos…”, narra.