Assassino de Louise Ribeiro, Vinícius Neres é condenado a 23 anos
Tribunal do Júri acatou o pedido da promotoria e condenou o réu por homicídio quadruplamente qualificado e destruição parcial de cadáver
atualizado
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O Tribunal do Júri de Brasília julgou nesta segunda-feira (3/4) Vinícius Neres Ribeiro, 20 anos, que matou a estudante Louise Maria da Silva Ribeiro, 20, em um dos laboratórios de Biologia da Universidade de Brasília (UnB). O réu foi condenado a 22 anos por homicídio quadruplamente qualificado (por motivo fútil, meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio) e a 1 ano de reclusão e 10 dias de multa (equivalente a 1/30 de salário mínimo) por destruição de cadáver.
Vinícius teve a pena atenuada (de 25 para 22 anos) por ser menor de 21 e ter confessado espontaneamente o crime ocorrido no dia 10 de março de 2016 e que chocou Brasília. Segundo o promotor Marcello Medeiros, apesar de o assassino de Louise ser réu primário, deve cumprir 2/5 da pena em regime fechado (9 anos e dois meses) até poder pedir progressão de regime.
Ao final do júri, Medeiros comentou o resultado. “Falar em justiça é complicado porque temos uma menina de 20 anos que perdeu a vida de maneira brutal. Penso que nós conseguimos atingir o que era possível dentro daquilo que a legislação permite. Os jurados acolheram todos os nossos pleitos, ressaltando aí a questão do feminicídio. Nesse particular, conseguimos mostrar para a sociedade que essa violência, que era tão oculta, existe e precisa ser reprimida”.A família de Louise também repercutiu o resultado e demonstrou insatisfação: “O que é justo? Nada vai compensar (a perda). Nada vai trazê-la de volta. As penas ainda são muito benevolentes”, disse o pai da estudante, o tenente do Exército Ronald Ribeiro, 50.
Visivelmente emocionada, a mãe da jovem foi mais incisiva: “Achei a pena muito branda. É um absurdo. Ele é condenado a 23 anos e daqui a 10 vai estar solto. Por mim, devia ser prisão perpétua”, afirmou Sandra, fazendo ainda um apelo para aos legisladores: “Está na hora de revermos a prisão perpétua no Brasil”.
A sessão de julgamento terminou por volta das 20h30. Durou mais de 10 horas e estava prevista para começar às 9h. Mas em função da presença de centenas de pessoas interessadas em assisti-la, houve atraso. Por volta das 9h50, o juiz Paulo Rogério Santos Giordano deu início ao julgamento.
Às 14h, um dos momentos mais esperados. Vinícius deu seu depoimento perante o júri. Disse que o namoro com Louise começou em 2015. Mas contou que o relacionamento era mantido em sigilo. Afirmou ainda que, após uma viagem com a família a Maceió, a jovem teria voltado diferente: “A Louise disse que não queria mais o relacionamento.”
Quando finalmente a jovem decidiu encontrá-lo no laboratório, ele a matou. “No final, ela agiu com desdém. Acabei perdendo a cabeça. Ela me abraçou como uma forma de dizer ‘dane-se'”, contou. “No momento do abraço, eu senti raiva dela. Me menosprezava nas pequenas coisas. Me ignorava. Isso tudo foi se acumulando. O abraço foi uma prova da indiferença que tinha comigo”, relatou.
Após matar Louise, Vinícius disse que tirou a roupa dela: “Queria vê-la pela última vez. Tive uma ereção e cheguei a colocar o preservativo, mas não fiz nada”. O réu tentou justificar o crime: “Ela mudou a forma de ser e ignorou todo o resto. Foi a única pessoa que me imaginei tendo um futuro. Mas ela passou a me ignorar completamente”.
Vestido com a roupa branca usada pelos internos no Centro de Detenção Provisória da Papuda, Vinícius, sem esboçar emoção, contou em detalhes como matou Louise. “Nunca vi tamanha frieza”, ressaltou o promotor durante a sua exposição, de uma hora e meia, diante de um júri formado por quatro mulheres e três homens.
De acordo Marcello Medeiros, os laudos mostraram que Louise morreu por asfixia e que, após assassinar a vítima, Vinícius queimou as partes íntimas da jovem. “Para mostrar que se ela não fosse dele, não seria de mais ninguém”, acrescentou o promotor.
Depois do promotor, a próxima a falar foi a advogada de defesa Tábata Lais Sousa Silva. Ela tentou desconstruir os argumentos de Medeiros de que se tratava de um crime de feminicídio. “Ele a matou, mas por razão de forte emoção”, disse. “Estava tão abalado com o fim do namoro que perdeu a razão. Em momento algum, o fato dela ser mulher contribuiu”, acrescentou.
Os jurados levaram apenas cerca de 30 minutos para chegar a um veredicto. Ao final, Vinícius permaneceu de cabeça baixa para ouvir a sentença lida pelo juiz Paulo Rogério Santos Giordano. Depois, foi levado de volta à prisão, onde está desde 13 de março de 2016.
Confira aqui como foi o julgamento:
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A princípio estava prevista a liberação de 90 pessoas, mas, em função da procura, o juiz autorizou a entrada de 250 espectadores no Tribunal do Júri de Brasília.
As testemunhas foram as primeiras a serem ouvidas. O pai da Louise, Ronald Ribeiro, falou diante do júri. Relatou que Vinicius já chegou a ir à casa da família. Antes dele, a professora do réu confesso, Carla Medeiros, disse que o jovem, que também estudava na UnB, pediu para avisar aos colegas que ninguém tivesse acesso ao laboratório onde Louise foi morta. “Justificou que ia colocar papel nas janelas para não entrar luz. Que se tratava de um projeto”.
Logo depois, foi ouvido o pai de Vinícius, Amilton Oliveira. Ele disse que, no dia da morte de Louise, buscou o filho em uma parada de Ceilândia Norte. “Ele não nos contou nada”, revelou. Afirmou que o rapaz pedia dinheiro para comprar presentes para a universitária, moradora da Asa Norte. “Não sei explicar o que eu senti na hora que soube. Não sei se senti raiva”, desabafou.
O pai de Vinícius é servidor do Embrapa e a mãe é professora na rede pública. Ambos acompanharam o julgamento. A advogada de defesa questionou se o réu já demonstrou algum tipo de desprezo por eles serem concursados: “Sempre dizem que o filho se espelha no pai, mas, no meu caso, eu sempre admirei o Vinícius, queria ser igual a ele”, desabafou entre lágrimas. Este foi o único momento em que o réu esboçou reação de choro.
Muitos estudantes de direito chegaram por volta das 5h para garantir lugar no Tribunal do Júri de Brasília. Entre eles, Matheus Nacácio e Nislane Carvalho, os primeiros da fila. “É um caso de repercussão e uma oportunidade importante para agregarmos conhecimento”, disse Nislane Carvalho, que cursa o 6º semestre.
O crime
Louise foi imobilizada, amarrada, asfixiada, despida dentro do laboratório de Biologia. Por fim, teve o corpo parcialmente queimado e abandonado em um matagal próximo ao Minas Tênis Clube, na Asa Norte. Teve todos os seus sonhos interrompidos aos 20 anos.