Advogado de Adriana acusa jurada de mentir e pede anulação do júri
Kakay alega que uma das mulheres que compuseram o Conselho de Sentença espalhou fake news contra ele nas redes sociais
atualizado
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A defesa de Adriana Villela apresentou, nesta sexta-feira (04/10/2019), ao Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), petição para que o julgamento mais longo da história da capital do país seja anulado. No documento, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, enumera uma série de elementos que, na visão dele, servem para invalidar as 103 horas de debate no Tribunal do Júri de Brasília.
Ao final dos embates, os jurados decidiram por condenar a arquiteta, que teve a pena estipulada em 67 anos e 6 meses de prisão pela morte dos pais, o ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela. Além da empregada do casal, Francisca Nascimento Silva. A barbárie conhecida como o crime da 113 Sul ocorreu em 28 de agosto de 2009.
Para Kakay, o erro mais grave foi a aceitação, para compor o Conselho de Sentença, de uma jurada que, nas redes sociais, acusou o defensor de Adriana Villela de ser advogado de Adélio Bispo, detido por esfaquear o então candidato ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSL). Em 25 de outubro de 2018, a mulher compartilhou uma publicação de um grupo no Facebook batizado de Somos Todos Bolsonaro, na qual Kakay aparece ao lado do então candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad. “Um dos advogados de Adélio”, diz o post.
O criminalista pontuou que, na hora da escolha dos jurados, já havia recebido informações sobre a possibilidade de fake news contra ele nas redes sociais da participante, mas ela teria negado perante ao juiz. “Eu já tinha impugnado três jurados. Estava justificando a impugnação dela quando a mulher falou que nunca havia tido redes sociais na vida. Pedi desculpas a ela, mas depois descobri que os ataques pessoais eram verdadeiros”, alegou.
O advogado afirmou nunca ter presenciado situação igual em um tribunal e destacou ser uma das situações mais graves “que viu em toda a vida”. “Essa senhora mentiu para o juiz, mentiu para a defesa e mentiu para o júri. Peço desculpas à sociedade de Brasília que acompanhou esse julgamento por 10 dias. Peço desculpas ao doutor Paulo Jordano (presidente do Tribunal do Júri), mas, infelizmente, fomos enganados. Foi uma farsa e ela será processada. A anulação do júri é uma consequência e um ato pequeno perto da gravidade da situação”, frisou.
Kakay ressalta que a jurada precisa ser responsabilizada pelo que fez. “Ela deveria ter saído de lá presa. Nunca fui advogado do Adélio, nem do Lula, isso já está explicado para toda a sociedade”, completou. “A defesa, com tristeza, após participar do júri mais longo de Brasília, com todo o desgaste que isso significa, tem absoluta certeza de que, em nome do estado democrático de direito, não há outra saída senão a anulação imediata do júri. É a consequência lógica é inevitável”, destacou.
Outro ponto questionável por Kakay é a ausência das gravações anteriores às oitivas. O defensor de Adriana pede que os áudios sejam incluídos nos autos.
MPDFT reage
Atento às manobras da defesa, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) já se prepara para contra-argumentar. Segundo o procurador Maurício Miranda disse ao Metrópoles, já era esperado que o caso não seria encerrado no tribunal, mas ele garantiu estar tranquilo e preparado para sustentar a tese de que o processo correu de maneira legal. “Em matéria de provas, acho muito difícil a defesa conseguir a anulação. Na própria ata da sessão, há poucos registros de reclamação das partes. O MP está pronto para reagir a essas manobras”, salientou.
Nota
Logo após a leitura do veredito, na quarta-feira (02/10/2019), Kakay e Marcelo Turbay — outro defensor de Adriana — distribuíram nota para a imprensa. “Foi a maior injustiça que eu vi em 40 anos de advocacia criminal. O Tribunal do Júri tem essa característica. Vota sim e não sem ter de fundamentar. O que ocorreu aqui [no julgamento] foi uma monstruosidade”, reagiu o advogado Kakay.
A arquiteta foi condenada a 32 anos de reclusão pelo homicídio do pai, José Guilherme Villela, a mais 32 anos pelo da mãe, Maria Villela, e a 23 anos pelo assassinato da empregada da família, Francisca Nascimento Silva. Além disso, houve condenação de 3 anos e 6 meses pelo furto de joias e dinheiro. As penas, contudo, não são somadas e o juiz fixa o tempo total. Por isso, chegou-se ao total de 67 anos e 6 meses.
Os outros três envolvidos já condenados pelo Tribunal do Júri tiveram as seguintes penas: 62 anos para Paulo Cardoso Santana; 60 anos para Leonardo Campos Alves; e 55 anos para Francisco Mairlon.
Adriana não esboçou reação. Após ouvir a pena, abraçou a filha, Carolina, e o advogado Antônio Carlos Almeida de Castro, o Kakay, e deixou o plenário do órgão sem falar com a imprensa. A arquiteta não saiu presa do Tribunal do Júri, pois poderá recorrer em liberdade. A eventual prisão só ocorrerá depois de esgotados os recursos e o trânsito em julgado do processo.
Segundo a acusação, Adriana, de 55 anos, contratou por R$ 60 mil Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde os pais moravam, para assassiná-los. Ele teria contado com ajuda de dois comparsas: o sobrinho Paulo Cardoso e o ex-entregador de gás Francisco Mairlon.
O ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, a advogada Maria Villela, pais da arquiteta, e a empregada da família, Francisca Nascimento Silva, morreram esfaqueados em 28 de agosto de 2009, no apartamento do casal, na 113 Sul. Foram 73 perfurações provocadas por armas brancas, no total.
O que disse a ré
Ao chegar para o 10º e último dia de julgamento, Adriana falou com a imprensa. “Sou inocente e agradeço por estar trazendo isso à luz agora, aqui no tribunal”, declarou.
Em interrogatório que durou cerca de oito horas na terça-feira (01/10/2019), Adriana narrou bom convívio familiar. Durante toda a explicação, não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura, e se tornou forte pelas perdas que teve”, frisou.
O Metrópoles acompanhou desde o início, na segunda-feira (23/09/2019) da semana passada, todas as etapas do julgamento. Foram 24 testemunhas ouvidas: oito de acusação e 16 de defesa.
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