Justiça mantém preso grupo que usava crianças para entrar nos EUA
Após flagrante no Aeroporto JK, uma adolescente e oito meninos e meninas foram encaminhados para conselhos tutelares
atualizado
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Integrantes de um grupo que usava crianças para tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos disseram ter fechado um acordo de R$ 80 mil com um “coiote” para ter acesso ao país. A Polícia Federal ainda investiga os valores a serem desembolsados, pois as versões entre os que confessaram a prática não coincidem, e a maior parte dos detidos usou o direito de permanecer calado.
Dez adultos foram presos; uma adolescente, apreendida; e oito crianças, recolhidas pelos policiais federais, no Aeroporto de Brasília, quando já estavam dentro da aeronave que seguiria para Puerto Vallarta, no México, de onde tentariam chegar aos Estados Unidos. As prisões ocorreram nessa quinta-feira (05/09/2019), após os agentes observarem uma série de coincidências no comportamento dos suspeitos, que se assemelham ao daqueles que tentam sair do país ilegalmente.
Na tarde desta sexta-feira (06/09/2019), a Justiça converteu a prisão em flagrante dos acusados em detenção temporária e determinou que as crianças ficassem aos cuidados do Conselho Tutelar. A adolescente que acompanhava a comitiva – mãe de um dos pequenos – seguiu para o registro do ato infracional na DCA da Polícia Civil do DF. Ela foi liberada e levada para o mesmo abrigo do filho.
“Eles não portavam nenhum documento além do passaporte. E isso é uma recomendação dos coiotes, para dificultar a identificação. Também não carregavam nenhuma bagagem, nem tinham recursos. Como é que alguém vai fazer turismo lá fora sem dinheiro?”, questiona o delegado da PF, Maurício Rocha da Silva.
“Empréstimo de criança”
A maior parte das pessoas detidas veio de Porto Velho, capital de Rondônia. Um casal vivia em Goiânia (GO) com um menor de idade que diz ser filho deles. A polícia não confirma o parentesco entre nenhum dos envolvidos, pois há suspeita de falsidade ideológica nos passaportes apresentados. “Os documentos são legítimos, mas estamos levantando a autenticidade das informações que eles contêm”, disse o delegado.
A mãe de duas crianças chegou a “emprestar” os filhos para que outras três pessoas se passassem pelos genitores. Os pequenos passaram um mês com os falsos pais para se familiarizarem e criarem laços. Assim, isso tornaria mais verdadeira a tentativa de enganar autoridades americanas quanto ao parentesco.
“Ela disse não ter recebido dinheiro para emprestar os filhos. A relação deles era de muita solidariedade e camaradagem. Se as investigações comprovarem que ela cobrou, poderá ser agravada a responsabilização penal”, disse o delegado ao Metrópoles.
Turismo no México
Sob o pretexto de fazerem uma viagem de lazer a Puerto Vallarta, lugar de praias paradisíacas banhadas pelo Pacífico, o grupo pretendia chegar aos EUA e se entregar às autoridades daquele país, numa tática conhecida como “cai-cai”, na qual os membros se entregam voluntariamente aos agentes de imigração e, por supostamente serem pais de menores, teriam direito a um processo judicial antes da deportação.
“Eles usavam as crianças para se manterem nos EUA. Pela lei de lá, quando alguém é pego ilegalmente, pode ser imediatamente deportado. Mas, quando estão com crianças, eles podem permanecer até a conclusão do processo judicial. Fica subentendido que eles pretendiam despistar as autoridades americanas”, revelou o delegado.
A PF descreveu os presos da ação na quinta-feira como pessoas simples, sem escolaridade e de origem rural. As investigações ainda apuram qual foi a real quantia negociada com os atravessadores e que meios eles teriam utilizado para levantar o dinheiro.
A pena para esse tipo de crime, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é de 2 a 6 anos de prisão. “Nós recomendamos que as pessoas que têm essa intenção de imigrar ilegalmente não tentem, porque é muito fácil de se descobrir. E o que acontece na fronteira americana é muito pior do que a pessoa pode imaginar; 13 brasileiros já morreram nessa tentativa”, alertou o delegado.