metropoles.com

Condenada pelo júri, mas livre. Entenda o caso Adriana Villela

Arquiteta foi sentenciada a 67 anos de prisão, mas poderá aguardar fora da cadeia até o esgotamento de todos os recursos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
André Borges/Esp.Metrópoles
Crime-da-1132
1 de 1 Crime-da-1132 - Foto: André Borges/Esp.Metrópoles

Às 18h05 dessa quarta-feira (02/10/2019), ao ler a sentença que condenou Adriana Villela a 67 anos de prisão pela morte dos pais e da empregada da família, o presidente do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Giordano, encerrou o mais longo julgamento da história do Distrito Federal. Embora submetida a uma pena pesada, a arquiteta não saiu algemada da sessão, tampouco foi levada em camburão ao Presídio Feminino do DF, a popular Colméia.

Sentenciada por ser mandante do crime da 113 Sul, Adriana poderá passar um longo tempo livre antes de ser colocada atrás das grades, isso porque o artigo 594 do Código de Processo Penal permite que réus primários condenados em primeira instância fiquem em liberdade até se esgotarem todas as possibilidades de recursos. Os advogados dela devem, num primeiro momento, tentar reverter a decisão no próprio Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT).

Caso não obtenham sucesso, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e Marcelo Turbay apelarão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). A derradeira instância a fim de tentar anular a decisão dos jurados que a condenaram no TJDFT é o Supremo Tribunal Federal (STF). Só então, findadas todas as alternativas, Adriana Villela irá para o presídio, onde cumprirá sua pena privada de qualquer liberdade.

O procurador do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Maurício Miranda — que participou do júri de Adriana na acusação —, comentou o direito dela de recorrer em liberdade, mesmo sentenciada a 67 anos e 6 meses de cadeia. “Tem variado de acordo com a jurisprudência. Até a semana passada, algumas pessoas saíam presas [do Tribunal do Júri], mas daí veio decisão do Supremo dizendo que não é mais para prender. Pode ser que mais na frente haja reversão.”

Miranda ainda criticou o que chamou de “interferência do poder econômico” em alguns casos. “O balanço que faço é que a legislação é muito injusta porque cria diferenças na sua aplicação entre o rico e pobre. Acredito que deva haver modernização para que todos tenham o mesmo tratamento e que julgamentos não sejam demorados por causa de uma condição econômica capaz de exercitar vários expedientes forenses”, disse.

Kakay confirmou a intenção de recorrer ao próprio TJDFT e protestou contra a decisão proferida pelo Tribunal do Júri: “Condenada sem um fiapo de prova. É um erro judiciário colossal e desumano. Iremos ao tribunal para reverter esta injustiça”.

Julgamento histórico

O julgamento mais longo da história do Distrito Federal chegou ao fim após 10 dias e 103 horas de discussões. Adriana Villela foi condenada por ser a mandante do triplo homicídio triplamente qualificado dos pais e da empregada da família, mortos em 28 de agosto de 2009.

A arquiteta foi condenada a 32 anos de reclusão pelo homicídio do pai, José Guilherme Villela, a mais 32 anos pelo da mãe, Maria Villela, e a 23 anos pelo assassinato da empregada da família, Francisca Nascimento Silva. Além disso, houve condenação de 3 anos e 6 meses pelo furto de joias e dinheiro. As penas, contudo, não são somadas, e o juiz fixa o tempo total. Por isso, chegou-se aos 67 anos e 6 meses.

Os outros três envolvidos já condenados pelo Tribunal do Júri tiveram as seguintes penas: 62 anos para Paulo Cardoso Santana; 60 anos para Leonardo Campos Alves; e 55 anos para Francisco Mairlon.

Sem reação

Adriana não esboçou reação. Após ouvir a pena, abraçou a filha, Carolina, e o advogado Kakay, e deixou a sala sem falar com a imprensa. Segundo a acusação, ela contratou por R$ 60 mil o ex-porteiro do prédio onde os pais moravam, Leonardo Campos Alves, para assassiná-los. Ele teria contado com a ajuda de dois comparsas: o sobrinho Paulo Cardoso e o ex-entregador de gás Francisco Mairlon.

O triplo homicídio do qual Adriana foi acusada tem três qualificadoras. Uma delas era motivo torpe, porque, de acordo com o Ministério Público, a filha queria se vingar dos pais pelos frequentes desentendimentos financeiros. E o homicídio de Francisca ocorreu para garantir a impunidade pelos crimes.

Outra qualificadora era o uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, pois as três foram surpreendidas em casa, quando não tinham razões para acreditar que seriam atacadas. A terceira qualificadora foi meio cruel, pois os três vitimados receberam a maioria das facadas quando já estavam caídos.

Após a sentença ser declarada, o advogado Kakay criticou a decisão. “Essa condenação é um erro judiciário inacreditável. O Tribunal do Júri tem essa característica”, afirmou. O assistente de acusação Pedro Calmon disse que o caso se trata de “um dos crimes mais bárbaros que já vi na historia”.

