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Crime da 113 Sul: julgamento de Adriana Villela está perto do fim

Com 95 horas, júri da arquiteta é o mais longo da história do DF. Defesa e acusação fazem embate final nesta quarta

atualizado

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1 de 1 Juri-de-Adriana-Villela - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Com 95 horas de duração e a marca de júri mais longo da história do Distrito Federal, o julgamento de Adriana Villela chega ao décimo e, provavelmente, último dia nesta quarta-feira (02/10/2019). O martelo deve ser batido durante a tarde, após os debates nos quais acusação e defesa sustentam suas teses finais em frente aos sete jurados que têm nas mãos o destino da arquiteta. Ela é acusada de mandar matar os pais e a empregada do casal no caso que ficou conhecido como crime da 113 Sul.

O Metrópoles acompanha desde o início, na segunda-feira (23/09/2019) da semana passada, todos os passos do julgamento. Foram 24 testemunhas ouvidas: oito de acusação e 16 de defesa. O ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, a advogada Maria Villela e a doméstica da família, Francisca Nascimento Silva, foram executados com 73 facadas, no total.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) sustenta que Adriana foi a mandante do triplo homicídio e, inclusive, esteve na cena do crime. A acusada sempre negou qualquer participação no caso.

A última etapa do rito em plenário está marcada para começar às 9h desta quarta-feira (02/10/2019). A sessão será iniciada com o MPDFT, que tem uma hora e meia para falar. Em seguida, é a vez dos advogados, que dispõem do mesmo tempo. No caso de réplica e tréplica, acrescenta-se uma hora para cada parte. No total, portanto, pode durar cinco horas.

O procurador Maurício Miranda e o promotor Marcelo Leite vão detalhar provas, como o laudo que coloca Adriana em uma janela de tempo que inclui o dia do crime no apartamento da 113 Sul e os espaços vazios entre os álibis dela em 28 de agosto de 2009.

Para Marcelo Leite, esse será o momento mais importante. “A gente vai ter oportunidade de mostrar aos jurados — de uma forma que estamos acostumados a fazer — a prova e chegar a uma conclusão de que ela é culpada.”

Os advogados Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e Marcelo Turbay apresentarão uma linha do tempo a fim de combater a tese de que Adriana esteve no local do triplo homicídio.

Kakay disse que a expectativa é “a melhor possível”. “Queremos apenas que a verdade venha à tona”. A estratégia da defesa será delineada conforme a sustentação do MPDFT.

Depois das considerações, os sete jurados se reúnem com o presidente do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Giordano, em uma sala secreta. As quatro mulheres e os três homens, então, colocam os votos em urnas para dizer se Adriana é ou não culpada. Em caso de condenação, o juiz define a pena. No fim, voltam ao plenário e, com todos de pé, o magistrado profere a sentença.

Se condenada, Adriana sairá algemada?

Caso seja declarada culpada, Adriana não deve sair presa nem algemada do Tribunal do Júri, pois ela respondeu em liberdade por 10 anos e atendeu a todos os chamados da Justiça, segundo explicaram fontes do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Ambas as partes podem recorrer da decisão, seja qual for.

Com 224 lugares, o plenário ficou lotado por diversas vezes nos nove dias em que Adriana esteve no banco dos réus. Amigos, familiares, estudantes de direito, psicologia e curiosos assistem ao julgamento histórico.

Em interrogatório que durou cerca de 8h nessa terça-feira (01/10/2019), Adriana narrou um bom convívio familiar. Durante toda a explicação, ela não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura e se tornou forte pelas perdas que teve”, disse.

“Tenho, sim, muitos defeitos, mas entre esses defeitos não está ter mandando matar meus pais”, destacou. A ré se recusou a responder perguntas do MPDFT e dos assistentes de acusação, que representam a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF) e os parentes de Francisca.

