Em depoimento à Justiça, assassinas de Rhuan ficam em silêncio
Além das acusadas, outras cinco testemunhas do crime foram ouvidas na segunda-feira (21/10/2019)
atualizado
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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) deu andamento no processo que investiga a morte do menino Rhuan Maycon da Silva Castro, esquartejado pela própria mãe, Rosana Auri da Silva Candido, e pela namorada dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno Pessoa. O Tribunal do Júri de Samambaia ouviu, na segunda-feira (21/10/2019), cinco testemunhas do crime e tinha a intenção de colher o depoimento das autoras do assassinato. A dupla, no entanto, decidiu permanecer calada durante toda a audiência.
Esta é a segunda coleta de depoimentos testemunhais. No dia 14, outras nove pessoas já haviam sido ouvidas pela Justiça. A oitivas começaram com o relato de parentes do menino. Tanto o pai de Rhuan, Maycon da Silva Castro, quanto o pai da filha de Kacyla, Rodrigo Oliveira, falaram em juízo.
A filha de Rodrigo e Rosana chegou a presenciar o brutal assassinato do irmão. A Justiça também ouviu os avós paternos e pessoas ligadas à mãe de Rhuan. O procedimento contou com a colaboração dos tribunais e Ministérios Públicos do Distrito Federal e do Acre.
“Para mim, sempre será difícil tocar no assunto, mas tive de relembrar tudo de novo. Eles [a Justiça e o Ministério Público] queriam saber o motivo de tanto ódio. Eu repeti o que já tinha dito ao delegado: ódio não tem motivo, não existe explicação para uma mãe odiar o próprio filho”, contou o pai do menino. Segundo ele, a ex-mulher se tornou uma pessoa diferente a partir do momento em que conheceu Kacyla.
Pai de outros dois filhos, Maycon disse não ter conseguido levar os pequenos para brincar no Dia das Crianças. “Quando vejo uma criança brincando, eu me lembro dele. Não consegui sair de casa e comemorar a data”, desabafou.
Crime chocou o país
O crime ocorreu em 31 de maio deste ano, em Samambaia. Após o assassinato, a dupla esquartejou, perfurou os olhos e dissecou a pele do rosto da criança. Elas também tentaram incinerar partes do corpo em uma churrasqueira, com o intuito de destruir o cadáver e dificultar o seu reconhecimento.
Como o plano inicial não deu certo, as criminosas colocaram partes em uma mala e duas mochilas. Rosana jogou a bolsa em um bueiro próximo à residência onde ocorreu o crime. Antes que ela ocultasse as duas mochilas, moradores da região desconfiaram da atitude da mulher e acionaram a polícia, que prendeu as autoras em flagrante, em 1º de junho. As duas confessaram o assassinato do menino, de 9 anos.
No entendimento do MPDFT, as denunciadas premeditaram o assassinato, planejando como executariam e destruiriam o corpo da criança. De acordo com as investigações, na noite do assassinato, a dupla esperou Rhuan dormir para cumprir o plano. Rosana, a mãe, desferiu o primeiro golpe no peito do menino, que acordou com o ataque.
Kacyla o segurou para que Rosana desferisse as outras facadas. Por fim, a mãe decepou a cabeça do filho ainda com vida. Elas foram acusadas por homicídio qualificado, lesão corporal gravíssima, tortura, ocultação e destruição de cadáver, e fraude processual. Entre as qualificadoras do homicídio apontadas pelo MPDFT estão o motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Tortura e lesão corporal
Desde 18 de dezembro de 2014, Rosana vivia com o filho de maneira clandestina. Rhuan foi retirado à força dos cuidados dos avós paternos e era procurado pela família. Até a sua morte, a criança foi submetida a intenso sofrimento físico e mental como forma de castigo pessoal. Enfrentou desprezo e privações. Foi impedido de manter contato com outras pessoas. Ele também não frequentava a escola.
Um ano antes do assassinato, a dupla extraiu os testículos e o pênis de Rhuan, em casa, de forma rudimentar, sem anestesia ou acompanhamento médico. Por esses crimes, elas foram denunciadas por tortura e lesão corporal gravíssima.
A menina, de 8 anos, que presenciou o esquartejamento e a morte de Rhuan, foi morar com o pai, o agente penitenciário de Rio Branco (AC) Rodrigo Oliveira. Ela passou por um período de adaptação e faz acompanhamento psicológico para lidar com o trauma.
Rodrigo conta que desejava a guarda da filha desde o dia em que Kacyla desapareceu com a menina. O servidor procurava a criança havia cinco anos e, assim que soube do caso, movimentou-se para vir a Brasília reencontrá-la.