3 imagens
Tribunal do Júri de Brasília
Juiz lê a sentença de Adriana
1 de 3

Adriana Villela durante sessão do Tribunal do Júri de Brasília

Igo Estrela/Metrópoles
2 de 3

Tribunal do Júri de Brasília

Igo Estrela/Metrópoles
3 de 3

Juiz lê a sentença de Adriana

Igo Estrela/Metrópoles
O que disse a ré

Ao chegar para o 10º e último dia de julgamento, Adriana falou pela primeira vez com a imprensa. “Eu sou inocente e agradeço por estar trazendo isso à luz agora, aqui no tribunal”, declarou.

Em interrogatório que durou cerca de oito horas na terça-feira (01/10/2019), Adriana narrou um bom convívio familiar. Durante toda a explicação, ela não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura, e se tornou forte pelas perdas que teve”, disse.

“Tenho, sim, muitos defeitos, mas entre esses defeitos não está ter mandando matar meus pais”, destacou. A ré se recusou a responder perguntas do MPDFT e dos assistentes de acusação, Bárbara Lira e Pedro Calmon, que representaram a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF) e parentes de Francisca, respectivamente.

O Metrópoles acompanhou desde o início, na segunda-feira da semana passada (23/09/2019), todas as etapas do julgamento. Foram 24 testemunhas ouvidas: oito de acusação e 16 de defesa.

6 imagens
O plenário do TJDFT dispõe de 224 lugares
Fila para entrar em sessão do Tribunal do Júri sobre o crime da 113 Sul
Último dia do julgamento de Adriana Villela
Defesa e acusação batem boca durante o julgamento
Adriana Villela acompanha discurso da acusação no caso do crime da 113 Sul
1 de 6

Para acompanhar o julgamento de Adriana Villela, as pessoas chegaram cedo

Rafaela Felicciano/Metrópoles
2 de 6

O plenário do TJDFT dispõe de 224 lugares

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 6

Fila para entrar em sessão do Tribunal do Júri sobre o crime da 113 Sul

Rafaela Felicciano/Metrópoles
4 de 6

Último dia do julgamento de Adriana Villela

Rafaela Felicciano/Metrópoles
5 de 6

Defesa e acusação batem boca durante o julgamento

Rafaela Felicciano/Metrópoles
6 de 6

Adriana Villela acompanha discurso da acusação no caso do crime da 113 Sul

Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

Perdeu algum momento do julgamento? Confira a cobertura do Metrópoles:

Crime da 113 Sul: Adriana Villela é condenada a 67 anos pela morte dos pais

Procurador do MP sobre condenação de Adriana: “Não há o que contestar”

Defesa: “Adriana foi condenada sem um fiapo de prova. Vamos recorrer”

Crime da 113 Sul: Kakay diz que foi alvo de “ataque pessoal”

MP rebate advogado de Adriana: “Enriqueceu defendendo corruptos”

Defesa e acusação batem boca na reta final do julgamento de Adriana

“Adriana é nossa principal testemunha”, diz MP ao citar contradições

OAB: “Ordem não encontrou elementos suficientes para condenar Adriana”

Adriana Villela acredita que Francisco Mairlon seja inocente

Com plenário lotado, Adriana Villela fala com jurados e chora

Promotor: silêncio de Adriana com a acusação vai atrapalhar os jurados

Em meio a julgamento, STF valida laudo com digitais de Adriana Villela

Adriana Villela recebia R$ 8,5 mil de mesada dos pais à época do crime

Após 85 horas de julgamento, depoimento de Adriana fica para esta 3ª

Choro, irritação e selfie: as reações de Adriana durante o júri

Juiz ameaça anular júri de Adriana após intervenções de assistente de acusação

Procurador diz que laudo coloca Adriana em apartamento no dia do crime

Papiloscopista não garante que Adriana esteve na casa dos pais no dia e hora do crime

Júri de Adriana atrai estudantes de direito e até vizinhos dos Villela

Adriana: “A vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados”

“Tinham plena autonomia”, diz Adriana sobre demora em procurar os pais

Questionada por juiz, Adriana Villela relata álibis no dia do crime

Irmão de Adriana Villela: “Temos certeza da inocência dela”

Delegado aposentado diz que álibi de Adriana Villela é “incontestável”

“Cansados dos seus destemperos”, disse mãe de Adriana Villela em carta

Delegado diz que Adriana Villela pagou US$ 27 mil pela morte dos pais

Ex-ministro do TSE afirma que Adriana Villela “pratica a verdade”

Adriana Villela sobre júri: “Oportunidade de esclarecer quem sou”

Segundo delegada Mabel, Adriana teria dito ao pai: “Vai para o inferno”

Crime da 113 Sul: MP diz que PCDF “plantou mentira” para proteger Adriana Villela

Promotor e representante da OAB -DF discutem em julgamento de Adriana

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?