Justiça decreta prisão preventiva de vigilante que matou Luciana
Juíza que conduziu audiência destacou ” periculosidade do autuado” para manter Alan preso
atualizado
Compartilhar notícia
A Justiça decidiu manter preso Alan Fabiano Pinto de Jesus, 45 anos. Ele é acusado de matar Luciana de Melo Ferreira, 49. A decisão de converter o flagrante em preventiva é da magistrada Lorena Alves OCampos, que conduziu audiência de custódia nesta quarta-feira (25/12/2019). O vigilante está internado no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), sob custódia.
“O modus operandi adotado na execução do delito retrata, in concreto, a periculosidade do autuado e a gravidade concreta da conduta. Segundo consta, o crime foi premeditado e o autor do fato chegou no condomínio da vítima e ficou a aguardando no terraço, escondido, de tocaia, até que ela regressou para a residência por volta as 22h30 do dia 21/12/2019”, destacou a magistrada.
Câmeras de segurança do edifício no Sudoeste onde a funcionária terceirizada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) morava registraram o momento em que o suspeito de matá-la, Alan Fabiano Pinto de Jesus, 45, monitora a chegada da vítima no apartamento. Para a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o registro confirma que o 33º feminicídio da capital em 2019 foi premeditado.
Nas imagens (veja abaixo), é possível observar que o vigilante e ex-namorado da vítima observa a movimentação no apartamento. Quando nota a chegada da vítima, Alan desce as escadas correndo, munido de um objeto.
A suspeita é de que o artefato tenha sido usado para golpear Luciana. O corpo da mulher tinha pelo menos “40 marcas de perfuração por objeto perfurocortante”, conforme informado pelos investigadores.
“As imagens mostram que o crime foi premeditado. Nos vídeos, ele aparece vigiando a vítima, monitorando a chegada da Luciana. Sabemos que ele ficou de campana à espera dela”, explicou o delegado-chefe da 3ª Delegacia de Polícia, Ricardo Viana.
Cerca de 30 minutos depois, o vigilante é flagrado deixando a portaria do edifício. Ele carrega uma bolsa nas mãos. Para o delegado, foi uma tentativa de desviar a linha de investigação da PCDF, dando a entender que o crime seria um latrocínio (roubo seguido de morte). A suspeita é de que Alan tenha entrado na portaria após digitar a senha de acesso na entrada.
“Lutou para não morrer”
A perícia da Polícia Civil concluiu que Luciana “lutou para não morrer“. Ele está internado sob escolta no Hospital de Base (HBDF) e não tem previsão de alta médica. Ao analisar a cena do crime, Viana classificou o episódio como “cruel, hediondo e covarde”.
“Em conversa com o médico descobrimos que Alan teria cometido o crime no sábado e no domingo tomou posto em seu trabalho, no Ministério da Economia. Deu entrada na segunda-feira [22/12/2019] no Hran [Hospital Regional da Asa Norte] com traumatismo cranioencefálico. Na terça, foi transferido para o Hospital de Base. Segundo o médico, ele realmente tem micro lesões no cérebro. Ele está aparentemente aéreo, viajante, diz não saber o que estava acontecendo e que desconhecia a vítima”.
A PCDF ainda desconhece o que teria provocado a lesão no suspeito. “Não podemos afirmar que tenha sido provocada durante a luta com a vítima. Ele não conseguiu falar nada, mas é fato que ele sofreu o trauma. Também é fato, e os peritos comprovaram, que a vítima lutou para não morrer”. Os investigadores não descartam a hipótese de que o trauma tenha sido provocado durante uma possível tentativa de suicídio de Alan.
Na tarde desta terça-feira, policiais civis da 3ª DP vasculhavam a casa do suspeito em busca da arma do crime e do objeto furtado por Alan em sua residência, no Sol Nascente, em Ceilândia.
Alan deverá ficar por mais três dias no Hospital de Base, em decorrência do diagnóstico de traumatismo cranioencefálico. O tempo, segundo repassado pelo neurocirurgião ao delegado, é suficiente para que o suspeito fique em observação e seja melhor avaliado.
“Não estou sabendo”
O vigilante disse que “não se lembra” de como foi parar no HBDF. Em vídeo obtido pelo Metrópoles, Alan é questionado por um policial. Com o vigilante deitado sobre uma maca, o PM pergunta: “Você conhece a Luciana?”. Como resposta, ouve apenas “hum?”, seguido de silêncio.
O policial continua: “A Luciana, sua ex-namorada, foi morta com uma facada no peito. O senhor está sendo acusado de homicídio. Está sabendo disso?”. “Não estou sabendo de nada não”, diz Alan.
O vigilante é novamente questionado: “O que aconteceu com o senhor, que está aqui no hospital?”. “Eu estava no trabalho, no serviço, e do serviço eu vim pra cá”, responde.
“Mas o que aconteceu? Por que o senhor está com o olho roxo? Alguém te bateu? Foi acidente de moto, de carro?”, continua o policial. “Não lembro”, finaliza o vigilante.
Veja o vídeo:
Tornozeleira
Alan usava tornozeleira eletrônica até 4 de dezembro. O motivo foi uma tentativa de homicídio contra Luciana. Segundo informações obtidas pelo Metrópoles, o acusado teria provocado um acidente de carro de propósito para ferir a vítima quando ela disse que queria terminar o relacionamento. A tentativa de feminicídio ocorreu em outubro deste ano.
O vigilante a ameaçou de morte e jogou o carro em que ambos estavam contra uma árvore. Luciana pulou momentos antes da colisão e se feriu.
Na época, o homem, que é morador de Ceilândia, foi preso em flagrante e denunciado por violência doméstica. Ele passou semanas detido, até que a Justiça concedeu liberdade, mediante uso de tornozeleira eletrônica. Em 21 de outubro, foi realizada a audiência de custódia.
Para ser solto, Alan teve que, além de usar tornozeleira, pagar fiança de R$ 2 mil e se comprometer a manter distância de ao menos 500 metros da vítima. Em 4 de dezembro, a Justiça autorizou a retirada do dispositivo.