113 Sul: STJ nega embargos e Adriana Villela vai a júri popular
Decisão cabe recurso. Arquiteta é acusada de ser a mandante do assassinato dos pais e de uma empregada, em 2009, para ficar com a herança
atualizado
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A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou por unanimidade, nesta terça-feira (11/06/2019), os embargos de declaração apresentados pela defesa de Adriana Villela para evitar o julgamento dela por júri popular. O advogado Marcelo Turbay estuda se recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele informou que, agora, irá analisar o acórdão para avaliar as possibilidades de recurso. Adriana Villela é acusada de ter participado do crime da 113 Sul, ocorrido em agosto de 2009. Na oportunidade, o pai da arquiteta e ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Guilherme Villela; a mulher dele, a advogada Maria Villela (foto abaixo); e a funcionária da casa, Francisca Nascimento Silva, foram assassinados a facadas, no apartamento da família.
Em fevereiro deste ano, a 6ª Turma do STJ decidiu que o julgamento da filha do casal deveria mesmo ser realizado pelo Tribunal do Júri de Brasília. Por quatro votos a um, os ministros rejeitaram o recurso da defesa contra decisão do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) que reconheceu supostos indícios da participação dela na morte dos seus pais.
Com a negativa aos embargos desta terça, a sentença está mantida. A defesa pode, no entanto, recorrer da decisão junto ao STF.
Adriana, que sempre negou as acusações, foi denunciada pela prática de triplo homicídio qualificado: por motivo torpe, emprego de meio cruel e de forma que dificultou a defesa das vítimas. A decisão da Justiça do DF determinou que ela fosse julgada pelo Tribunal do Júri. No entanto, os advogados da acusada tentaram desfazer essa pronúncia, ou seja, buscou reverter a sentença de que haveria indícios de Adriana ter cometido um crime doloso e, consequentemente, evitar o julgamento.
Caso em aberto
Segundo as investigações, após o ex-ministro chegar ao apartamento, por volta das 19h20, teria encontrado Francisca amarrada na sala e sido também imobilizado. Cerca de 30 minutos depois, Maria Villela entrou no imóvel e recebeu 12 facadas. José Guilherme recebeu 38 golpes e Francisca, 23. Os corpos só foram encontrados três dias depois, pela neta do casal, que estranhou a ausência de notícias dos avós.
Apontada como mandante do crime, Adriana Villela aguarda julgamento em liberdade. Outros dois envolvidos no caso já foram condenados pelo assassinato e cumprem pena na Papuda: Francisco Mairlon Barros Aguiar, ex-entregador de gás, e Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio. Já Paulo Cardoso, sobrinho de Leonardo e também acusado de esfaquear o trio, foi condenado a 55 anos de cadeia. Ele foi recambiado para o presídio de Montalvânia (MG), pois respondia por outro delito no município mineiro.
Em agosto de 2018, o Metrópoles entrevistou Francisco. Ele disse ser inocente e que foi torturado psicologicamente pela polícia para confessar sua participação no crime.
A arquiteta recebia, na época, uma mesada de R$ 8 mil, mas considerava pouco, o que motivava discussões acaloradas com os pais. Adriana é suspeita de ter contratado Leonardo para matá-los por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco para executar o crime.
Há quase oito anos, Adriana mora no Leblon, no Rio de Janeiro, em um apartamento dos pais. A herança deixada pelos Villela, estimada em mais de R$ 40 milhões, foi dividida entre ela e um irmão.
Enquanto não é levada ao júri popular, Adriana se define como alternativa. Nas redes sociais, costuma publicar fotos meditando em montes, pintando quadros ou produzindo utensílios com materiais recicláveis. No Facebook, apresenta-se como proprietária de uma marca chamada Atelier de Arquitetura e Reciclagem Verde Garrafa.
Trapalhadas na investigação
As investigações do crime da 113 Sul foram marcadas por trapalhadas e erros. Em 19 de julho de 2018, o GDF cassou a aposentadoria de R$ 16 mil da delegada Martha Vargas, a primeira a presidir o inquérito do caso. Ela foi condenada, em segunda instância, a 16 anos de prisão por ter plantado provas a fim de incriminar três homens sem relação com o triplo homicídio.
Durante a fase de inquérito do crime, Martha recorreu a uma vidente para anunciar a elucidação do caso. A paranormal Rosa Maria Jaques contou ter visto uma foto de José Guilherme num jornal, e o morto piscou para ela, indicando os responsáveis pela tragédia.
Com auxílio da líder espiritual, a delegada aposentada prendeu três suspeitos em Vicente Pires e apontou como prova principal uma chave do apartamento dos Villela, que estaria em posse do trio. Para obter a confissão de Alex Peterson Soares, Rami Jalau Kalout e Cláudio Brandão, Martha e parte de sua equipe teriam torturado os três.
No entanto, dias depois, laudo do Instituto de Criminalística (IC) revelou que a chave apreendida era exatamente a mesma recolhida pela própria Polícia Civil na cena do triplo homicídio. Diante da denúncia em relação à prova plantada, Martha pediu afastamento da investigação, e o caso passou a ser conduzido pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida).