Nenê Constantino acusa delegada de integrar complô para incriminá-lo
Empresário, de 86 anos, prestou depoimento na segunda-feira (13). Ele é suspeito de mandar matar ex-funcionário
atualizado
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Nenê Constantino voltou a negar o envolvimento no assassinato do caminhoneiro Tarcísio Gomes Ferreira. Em depoimento realizado no Tribunal do Júri de Taguatinga, na segunda-feira (13/11), o ex-presidente da empresa Gol Linhas Aéreas acusou a delegada Mabel Alves de Farias Corrêa de ter armado um complô para incriminá-lo.
Mabel chefiava a Delegacia de Homicídios à época do crime (hoje, comanda o Departamento de Polícia Especializada). “Essa acusação é mais uma armação da delegada e do meu ex-genro Eduardo Queiroz. Esse monte de papel é falso”, disse Nenê, referindo-se ao processo contra ele.
Segundo as investigações, Tarcísio havia trabalhado como motorista de ônibus da Planeta, empresa do grupo. Ele teria sido vítima de uma emboscada em uma barraca de sanduíches e bebidas, no terreno onde funcionava a garagem da antiga Viação Pioneira, na QI 25 de Taguatinga, também de propriedade do empresário, à época.
O dono da companhia disse ter recebido um pedido de ajuda do ex-marido de uma das filhas, responsável pelo controle da empresa de ônibus, para que o terreno anteriormente cedido a funcionários fosse desocupado.
Sete testemunhas foram ouvidas na segunda-feira (13/11). O julgamento prossegue nesta terça-feira (14/11), às 9h, com o interrogatório de João Miranda e as considerações finais do Ministério Público e do juiz João Marcos Guimarães Silva. O advogado que defende Constantino, Pierpaolo Bottini, não quis falar com a reportagem.
Condenação por outro assassinato
Esse é o segundo processo que os mesmos réus respondem perante o Tribunal do Júri de Taguatinga. O empresário já havia sido condenado em maio deste ano pelo assassinato do líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito, em 2001. Além dele, outros réus foram considerados culpados: o ex-vereador de Amaralina (GO) Vanderlei Batista Silva; o dono da arma usada no crime, João Alcides Miranda; e o ex-empregado do empresário João Marques dos Santos.
Constantino, João Alcides, Vanderlei e João Marques foram condenados por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e cometido diante de dissimulação. Os dois primeiros também foram sentenciados duas vezes por corrupção de testemunha.
Mesma arma
De acordo com as investigações, as balas que atingiram Tarcísio teriam saído do revólver calibre .38 usado na execução de Márcio Leonardo. Pelo assassinato do líder comunitário, Constantino foi sentenciado a 16 anos e seis meses de prisão (13 anos e 6 meses pelo homicídio e 3 anos pela corrupção de testemunha), a serem cumpridos em regime inicialmente fechado, além de multa de R$ 84 mil.
João Miranda pegou 17 anos e meio de prisão; João Marques, 15; e Vanderlei, 13. As penas de Constantino e Vanderlei foram atenuadas porque ambos têm mais de 70 anos. A condenação de João Marques foi mais severa porque ele possuía maus antecedentes criminais.
O julgamento também ocorreu no Tribunal do Júri de Taguatinga. Os sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens, ficaram convencidos de que Nenê mandou executar o líder comunitário e os demais condenados tiveram participação no crime. No entanto, o autor dos disparos, Manoel Tavares, não foi julgado porque já morreu.
O promotor Bernardo Resende apresentou gravações telefônicas que provariam a culpa dos réus. Ele também refutou a tese da defesa de que um homem chamado Padinho seria o verdadeiro responsável pelo assassinato do líder comunitário. Por fim, Resende apresentou o vídeo de uma testemunha que alegou ter recebido a oferta de uma casa para confirmar a versão de que Padinho era o homicida.
No primeiro julgamento, Constantino afirmou que era inocente, não conhecia a vítima e não sabia quem tinha matado Márcio. “Só soube da morte dele dois dias depois. Se eu tivesse que matar um frango, morreria de fome”, chegou a dizer o acusado. No julgamento de segunda-feira (13/11), ele chegou a repetir a frase.
“Ajuda”
Ainda de acordo com o empresário, ele cedeu o terreno de uma antiga garagem para funcionários morarem, mas outras pessoas começaram a usar o local, incluindo o líder comunitário. O réu admitiu que chegou a visitar o terreno e que houve um bate-boca, mas sem agressão. “Ofereci ajuda para que pudessem se mudar”, contou Nenê Constantino.
A argumentação do ex-presidente da Gol não convenceu os jurados, que decidiram pela condenação de quatro dos cinco réus. Victor Bethônico Foresti, genro de Constantino, era acusado de corrupção de testemunha e foi absolvido.