Provas e contestações

A acusação contra Adriana é baseada, por exemplo, no Laudo 15.000 do Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). “Conseguimos observar que, de acordo com a compatibilidade morfométrica, haveria a compatibilidade da impressão questionada com intervalo estabelecido entre o dia 24 de agosto de 2009 e 30 de agosto daquele ano”, disse o papiloscopista Rodrigo Meneses de Barros, um dos responsáveis pelo documento.

Indicado como testemunha pelos advogados de Adriana, o diretor de Perícia de Laboratório do Instituto de Criminalística (IC) da PCDF, Juliano de Andrade Gomes, afirmou que o laudo do II “carece de metodologia técnico-científica”. Perante os sete jurados do Tribunal do Júri, Gomes ressaltou não ser possível usar o Laudo 15.000 para efeito de prova criminal.

O MPDFT apresentou, na etapa chamada de leitura das peças, vídeos nos quais Leonardo Campos Alves e Paulo Cardoso incluem Adriana como mandante e a colocam na cena do crime, respectivamente. Ex-porteiro do prédio onde moravam as vítimas, Leonardo teria sido contratado por Adriana para a execução e ele teria chamado dois comparsas: o sobrinho dele, Paulo, e Francisco Mairlon. Os três foram condenados e estão presos.

Em uma reconstituição do caso gravada em vídeo, Leonardo reproduziu a policiais suposto diálogo com Adriana. “Ela disse que era para eliminar os pais dela. Ela perguntou se eles [os outros condenados] não iriam recuar”, narrou.

Guerra de versões

Contratado pela defesa, o médico e perito criminal Sami El Jundi comparou imagens da cena do crime, simulações incluídas no laudo pericial e fotos dos corpos das vítimas com trechos de depoimentos de Leonardo. Em um primeiro momento, Leonardo não cita Adriana e faz um detalhado relato da cena do crime. Posteriormente, ele mudou a versão: incrimina Adriana como mandante e afirma não ter participado da execução, ficando do lado de fora do prédio da 113 Sul.

“Nos últimos depoimentos, quando ele [Leonardo] já está completamente caótico e atribui a terceiros, é quando começa a surgir a história do mandante. Na terceira vez, é ele quem fala na existência do mandante quando ele sequer está no apartamento”, frisou El Jundi.

Primeira testemunha a ser ouvida, Mabel de Farias, que assumiu as investigações do crime da 113 Sul pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) após trapalhadas da 1ª Delegacia de Polícia, reproduziu suposta conversa que Paulo Cardoso teria presenciado no dia do triplo homicídio. É esse relato que coloca Adriana na execução. “Nesse diálogo, José Guilherme fala: ‘Minha filha, você nisso’? E ela disse: ‘Eu te odeio! Vai para o inferno, seu velho”.

A defesa apresenta como álibi a presença de Adriana em um seminário até o início da noite de 28 de agosto. Depois, ela teria ido para a casa de Graziela Ayres Ferreira Dias, na Vila Planalto. Amiga de infância da ré, Graziela afirmou, como testemunha, que Adriana saiu de sua casa por volta das 20h50. Às 21h17, Adriana teria mandado e-mail do computador próprio de casa, no Lago Sul.

Relacionamento com os pais

Adriana também teria, segundo a Promotoria, um relacionamento conturbado com os pais, movido por discussões referentes ao estilo de vida dela, considerado alternativo comparado ao de José Guilherme e Maria, que eram mais conservadores, além da dependência financeira da acusada, que recebia mesada de R$ 8,5 mil.

Além de amigos, o irmão de Adriana, Augusto Villela, e a filha dela, Carolina Villela, acompanharam todos os nove dias de julgamento. À imprensa, Augusto afirmou ter “certeza da inocência” da arquiteta. “Essa tese de crime de mando é fajuta. Isso foi criado por conta da incompetência da Polícia Civil do DF em descobrir os verdadeiros assassinos”, declarou.

Juiz e primo de Adriana, Marcos Menezes Barberino Mendes também testemunhou a favor da acusada. Ele declarou que a relação da arquiteta com José Guilherme e Maria Villela era “muito afetuosa e baseada nas opiniões muito forte de todos eles”.

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