Ex-PM acusado de matar Jessyka Laynara é condenado a 21 anos de prisão
Durante o julgamento, que se arrastou pela madrugada desta terça (30/04/2019), Ronan Menezes confessou ter matado a ex-namorada
atualizado
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O Tribunal do Júri de Ceilândia condenou o ex-policial militar do DF Ronan Menezes do Rego a 21 anos e 9 meses de reclusão, inicialmente em regime fechado, pelo feminicídio de Jessyka Laynara da Silva Souza e pela tentativa de homicídio do personal trainer Pedro Henrique da Silva Torres.
Ronan do Rego, 28 anos, ainda responderá por ameaça à vítima, crime pelo qual pegou pena de 2 meses e 7 dias de detenção. A decisão foi proferida pelo juiz Tiago Pinto de Oliveira na madrugada desta terça-feira (30/04/2019), após quase 20 horas de julgamento. Os jurados não acataram o pedido de absolvição solicitado pela defesa do acusado.
No julgamento, Ronan se pronunciou sobre o crime pela primeira vez desde o assassinato. “Eu sei o que fiz, mas criaram uma história para que eu parecesse um monstro. Não estou aqui para me eximir do que fiz. Aconteceu um feminicídio e uma tentativa de homicídio, sim, mas não sou um espancador. Não buscaram a verdade”, ressaltou.
Questionado sobre os fatos, Ronan negou que tivesse a intenção de matar, apesar de ter disparado quatro tiros na vítima. Ele detalhou, diante do juiz, que houve uma discussão entre ele e a ex-namorada momentos antes, quando tomou o celular dela.
“Quando peguei o celular, vi que não parava de chegar mensagens. Parei o carro e vi que eram do Pedro, chamando ela de amor e ela o chamando de amor. Fui atrás dele na academia, passei pela catraca e o confrontei. Ele negou, tirei o celular dela e mostrei para ele, disse que tinha visto tudo”, narrou o ex-PM.
Ronan continuou: “Eu o xinguei e ele partiu para cima de mim. Levantei a arma e falei para se afastar. Foi quando atirei, mas se eu quisesse matar, continuaria atirando. Ali eu vi que ele poderia pegar minha arma e tentar me matar. Para eu sair da academia, tinha que passar por ele”.
Logo depois Ronan partiu em direção à casa da jovem moradora de Ceilândia, que morreu aos 25 anos. “Cheguei lá, buzinei e ninguém saiu. Uma menina que eu nunca tinha visto abriu o portão, entrei e chamei pela Jessyka. Quando ela apareceu, contei que tinha atirado no Pedro e entreguei minha arma a ela”, afirmou o ex-PM.
Perante o júri, Ronan disse que, em seguida, “Jessyka sorriu, falou que estava esperando para entrar no concurso dos bombeiros e que eu era muito idiota”. “Depois disso, não lembro como ocorreram os disparos, só sei que tomei a arma dela. Meu pensamento depois foi que eu tinha que me matar. Estava na cabeça que eu tinha que fazer isso. Liguei para o meu pai para me despedir”, contou.
Ainda durante a fala, o acusado fez juras de amor a Jessyka. “É a pessoa que eu amo até hoje. Foi um momento de loucura, de descontrole. Era minha vida. Sempre fomos muito próximos. Tudo de bom que eu lembro vem ela na minha cabeça. Por isso não entendo quando foi que a gente se perdeu”, afirmou.
Confrontado pelo MPDFT sobre as acusações de agressão anteriores, ele confessou. “Realmente eu a agredi. Mas em momento nenhum houve disparo, coronhada, chute… Dei dois tapas na cara dela e a joguei no chão.”
Comoção
Um dos momentos de maior comoção envolveu a mãe de Jessyka, a técnica de enfermagem Adriana Maria da Silva, 40 anos. Muito emocionada, ela não conteve as lágrimas ao falar das agressões sofridas pela filha durante o relacionamento com Ronan. “Em um dos episódios em que foi agredida na garganta, ela nem conseguia engolir de tantos socos que ela recebeu”, disse.
Adriana também falou da dificuldade da família em lidar com a perda de Jessyka, descrita como uma pessoa de bom coração. “Minha filha era um anjo. Ele acabou com toda a nossa família. Todos os dias tenho que ter força para aguentar ver meu filho Ruan, de 10 anos, [irmão de Jessyka] abraçado com a foto dela”, lamentou.
