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Réus na Operação Drácon, Celina e Julio Cesar prestam depoimento

Audiência ocorre após tentativas da Justiça em intimar ex-distritais. Ex-secretário da CLDF Valério Neves também foi ouvido

atualizado

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Os depoimentos da Operação Drácon foram retomados na 7ª Vara de Fazenda Pública do DF, nesta quarta-feira (04/03). Três dos oito réus que respondem à ação de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) prestarão depoimento.

A audiência ocorre após três tentativas da Justiça em intimar os ex-deputados distritais, hoje federais, Celina Leão (Progressistas) e Julio Cesar (Republicanos) e o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves.

Eles são suspeitos de participar de um suposto esquema de corrupção envolvendo distritais e servidores públicos. A investigação do MPDFT sustenta que ocorreram negociações ilícitas de emendas parlamentares mediante solicitações de vantagem indevidas.

Um dos casos em apuração trata de suposto esquema de propina em troca da liberação de R$ 30 milhões para o pagamento de serviços médicos de unidades de terapia intensiva (UTI).

A primeira a depor foi deputada federal Celina Leão (Progressistas) e presidente da Câmara Legislativa à época dos fatos. Em duas horas de oitiva, ela afirmou ao promotor Clayton Germano que os áudios feitos e divulgados pela ex- deputada Liliane Roriz, rival política de Celina, mostram conversas “normais, que poderiam ser feitas na frente de qualquer um”.

Segundo Celina, o “projeto” em que ela tratava nos áudios era sobre seu plano de reeleição. “Eu tinha 17 votos para o projeto de reeleição. Tinha afiançado que as emendas dos deputados seriam liberadas. Havia um pedido do governador Rodrigo Rollemberg para que os 24 deputados distritais destinassem 80% de todas as emendas para a Saúde. A contrapartida era liberar 20% das emendas”, afirmou.

Celina ressaltou que o acordo não foi cumprido. “Só alguns conseguiram garantir, mas não fecharam para os 24 deputados”, disse. Ela relembrou que a Drácon começou no mesmo momento em que a CPI da Saúde ocorria.

“Nós estávamos apurando uma gravação de conversas com a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues e com o então vice-governador [Renato Santana], que falavam de 20% de propina na saúde operada pela então primeira-dama, Marcia Rollemberg. Mas a CPI perdeu força com a Drácon”, afirmou.

“Encenações”

Durante as indagações de Germano, acerca dos áudios de Liliane Roriz, Celina diz que a adversária política fez “encenações”. “Ela estava respondendo a um processo de cassação, era minha adversária. Ela mente nos áudios, mente no processo. Disse que a emenda da UTI não saiu da vice-presidência, mas depois ficou comprovado que saiu. O áudio estava todo editado Em um primeiro momento”, afirmou.

Celina refere-se a Liliane porque ela foi o pivô do escândalo na CLDF. Nesse processo, a filha do ex-governador Joaquim Roriz é testemunha.

Os áudios feitos por Liliane e divulgados em agosto de 2016 deram origem à Operação Drácon. Ela revelou detalhes de como colegas da Câmara Legislativa supostamente agiam.

Liliane teria começado a grampear os distritais no fim de 2015, quando os políticos decidiam o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa.

Julio Cesar

Após Celina, foi a vez de Julio Cesar. A primeira pergunta feita pelo promotor Clayton Germano foi acerca do relacionamento dele com o então presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco), Afonso Assad.

“Conheço o Afonso, mas nunca tratei nada com ele. Não almocei com ele. A única vez que falei sobre ele foi com a ex-deputada Liliane Roriz, pois ela queria destinar todas as emendas individuais dela para a Asbraco. Como eu era líder do governo, ela me pediu mais prazo. Prometi que tentaria, mas não tentei”, disse em depoimento.

Julio Cesar confirmou que a emenda que destinou recursos à saúde foi assinada pelo então chefe de gabinete de Liliane, José Adenauer. “Todas as emendas eram elaboradas pelo José Adenauer. Como nós tínhamos muita confiança na deputada Liliane Roriz, nós não questionávamos as emendas que vinham dela”, disse.

“A destinação desse tipo de emenda sempre foi da vice-presidência”, reiterou. Julio Cesar também citou a “suposta mentira” de que a emenda não era assinada por José Adenauer. “Quando ele viu que não tinha mais como negar, correu no Ministério Público para mudar o depoimento”, ressaltou, em depoimento que durou 50 minutos.

Terceiro depoimento

Valério Neves abriu o depoimento questionando as transcrições dos áudios. “Houve inserção de palavras que não falei e exclusão de palavras que disse perfeitamente”, disse, ao começar a responder aos questionamentos.

Em seguida, afirmou ao promotor Clayton Germano que, na transcrição feita pelo MPDFT e pela polícia, na qual fala com Liliane Roriz sobre Afonso Assad, ele se referia a boatos. “A CLDF é um lugar farto de boatos. Conheço Liliane há 25 anos, trabalhei com o pai dela por 14 anos. Era uma conversa de amigos”, afirmou.

Ele ainda negou ter sentado ou tratado de qualquer assunto com Afonso Assad. “Nos áudios, eu estava falando dos boatos que havia na Câmara”, afirmou, referindo-se a rumores de que seriam destinadas emendas para beneficiar construtoras.

Depoimentos em 2019

Em dezembro de 2019, dois dos oito réus da ação ajuizada pelo MPDFT prestaram depoimento: os ex-deputados Cristiano Araújo (PSD) e Raimundo Ribeiro (MDB).

O ex-secretário-executivo da 3ª Secretaria da CLDF Alexandre Cerqueira; o ex-diretor do Fundo de Saúde do Distrito Federal Ricardo Cardoso e o ex-distrital Bispo Renato Andrade (PL) optaram por ficar em silêncio.

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