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Justiça marca julgamento de padre do DF acusado de abusos sexuais

Embora esteja foragido desde agosto de 2021, a Justiça começará a ouvir as testemunhas do processo. Ao menos oito jovens foram vítimas

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Tiago Teles/Material cedido ao Metrópoles
Delson Zacarias
1 de 1 Delson Zacarias - Foto: Tiago Teles/Material cedido ao Metrópoles

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) marcou, para 15 de setembro deste ano, o julgamento do padre Delson Zacarias dos Santos (foto em destaque), 48 anos. Ele foi denunciado por abuso sexual e estupro de vulnerável contra adolescentes — feriu três artigos do Código Penal. O caso, que detalhou os ataques sexuais ocorridos entre 2014 e 2021, foi revelado em primeira mão pelo Metrópoles, em julho do ano passado.

Padre do DF usava doce para atrair coroinhas e cometer abusos sexuais

Embora esteja foragido desde agosto de 2021, a Justiça começará a ouvir as testemunhas do processo. Apesar dos autos citarem que o acusado, no exercício de sacerdócio, teria abusado de cinco jovens, a reportagem apurou que pelo menos oito pessoas teriam sofrido investidas sexuais por parte do religioso.

Confira fotos do padre foragido:

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Padre é acusado de estupro de vulnerável
DPCA recebeu o caso em junho de 2021
Delson foi afastado de suas funções
Umas das vítima relata se lembrar apenas de fleches do momento, que aconteceu entre 2014 e 2015, na paróquia São Mateus, em Sobradinho
A série de abusos, entre 2001 e 2021 foi revelada, com exclusividade, pelo Metrópoles
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Delson Zacarias dos Santos

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Padre é acusado de estupro de vulnerável

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DPCA recebeu o caso em junho de 2021

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Delson foi afastado de suas funções

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Umas das vítima relata se lembrar apenas de fleches do momento, que aconteceu entre 2014 e 2015, na paróquia São Mateus, em Sobradinho

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A série de abusos, entre 2001 e 2021 foi revelada, com exclusividade, pelo Metrópoles

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Pena

Delson foi enquadrado nos artigos 217-A, § 1; 215-A e 69 do Código Penal. O primeiro dispõe sobre ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos e prevê pena de oito a 15 anos de prisão.

“Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”, destaca o inciso.

Já o segundo artigo, pelo qual o religioso foi denunciado, detalha sobre ter conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com alguém mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. Neste caso, a pena é de dois a seis anos de reclusão. “Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa”, destaca a lei.

Por fim, o artigo 69 fala sobre a repetição do crime. Quando o ato é praticado mais de uma vez, a pena pode acumular. “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela”, diz o artigo.

Outro lado

Procurada pelo Metrópoles, a defesa do padre Delson informou que não vai se manifestar. “Até por questões legais (o processo corre em sigilo), não comentamos nada sobre o caso”, resumiu o advogado.

Relembre o caso

O caso é investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), desde junho do ano passado. Delson acabou indiciado por estrupo de vulnerável. Por se tratar de um crime que envolve menor de idade, as informações não foram divulgadas pela polícia e ficarão sigilosas até o final do processo.

No entanto, a reportagem apurou, com exclusividade, a abertura do inquérito e os desdobramentos contra o sacerdote que acumula passagens por paróquias no Riacho Fundo I, Sobradinho e Lago Sul. Além das celebrações eucarísticas, Delson ministrava aulas no seminário de Brasília e na Faculdade de Teologia (Fateo).

Em um dos casos, a violência sexual praticada contra uma das vítimas, um jovem hoje em fase adulta – que não terá a identidade revelada para preservar sua integridade – iniciou quando ele tinha apenas 13 anos. Em contato com a reportagem, o rapaz descreveu os longos seis anos e seis meses nos quais sofreu abusos quase semanalmente.

O ataque do religioso teria começado na casa paroquial, antes de um casamento, em 2014: “Você se masturba ou assiste pornografia?”, questionou o padre ao então adolescente. O jovem respondeu que não, mas o sacerdote insistiu no assédio.

Na ocasião, o religioso pediu que o rapaz se levantasse e abaixasse as calças. O suspeito queria ver o órgão genital da vítima. “Eu resisti e ele me disse para não ter medo, que ele não faria nada. Nesse momento fiquei assustado, mas confiei. Abaixei as calças e ele tocou no meu pênis”, conta.

“Ele notou que fiquei em choque e pediu que eu levantasse as calças. Depois, voltei a me sentar no sofá em que eu estava. Ele, então, me pediu desculpas e disse que eu não precisava contar nada para os meus pais e que aquilo não aconteceria novamente”, revela.

Apesar da pouca idade, o jovem diz que sabia que o que havia acabado de acontecer era errado. “Tinha consciência de que se tratava de abuso. Por outro lado, acreditei que aquilo não aconteceria novamente e vi sinceridade no padre”, relembra.

Duas semanas depois, os assédios tornaram a acontecer. “Ele me convidou para o quarto de visitas e pediu que eu me deitasse na cama, para me fazer uma massagem. Ele me prometeu que não faria nada. Confiei e deixei. Então, eu tirei minha camisa e deitei. O Pe. Zacarias pegou o creme passou em minhas costas e começou a fazer a massagem, em instantes peguei no sono”, relembra.

