Justiça por Izabel: família faz pressão por pena máxima a feminicida
Julgamento de acusado pela morte de Izabel Aparecida Guimarães de Sousa está marcado para 12 de dezembro no Fórum de Ceilândia
atualizado
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Há quase dois anos, a família de Izabel Aparecida Guimarães de Sousa espera por Justiça. Na tarde de 4 de fevereiro de 2023, a vendedora foi morta com tiro na testa, na frente da filha, disparado pelo ex-companheiro Paulo Roberto Moreira Soares, no P Sul. O julgamento está marcado para 12 de dezembro, no Fórum Desembargador José Manoel Coelho, em Ceilândia. Com os corações apertados, parentes da vítima defendem a imposição de pena máxima ao feminicida.
Veja:
Paulo Roberto está preso preventivamente por feminicídio. Mas, para a família, a demora no julgamento é angustiante. Segundo a bombeira militar, enfermeira e professora, Érika Tayná de Souza Nascimento, sobrinha de Izabel, os parentes estão ansiosos pelo julgamento. De acordo com a jovem, a condenação também é necessária para conter a onda de casos de feminicídios e de violência contra a mulher no DF.
“Estamos ansiosos para ele não fique impune. Que pague de verdade pelo que fez, com uma pena justa. Porque a minha tia a gente não vai ter de volta, infelizmente. Ela não volta. Mas ele tem que pagar”, afirmou Érika. A jovem, inclusive, lançou uma pesquisa para avaliar como o Sistema Único de Saúde (SUS) pode ajudar na luta contra o feminicídio.
Ouça:
Na família de Izabel, em alguns dias, a saudade aperta. Em outros, a raiva grita mais alto. “Aquele tiro atravessou todo mundo e causa feridas até hoje. Toda vez que a gente vê que o tempo passa e ele não é condenado, é como se atirassem de novo na gente. É uma dor inexplicável”, lamentou a jovem.
Mensagens e telescópio
A filha de Izabel testemunhou a morte na mãe. Segundo Érika, a família tem buscado todas as formas para cuidar da criança, traumatizada pela violência. “Ela sente muita falta da mãe. Mandava mensagens para ela, sabe? Na esperança de que a mãe respondesse. Ficava ligando, desejando feliz Dia das Mães, feliz Dia das Mulheres, falando que sente muita saudade…”, contou.
A menina pediu um telescópio de aniversário. “Porque queria ver o céu, na esperança de encontrar a mãe dela”, revelou Érika. A criança frequentemente dorme chorando e acorda com pesadelos. “Ninguém ensinou para a gente como se cria um órfão do feminicídio”, pontuou.
Epidemia de feminicídio
“É muito importante que ele seja condenado e que a sociedade veja que ele foi condenado. Porque nós estamos em uma epidemia de feminicídios. Que mostrem que isso não vai ficar impune. Não podemos normalizar, deixar preso por 10 anos e depois soltar um homem que tirou a vida de uma mulher, por causa de um fim de relacionamento. Isso não pode acontecer. Temos que mostrar que existe Justiça no Brasil”, assinalou.
A pesquisa de mestrado de Érika, na Universidade de Brasília (UnB), aborda a percepção dos profissionais de enfermagem no atendimento às vítimas de violência doméstica na Atenção Primária à Saúde. A partir da conclusão do estudo, a pesquisadora vai propor uma estratégia que possibilite ao Sistema Único de Saúde (SUS) acolher as vítimas e quebrar o ciclo de violência no início das agressões, antes de os casos chegarem ao ponto de um feminicídio.
Segundo o Painel dos Feminicídios da Secretaria de Segurança Pública (SSP), o DF foi palco de 208 feminicídios entre 1º de janeiro de 2015 e 27 de novembro de 2024.
Ao longo da série histórica, 2023 foi o ano com o maior número de casos, com 31 feminicídios no período. Na contagem parcial de 2024, até sexta-feira (6/12), foram 21.
Na análise do perfil de 210 vítimas, a SSP descobriu que 67,8% não registraram ocorrência contra o autor por violências ocorridas antes do feminicídio. Do total, 63,8% já haviam sido agredidas.
Casos recentes
Edilson de Sousa Nascimento, 35 anos, foi preso em 23 de novembro após matar a assistente social Bertha Victoria Kalva Soares, aos 27 anos. O corpo dela foi encontrado em 22 de novembro, em Ceilândia, com lesões e sinal de estrangulamento. O suspeito conheceu a vítima três dias antes do crime, segundo as investigações, e negou as acusações durante interrogatório.
Poucos dias antes, em 19 de novembro, o suspeito pelo assassinato de Mayanara Lopes Ribeiro, 21, Daniel Silva Vitor, 43, foi preso. O crime ocorreu em 14 de novembro no assentamento Leão de Judá, em Samambaia Norte. No momento em que foi assassinada, a mulher falava ao telefone com a mãe, que ouviu todo o ataque de Daniel, bem como os pedidos de socorro da filha.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que endurece a pena para quem cometer o crime de feminicídio. Agora, a prisão pode ser de até 40 anos. A pena mínima subiu de 12 para 20 anos.