Justiça nega habeas corpus para agente que matou PM em boate
Crime ocorreu após um desentendimento na casa de shows Barril 66. O agente teve a prisão em flagrante convertida em preventiva
atualizado
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A Justiça do Distrito Federal negou o pedido de habeas corpus feito pela defesa do agente da Polícia Civil Péricles Marques Portela Júnior (foto em destaque), 39 anos. O policial é acusado de matar o primeiro-tenente da PMDF Herison Oliveira Bezerra, 38, após um desentendimento na casa de shows Barril 66, às margens da Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB).
O crime ocorreu na madrugada de segunda-feira (15/04/19). Na terça (16/04/19), a juíza Flávia Pinheiro Brandão Oliveira, do Tribunal do Júri de Águas Claras, decidiu mantê-lo preso. A defesa recorreu da decisão. De acordo com os advogados de Péricles, “não existe razão para a manutenção da prisão preventiva porque o delegado de polícia que registrou o flagrante entendeu tratar-se de legítima defesa”.
Argumentaram que a prisão é ilegal e “a soltura do agente não colocará em risco a ordem pública ou a coletividade”. Ao indeferir o pedido, o desembargador José Jacinto Costa Carvalho diz entender que a forma como ocorreu o crime revela a “periculosidade” do policial. “Não se trata de uma conclusão absurda. No caso, realmente não há como ignorar a desproporcionalidade entre a conduta do paciente e a causa do desentendimento com a vítima, ou seja, um simples esbarrão.”
O crime foi flagrado pelas câmeras de segurança do estabelecimento. Nas imagens, é possível ver o policial militar passando em frente ao agente. Eles se esbarram e o policial civil saca a arma e atira. O PM chega a pegar a pistola, mas é alvejado antes.
O oficial, que era lotado no 10º Batalhão de Polícia Militar (Ceilândia), levou três tiros – dois no tórax e um no abdômen. Ele chegou a ser levado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas não resistiu aos ferimentos. Morreu por volta das 4h na unidade de saúde. Uma mulher levou um tiro de raspão na perna.
Os disparos foram feitos por uma arma calibre .40. A namorada do PM quase foi atingida. Nas imagens flagradas pelas câmeras de segurança, ela aparece tentando socorrer a vítima, que deixa um filho adolescente.
“Minha vida era o Herison e, sem ele, perdeu o sentido.” A administradora de empresas Aline Rabello, 30, descreveu assim o momento de luto por causa da morte do namorado. Eles se relacionavam há três anos e moravam juntos há um ano, em Ceilândia. Ela disse lembrar com clareza dos momentos que antecederam a morte do companheiro. Em entrevista ao Metrópoles, a administradora negou que o militar tenha se desentendido anteriormente com o agente da Polícia Civil (PCDF).
“Eu estava lá com ele. Chegamos por volta das 2h da manhã e o assassinato foi às 3h30. Herison me acompanhou até a porta do banheiro, como sempre fazia, quando passou pelo corredor e o policial civil deu uma cotovelada nele. Então, Herison perguntou o que estava acontecendo. Foi quando ele [Péricles] sacou a arma e atirou”, afirmou.
O policial civil foi preso, levado para a 21ª DP e depois encaminhado à Corregedoria da corporação. Segundo a PCDF, Péricles Marques Portela Junior foi autuado em flagrante por homicídio e lesão corporal. Está à disposição da Justiça.
Chamados ao local, bombeiros informaram que o tenente foi levado inconsciente e com uma hemorragia grave ao HRT, onde acabou falecendo. A corporação disse, ainda, que a outra vítima – identificada como Andressani de Oliveira Sales, 39 – levou um tiro de raspão na coxa.
Cinco homens armados
No momento dos disparos, a boate estava lotada. O estabelecimento tem capacidade para 1,5 mil pessoas. Um policial militar que atendeu a ocorrência contou que estava na viatura, perto da boate, quando ouviu os disparos.
“Presenciamos muitas pessoas correndo, pulando a grade, as janelas. Tentamos ver se alguém estava armado, mas não vimos nada. Nos informaram que tinha um policial baleado no banheiro. Entramos e encontramos ao menos cinco pessoas armadas na boate, entre policiais civis e militares”, relatou o PM, que não quer ser identificado.
Ainda de acordo com ele, o tenente Herison estava deitado no chão, ferido, em estado grave. O Corpo de Bombeiros foi acionado e a equipe tentou localizar o atirador. “Uma testemunha afirmou que o suspeito estava saindo do local. Corremos, pulamos a cerca e conseguimos detê-lo. Ele ficou dizendo que ia se entregar, mas demos voz de prisão, pedimos a arma e o levamos para a 21ª DP”, contou o militar.
Amigo de profissão de Herison, o tenente Lino, também lotado no 10° BPM, falou sobre a convivência com o companheiro. “Uma grande perda para a família PMDF [Polícia Militar do Distrito Federal]. Policial atuante e proativo. Muito benquisto pelas lideranças comunitárias do Sol Nascente, onde atuava. Este é um momento difícil para a corporação, especialmente para os que conviviam diariamente com ele”, comentou o amigo.
Herison estava na PMDF desde 2012. Ele concluiu o Curso de Formação de Oficiais três anos depois. Em 14 de março deste ano, o policial foi homenageado na Câmara dos Deputados por ter apreendido mais de 50 armas de fogo e recuperado 20 veículos, produtos de roubo e furto, em seis anos de profissão.