Veneno de sapo: laudo mostra efeitos causados em advogada submetida a ritual
Substância apreendida no Entorno do DF já tem causado problemas psicológicos no país. Laudo aponta sequelas após uso de veneno de sapo
atualizado
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A advogada Gabriela Augusta Silva, 33 anos, teve graves sequelas após ter passado por experiência com substâncias alucinógenas do grupo xamânico Sete Raios. O grupo, com mais de 200 mil seguidores no Instagram é acusado de usar o veneno do sapo Bufo alvarius, sem o consentimento ou autorização dos participantes, em rituais.
De acordo com o relatório médico psiquiatra, após o uso da substância, Gabriela apresentou um quadro ansioso grave, com crises de pânico. “Estado de ansiedade e alerta constantes, insônia, inapetência com perda ponderal, sintomas físicos como calafrios e desregulação térmica, além de importante e evidente sofrimento mental”, descreveu o laudo.
Gabriela disse que, além dos sintomas apresentados, chegou a tentar suicídio depois da aplicação do veneno. Ela alega que não conhecia a substância e que se sentiu enganada pelo grupo. “Perdi meu chão e me senti perdida, ludibriada, não falaram o que era, não sabia que era ilícito, não teve um termo de responsabilidade sequer e aplicaram a substância”.
A advogada contou que buscava ajuda espiritual após a morte do irmão, quando encontrou o Instagram do grupo prometendo acalmar a mente e trazer paz de espírito. Ela teria pago R$ 1,3 mil pela prometida jornada espiritual.
Gabriela ainda alegou que teria sido dopada com a substância. “Eu não lembro, apaguei, mas me contaram que vomitei, tive calafrio, tremedeira”. Ela teria perdido a consciência e acordado cerca de 30 minutos depois.
O caso ocorreu no ano passado, e Gabriela nunca mais foi a mesma pessoa. Ela contou que fez ocorrência à Polícia Civil de São Paulo na época, mas o caso não teve desdobramentos. A história veio à tona neste mês após a apreensão do alucinógeno em Pirenópolis, no Entorno do Distrito Federal, inédita. A substância foi encontrada na casa de um líder espiritual.
Assim como Gabriela, a comissária de bordo Franciele Roggia, 33, apresentou problemas depois de passar por experiência com o mesmo grupo. “Tentei suicídio, tenho medo de tudo. Eu trabalho há 12 anos com aviação e nunca havia sentido medo. Depois da substância, acho que pode cair a qualquer momento.”
Franciele contou que não fazia ideia que a substância era ilegal até mesmo porque era anunciada tranquilamente no perfil do grupo. Ela informou acreditar no tratamento.
Veneno proibido
O veneno encontrado no sapo Bufo Alvarius é o psicodélico 5-MeO-DMT, que está na lista de substância proscritas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O animal não tem origem no Brasil e é encontrado no México e nos Estados Unidos.
A substância, conhecida popularmente como “bufo”, seca quando extraído e, depois, é fumado em rituais e cerimônias ditas religiosas e espirituais no exterior e no Brasil, liberando os alucinógenos.
O Instituto Butantan alertou sobre o uso dessas substâncias que causam efeitos psicodélicos. “O uso do veneno bruto pode provocar alucinações, problemas respiratórios e cardiovasculares, convulsões, ansiedade e paranoia.”
Segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça, “o uso de substâncias alucinógenas como a 5-MeO-DMT, retirada do sapo Bufo alvarius, é crime, uma vez que tal prática é proibida no país”. A fiscalização é atribuição da polícia, afirma a Senad.
Instituto Sete Raios
O grupo Xamanismo Sete Raios é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura possível crimes de tráfico de drogas. Segundo a polícia, o Departamento de Investigações sobre Narcóticos segue realizando diligências para o esclarecimento dos fatos. Um segundo inquérito chegou a ser aberto para apurar a prática de curandeirismo, mas foi arquivado por falta de provas.
O Metrópoles tentou contato com o grupo que não respondeu até a publicação deste texto. O espaço está aberto para possíveis manifestações.