Mãe de Raul Aragão vê, pela primeira vez, motorista que matou o filho
Segundo Renata Aragão, Johaan Homonnai, 18, não pediu desculpas nem demonstrou arrependimento. Condutor foi ouvido pela Justiça
atualizado
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O primeiro dia do julgamento, nesta quinta-feira (22/2), do motorista que atropelou e matou o ciclista Raul Aragão Rocha, 23 anos, foi marcado por protestos, homenagens de familiares e amigos, e um princípio de tumulto entre parentes da vítima e do condutor responsável pelo acidente.
Durante a audiência, foram ouvidas quatro testemunhas e o réu, Johaan Homonnai, 18. Após os relatos, o juiz deu prazo para o Ministério Público, o assistente de acusação e a defesa apresentarem argumentos. Ainda não há data para a segunda etapa do julgamento, que, inicialmente, estava marcada para hoje.
O depoimento do motorista era o mais esperado por amigos e familiares do estudante. A mãe de Raul, Renata Aragão, segundo contou ao Metrópoles, ainda não tinha escutado o que Johaan tinha para falar sobre o acidente. Ele não havia se pronunciado sobre o caso, nem mesmo na delegacia, após o registro da ocorrência do crime. “Eu precisava muito escutar ele. Era uma lacuna que precisava ser preenchida”, contou Renata.
Durante o depoimento, o condutor não pediu desculpas aos familiares e não demonstrou arrependimento, de acordo com a mãe do ciclista. “Ele respondeu as perguntas do juiz, negou que estava a 95km/h, mas não soube dizer em qual velocidade estava. Disse que viu o Raul na calçada, antes do atropelamento, e que não freou por não ter conseguido reagir”, lembrou Renata. O motorista de 18 anos não tem Carteira de Habilitação definitiva, apenas permissão para dirigir.Com a hashtag #RaulVive!, ela convidou amigos pelas redes sociais para participarem do julgamento e cobrarem justiça para a morte do ciclista. Os ânimos ficaram exaltados em alguns momentos da audiência e houve bate-boca entre os familiares da vítima e do motorista. “Foi tenso, me preparei muito para esse momento, para não reagir. E a presença de tantos amigos de Raul me fez sentir bem, apoiada”, contou a mãe. Apesar da dor de reviver o momento e do ambiente hostil, ela disse que saiu “otimista” da primeira audiência.
Das quatro testemunhas, três presenciaram o atropelamento na tarde de 21 de outubro de 2017, entre as quadras 406 e 407 Norte. Uma delas, prima do motorista, estava no carro com o condutor. A quarta pessoa ouvida foi um policial que participou do atendimento e do socorro do ciclista. Raul Aragão chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu aos ferimentos e morreu no dia seguinte ao acidente.
Estudante de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Raul voltava para casa depois de almoçar no Restaurante Universitário quando foi atingido. Voluntário da Rodas da Paz e da Bike Anjo, ele organizava passeios ciclísticos mensais. Nos dias seguintes ao atropelamento, foram realizadas manifestações em Brasília e em outras 15 cidades. A bicicleta de Raul foi consertada por amigos, pintada de branco, e colocada no local do acidente.
Acusação
Johaan Homonnai permaneceu no local após a colisão. O rapaz realizou o teste do bafômetro, que não acusou embriaguez. As investigações apontaram que o motorista trafegava a 95km/h quando atingiu o ciclista. A velocidade máxima permitida no local do acidente é de 60km/h. O laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil apontou que a vítima foi arrastada por 38 metros após o choque, atingindo o canteiro central da via.