Covardia monstruosa
Chamado para depor como testemunha-chave pelos promotores de acusação Kleber Benício Nóbrega e Tiago Fonseca Moniz, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o irmão da vítima, Marcos Yuri, chamou Ronan de “covarde e monstro”. Ao júri, descreveu os momentos que antecederam a morte.
“Cheguei em casa por volta de 12h30, almocei e fui dormir. Acordei com uma gritaria e, quando vi, minha irmã discutia com o Ronan. Ele queria ver o celular dela, mas ela não deixava. Quando percebi que os ânimos estavam exaltados, peguei a arma dele, que estava dentro de casa, e dei para meu primo guardar”, detalhou.
Marcos Yuri ainda contou que “ele me pediu a arma de volta e disse que estava tudo tranquilo. Voltei a dormir e acordei com os disparos. Foi quando encontrei minha irmã morta no banheiro e o vi saindo no carro”.
O primo que ficou com a arma de Ronan temporariamente foi Luiz Cláudio da Silva, que também depôs nesta segunda-feira e afirmou ter segurado Ronan pela cintura a certo ponto da discussão. Ele ainda alegou ter sido o primeiro a encontrar Jessyka caída após ter sido baleada. “Fui logo no pescoço, vi que não tinha pulso e falei: ‘Minha prima morreu'”, relatou.
Conforme Luiz Cláudio, Ronan ligou para seu celular minutos após o crime e indagou: “Ela morreu, mano?”.
Ânimos exaltados
A estratégia da defesa do ex-policial militar irritou o MPDFT e a acusação. Uma psicanalista foi convocada para responder a questões “à luz da psicologia”, como descreveu uma advogada de Ronan, mas os promotores alegaram que a mulher nada tinha a ver com o caso. Segundo eles, a testemunha estava sendo usada como perita, e a defesa tentava se antecipar à declaração final.
Os advogados da família de Jessyka solicitaram impugnação de todas as perguntas feitas à psicanalista. No entanto, o juiz indeferiu o pedido ao alegar “direito de plenitude da defesa, assegurado pela Constituição Federal”.
A defesa de Ronan tentou, por meio de perguntas, argumentar que o acusado teria uma relação de carinho com a vítima e que, inclusive, prestava auxílio financeiro à família de Jessyka. Os advogados também fizeram perguntas às testemunhas para expor um suposto caso extraconjugal entre a vítima e o professor de educação física Pedro Henrique Torres.
Ronan teria ciúmes de Pedro Henrique e, pouco depois de Jessyka ter sido morta, foi à academia onde o homem trabalhava e acertou três tiros nele. O professor foi levado ao hospital com ferimentos, mas sobreviveu.
Outra tática da defesa foi chamar uma ex-namorada do acusado para rebater a imagem de namorado agressivo que a própria vítima revelou a uma amiga, por meio de mensagens de voz, dias antes de ser assassinada. “Ele gostava de me presentear, sempre me tratou muito bem. Nos relacionamos por oito meses e foi muito bacana”, disse a moça, durante o julgamento.
Os advogados de Ronan também apontaram inconsistências nos depoimentos de algumas testemunhas, recolhidos pela Polícia Civil do DF na época do crime. Um deles é o do irmão de Pedro Henrique, Davi da Silva Torres, que não conseguiu explicar as divergências entre as declarações.
Pai se manifesta
Durante a oitiva das testemunhas da defesa, Ronan chorou quando ouviu os sargentos com quem integrou o Grupo Tático Operacional (Gtop) da Polícia Militar do DF. O acusado também não segurou a emoção durante o depoimento do pai, José Wanilson do Rego.
Ao júri, ele negou que o filho tenha agredido Jessyka durante o relacionamento dos dois. “Nunca a vi ferida e nunca ninguém reclamou para mim disso”, garantiu.
No dia do crime, o pai afirmou que o ex-militar o procurou dizendo que pensava em se suicidar. “Foi quando pedi a ele uma última palavra, um abraço. Dei um abraço nele, coloquei ele no carro, peguei a arma, acionamos a advogada e fomos esperar por ela na chácara. Foi quando negociei a rendição dele com o agente da Polícia Civil”, contou.
O pai também se emocionou ao ser questionado sobre como está a vida da família após o crime. “Nossa vida desabou. Os planos que ele tinha, que eu tinha [acabaram]. Duas vidas perdidas. Somos atacados pela internet, pela mídia”, desabafou. No júri desta segunda, estavam sete pessoas. Entre elas, cinco mulheres e dois homens.