“Quando acordei, estava sem meu short e ele estava alisando minhas nádegas e minhas pernas. Me dei conta e pedi para me vestir. Ele disse para eu tomar banho e ‘brincou’ dizendo que iria tomar banho comigo, mas eu disse que não. Depois me deu uma toalha limpa e sabonete lacrado e disse mais ou menos assim: ‘Vou tomar banho com você, hein? Estou brincando’. Após o banho me vesti e fui para casa, com um pedido dele: que não contasse a ninguém o que tinha acontecido.”

Segundo a vítima, próximo ao Natal de 2014, ele procurou o religioso na intenção de se confessar, mas teve o sacramento negado. “Ele foi bem sincero comigo, dizendo que não poderia me confessar, pois ele estava realizando práticas de abuso comigo”, relembra.

“Papo na cama”

Padre Zacarias é conhecido por ser bastante atuante com o público jovem. A convivência com ele sempre aparentou ser amistosa, para quem via de fora. “Nos momentos em que estávamos a sós, ele aproveitava para fazer as ditas massagens. Certo dia, ele intitulou essa prática de ‘papo bed’, ou seja, papo na cama. E me convidava sempre: ‘Vamos para o papo bed?”, conta o rapaz.

“Eu nunca estive confortável com tais atos, mas sempre me senti coagido a fazer aquilo. Por diversas vezes, eu dava um basta e pedia que a sessão de massagens e abusos parassem, o que na maioria das vezes era respeitado sem muitas insistências”, conta o rapaz.

Segundo o jovem, depois de um tempo, as massagens evoluíram para a masturbação. “Ele me colocava na cama, me molestava, abusava e fazia sexo oral para me excitar, o que era inevitável. Em certos momentos, picos de raiva subiam sobre mim, o que me faziam elevar meu tom de voz. Eu falava que não queria mais aquilo”, recorda.

Ao Metrópoles a vítima disse que sempre viu o sacerdote como uma “boa pessoa”. Que era presenteado com frequência e que encarava o religioso como um pai. “Por muitas vezes ele dizia que me tinha como um filho. Quando eu ficava irritado com os abusos e falava bem sério com ele, ele reconhecia sua falha e sempre me prometia que iria parar, mas sempre voltava a fazer”, lamenta.

Os abusos ficaram ainda mais intensos em meados de abril de 2017, quando aconteceu pela primeira vez a conjunção carnal. “O Pe. Zacarias propôs o ‘papo bed’ e começaram as sessões de abusos. Fiquei sem reação quando ele tirou as calças. Senti meu coração bater forte. Ele forçou a penetração, sem preservativos. Aquilo doía muito”, relembra o rapaz.

“No início eu pedia para parar, depois de um tempo não tinha mais voz para conter as ações e tudo o que eu fazia era deixar a consciência dele trabalhar e perceber o mau que estava fazendo. Eu deixava, não porque gostava, mas aceitar e ficar em silêncio era menos dolorido do que fazer força para dificultar o ato”, relembra o rapaz.

A vítima conta que o padre chegou a tirar fotos dele sem roupa. “Eu pegava no sono nu e acordava com barulhos do celular tirando fotos, outras vezes passando o pênis no meu corpo, beijando meus lábios e me depilando. Ele me fez ejacular diversas vezes, e preservava meu esperma em um paninho de limpar óculos e meus pelos em um pote”, revela.

Apesar dos acontecimentos, o jovem diz que nunca teve dúvidas sobre a sua orientação sexual. Que chegou a namorar meninas em algumas ocasiões. “Já que a sua namorada não está aqui para você pegar ela, eu vou te pegar”, teria dito o padre.

Já no início de 2021, um novo ataque voltou a ocorrer. “Em um sábado, ele começou a fazer massagens e pensei que nada fosse acontecer, até que tudo voltou a se repetir. Ainda com roupa, ele passava a bunda dele sob meu pênis e insinuava uma penetração, tirou suas calças e continuou, mas quando tentou tirar minha eu me levantei. Ele me virou de bruços, tirou mesmo assim, eu coloquei o travesseiro sob minha cabeça e deixei que a consciência dele agisse”, narra.

Depois desse acontecimento, o jovem se afastou da presença do sacerdote e decidiu denunciá-lo à polícia. Atualmente, o caso corre em segredo de Justiça.

O que diz a Arquidiocese

Procurada à época da denúncia, a Arquidiocese de Brasília, em nota, informou ao Metrópoles que a Igreja presta assistência protetiva e psicológica aos envolvidos e instaurou um processo de investigação. Além de ter providenciado o afastamento do acusado de seu ofício sacerdotal.

“A Igreja de Brasília conta com uma Comissão Arquidiocesana de Proteção de Menores e Pessoas vulneráveis, presidida pelo Padre Carlos Henrique. Nosso compromisso é cuidar que os ambientes de nossas comunidades sejam seguros e confiáveis para as crianças e adolescentes, acolher as vítimas e as testemunhas de eventuais abusos com todo o respeito e cuidado.”

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