Kriptacoin: à Justiça, líder do esquema diz que não prometia dinheiro
Weverton Marinho não informou onde estão os recursos que ganhou dos investidores, com a moeda virtual. Prejuízo é estimado em R$ 250 milhões
atualizado
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Os suspeitos de comandar um esquema envolvendo a moeda virtual Kriptacoin foram interrogados pela 8ª Vara Criminal de Brasília, na terceira e última audiência relacionada ao processo, o qual teve início em setembro de 2017, após uma megaoperação policial. O negócio movimentou R$ 250 milhões, de acordo com as investigações. Ao juiz, Weverton Marinho (foto em destaque), considerado o líder do esquema, negou que prometia dinheiro aos investidores. Segundo disse, tratava-se apenas de moedas digitais, e a valorização dependia da aceitação do mercado.
Questionado, Marinho não soube informar onde está o dinheiro arrecadado no esquema e refutou o uso de documentos falsos. Explicou que abriu empresas e transferiu veículos para terceiros porque estava com o nome sujo.
O empresário Fernando Ewerton também foi ouvido na segunda-feira (22/1). Afirmou que não sabia das atividades criminosas do grupo. De acordo com ele, um primo apresentou-lhe a empresa porque estava interessado na moeda virtual, devido ao crescimento da modalidade no mercado financeiro. Ewerton investiu R$ 1 milhão no desenvolvimento da Kriptacoin e foi vítima dos irmãos Marinho, explicou.
Depressão
O estado de saúde de dois dos presos preocupa os advogados e a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor (Prodecon), que acompanha o caso. Hildegarde Melo, interno do Centro de Detenção Provisória (CDP) desde 21 de setembro de 2017, alega sofrer de depressão e estar sem tomar os remédios controlados de forma adequada.
“Ele vem sendo medicado parcialmente, pois só pode ter acesso a todos os medicamentos que precisa depois que passar por uma avaliação psiquiátrica – procedimento que deve ser feito pelo sistema carcerário”, explicou o advogado Karlos Eduardo de Souza Mares.
“Até agora, ele não foi atendido por um médico. Também notei que está amarelo e com muita febre. Pedi que a Secretaria de Saúde fosse notificada, de forma cautelar, e investigasse o caso, uma vez que o país sofre um surto de febre amarela”, completou Mares.
Confira o documento que Karlos Eduardo de Souza Mares enviou à Vara de Execuções Penais (VEP):
Agressão na cadeia
Welbert Richard Viana Marinho, irmão de Weverton Marinho, também se mostrou debilitado na audiência. Ele apresentava hematomas pelo corpo e disse aos promotores que sofre com crises de ansiedade e ataques de pânico.
O advogado Divaldo Theóphilo de Oliveira Netto explicou que o cliente deve ser acompanhado por um especialista. Segundo o defensor, os ferimentos são decorrentes de uma briga com outro detento. “Ele mudou de pátio. As investigações sobre a agressão estão em andamento e são sigilosas”, destacou.
Apuração
A Prodecon comunicou ambos os casos ao Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O promotor responsável pelo processo, Paulo Roberto Binicheski, pediu a adoção de providências, entre elas o encaminhamento para o tratamento dos presos e eventual investigação, se for o caso.
O Metrópoles fez contato com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, com a Subsecretaria do Sistema Penitenciário do DF e com a VEP, para esclarecer a situação. No entanto, até a publicação desta reportagem, apenas a Saúde havia respondido.
De acordo com a pasta, Hildegarde Nascimento Melo foi examinado e avaliado pela equipe médica nesta quarta-feira (24). “Ele apresenta escabiose – doença de pele –, foi medicado e voltou para a cela”. O surto da doença entre presos e agentes penitenciários foi noticiado pelo Metrópoles no ano passado. A suspeita de febre amarela foi descartada.
Relembre o caso
Os acusados criaram a moeda virtual no fim de 2016 e, a partir de janeiro do ano passado, passaram a convencer investidores a aplicar dinheiro na Kriptacoin. Segundo a polícia, a organização criminosa atuava por meio de laranjas, com nomes e documentos falsos.
O negócio, que funcionava em esquema de pirâmide, visava, segundo as investigações, apenas encher o bolso dos investigados, alguns com diversas passagens pela polícia, por uma série de crimes. Entre eles, o de estelionato. A fraude pode ter causado prejuízo a 40 mil investidores, muitos deles de fora do Distrito Federal.
Os envolvidos foram denunciados pelo Ministério Público por organização criminosa, falsificação de documentos e criação de pirâmide financeira.