Panatenaico: grupo de Arruda vira réu por corrupção e fraude no Mané
Além desses crimes, ex-governador responderá por lavagem ou ocultação de bens, com agravantes como a prática de delitos continuados
atualizado
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Ao acatar denúncia, nesta quarta-feira (25/4), e tornar réus 12 envolvidos na Operação Panatenaico, a juíza Pollyana Kelly Maciel Medeiros Martins Alves, da 12ª Vara da Justiça Federal no DF, separou os suspeitos em três núcleos. Um é capitaneado pelo ex-governador José Roberto Arruda com outras três pessoas; outro, inclui o também ex-governador Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice Tadeu Filippelli (MDB), ao lado de quatro indiciados; e o último é integrado por quatro pessoas, entre ex-gestores, servidores e empresários.
Todos são acusados de participar do esquema que desviou recursos públicos milionários das obras do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Segundo a juíza Pollyana Kelly, “a denúncia descreve, de modo claro e objetivo, os fatos imputados aos denunciados”. A magistrada ainda dá prazo de 10 dias para os réus se manifestarem, por meio dos respectivos advogados, à Justiça. A notícia de que a 12ª Vara acatou a denúncia foi divulgada pelo Metrópoles em primeira mão.
O quarteto será julgado por: associação criminosa, com a agravante de se aproveitar de funcionário público; fraude em licitação; corrupção ativa; corrupção passiva; lavagem ou ocultação de bens; crime continuado e concurso material. Este último caso ocorre quando o agente, “mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não”.No caso do grupo de Arruda, estão: os empresários Fernando Márcio Queiroz, dono da Via Engenharia, e Sérgio Lúcio Silva de Andrade, apontado como operador do ex-governador; e José Wellington Medeiros de Araújo, advogado e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
Outro lado
Segundo Luis Henrique Machado, advogado de Arruda “a denúncia não procede, até porque Arruda estava afastado do governo quase seis meses antes de o processo licitatório se iniciar”. Ainda de acordo com o defensor, “nem mesmo a fase de habilitação das empresas havia começado. O que há é uma denúncia baseada exclusivamente em delações, despida de qualquer elemento corroborativo de prova. A defesa está confiante que o recebimento da denúncia será revisto pelo próprio Poder Judiciário”.
A reportagem acionou a defesa dos outros réus que integram o núcleo de Arruda e aguarda o posicionamento dos advogados.
Confira a ação penal
Ação penal contra Arruda e mais três pessoas by Metropoles on Scribd
Desvio de recursos públicos
As investigações da Polícia Federal identificaram fraudes e desvios de recursos públicos em obras de reforma do Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. Orçada em R$ 600 milhões, a arena brasiliense custou mais de R$ 1,6 bilhão. Estima-se que R$ 900 milhões foram desviados. A operação – um desdobramento da Lava Jato – é consequência dos acordos de delação premiada de ex-executivos da Andrade Gutierrez e da Odebrecht.
Segundo a denúncia, Arruda, Agnelo e Filippelli teriam recebido R$ 16,6 milhões em propina. A partir das delações premiadas, foram identificados repasses aos três políticos, que chegaram a ser presos na época da operação, em maio de 2017.
Agnelo Queiroz, de acordo com o MPF, teria embolsado R$ 6,495 milhões. A fatia de Arruda seria de R$ 3,92 milhões. Já Filippelli supostamente recebeu R$ 6,185 milhões. O dinheiro, segundo as investigações, foi repassado de diversas formas: em doações partidárias para igrejas, compras de bebidas e de ingressos para a Copa do Mundo de 2014 e em espécie.
A denúncia relata que o acerto para o superfaturamento do Mané Garrincha teria começado em uma reunião na Residência Oficial de Águas Claras. Na época, Arruda era o governador.
Divisão da propina
Segundo os procuradores da República no Distrito Federal, a propina para Agnelo teria sido intermediada por dois operadores: Jorge Salomão (10 repasses, no total de R$ 1,75 milhão) e o advogado Luís Alcoforado (cinco repasses, que somaram R$ 660 mil). O petista também teria sido beneficiado com doações de R$ 300 mil ao partido e à Paróquia São Pedro.
Parte do dinheiro ainda financiou a compra de bebidas, ingressos da Copa, contrato com empresa de mídia digital, bufê para camarotes em jogos no Mané Garrincha e até camisas para um clube de futebol.
Para Filippelli, ainda conforme a denúncia, foram feitas doações destinadas à campanha do político, nos valores de R$ 2.485, pela Andrade Gutierrez, e de R$ 3,7 milhões pela Via Engenharia. Além disso, ele teria amealhado 1% em propina referente ao valor do contrato firmado com o consórcio para a reforma da arena brasiliense.
Já Arruda supostamente embolsou R$ 2 milhões em seis parcelas, por meio de seu operador Sérgio Lúcio de Andrade, mais R$ 1,8 milhão em quatro pagamentos intermediados pelo advogado Wellington Medeiros, além de duas doações no valor total de R$ 120 mil à Paróquia São Pedro.