“Covarde e monstro”, diz irmão de Jessyka sobre ex-PM em julgamento
Sessão para definir pena de Ronan Menezes é marcada por discussões entre defesa e acusação e depoimentos emocionados
atualizado
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O julgamento do ex-policial militar Ronan Menezes do Rego, no Fórum de Ceilândia do Tribunal do Júri do Distrito Federal, chegou a 12 horas de duração às 21h30 desta segunda-feira (29/04/2019) com o depoimento de oito testemunhas de defesa e 10 de acusação. O homem é réu por matar a tiros a ex-namorada Jessyka Laynara da Silva Souza, 25 anos, em 4 de maio de 2018.
Um dos momentos de maior comoção envolveu a mãe de Jessyka, Adriana Maria da Silva. Muito emocionada, ela não conteve as lágrimas ao falar das agressões sofridas pela filha durante o relacionamento com Ronan. “Em um dos episódios em que foi agredida na garganta, ela nem conseguia engolir de tantos socos que ela recebeu”, disse.
Adriana também falou da dificuldade da família em lidar com a perda de Jessyka, descrita como uma pessoa de bom coração. “Minha filha era um anjo. Ele acabou com toda a nossa família. Todos os dias tenho que ter força para aguentar ver meu filho Ruan, de 10 anos, [irmão de Jessyka] abraçado com a foto dela”, lamentou.
Covardia monstruosa
Chamado para depor como testemunha-chave pelos promotores de acusação Kleber Benício Nóbrega e Tiago Fonseca Moniz, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o irmão da vítima, Marcos Yuri, chamou Ronan de “covarde e monstro”. Ao júri, descreveu os momentos que antecederam a morte.
“Cheguei em casa por volta de 12h30, almocei e fui dormir. Acordei com uma gritaria e, quando vi, minha irmã discutia com o Ronan. Ele queria ver o celular dela, mas ela não deixava. Quando percebi que os ânimos estavam exaltados, peguei a arma dele, que estava dentro de casa, e dei para meu primo guardar”, detalhou.
Marcos Yuri ainda contou que “ele me pediu a arma de volta e disse que estava tudo tranquilo. Voltei a dormir e acordei com os disparos. Foi quando encontrei minha irmã morta no banheiro e o vi saindo no carro”.
O primo que ficou com a arma de Ronan temporariamente foi Luiz Cláudio da Silva, que também depôs nesta segunda-feira e afirmou ter segurado Ronan pela cintura a certo ponto da discussão. Ele ainda alegou ter sido o primeiro a encontrar Jessyka caída após ter sido baleada. “Fui logo no pescoço, vi que não tinha pulso e falei: ‘Minha prima morreu'”, relatou.
Conforme Luiz Cláudio, Ronan ligou para seu celular minutos após o crime e indagou: “Ela morreu, mano?”.
Ânimos exaltados
A estratégia da defesa do ex-policial militar irritou o MPDFT e a acusação. Uma psicanalista foi convocada para responder questões “à luz da psicologia”, como descreveu uma advogada de Ronan, mas os promotores alegaram que a mulher nada tinha a ver com o caso. Segundo eles, a testemunha estava sendo usada como perita, e a defesa tentava se antecipar à declaração final.
Os advogados da família de Jessyka solicitaram impugnação de todas as perguntas feitas à psicanalista. No entanto, o juiz indeferiu o pedido ao alegar “direito de plenitude da defesa, assegurado pela Constituição Federal”.
A defesa de Ronan tentou, por meio de perguntas, argumentar que o acusado teria uma relação de carinho com a vítima e que, inclusive, prestava auxílio financeiro à família de Jessyka. Os advogados também fizeram perguntas às testemunhas para expor um suposto caso extraconjugal entre a vítima e o professor de educação física Pedro Henrique Torres.
Ronan teria ciúmes de Pedro Henrique e, pouco depois de Jessyka ter sido morta, foi à academia onde o homem trabalhava e acertou três tiros nele. O professor foi levado ao hospital com ferimentos, mas sobreviveu.
Outra tática da defesa foi chamar uma ex-namorada do acusado para rebater a imagem de namorado agressivo que a própria vítima revelou a uma amiga, por meio de mensagens de voz, dias antes de ser assassinada. “Ele gostava de me presentear, sempre me tratou muito bem. Nos relacionamos por oito meses e foi muito bacana”, disse a moça, durante o julgamento.
Os advogados de Ronan também apontaram inconsistências nos depoimentos de algumas testemunhas, recolhidos pela Polícia Civil do DF na época do crime. Um deles é o do irmão de Pedro Henrique, Davi da Silva Torres, que não conseguiu explicar as divergências entre as declarações.
Pai se manifesta
Durante a oitiva das testemunhas da defesa, Ronan chorou quando ouviu os sargentos com quem integrou o Grupo Tático Operacional (Gtop) da Polícia Militar do DF. O acusado também não segurou a emoção durante o depoimento do pai, José Wanilson do Rêgo.
Ao júri, ele negou que o filho tenha agredido Jessyka durante o relacionamento dos dois. “Nunca a vi ferida e nunca ninguém reclamou para mim disso”, disse.
No dia do crime, o pai afirmou que o ex-militar o procurou dizendo que pensava em se suicidar. “Foi quando pedi a ele uma última palavra, um abraço. Dei um abraço nele, coloquei ele no carro, peguei a arma, acionamos a advogada e fomos esperar por ela na chácara. Foi quando negociei a rendição dele com o agente da Polícia Civil”, contou.
O pai também se emocionou ao ser questionado sobre como está a vida da família após o crime. “Nossa vida desabou. Os planos que ele tinha, que eu tinha [acabaram]. Duas vidas perdidas. Somos atacados pela internet, pela mídia”, desabafou.
Colaborou Eric Zambom