Júri: advogado diz não ter visto que passou carro por cima de servidora
Segundo o réu, Paulo Ricardo, ele imaginou que teria passado por cima da calçada, não da servidora vítima do atropelamento
atualizado
Compartilhar notícia
O advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, 39 anos, disse não ter visto que passou com o carro por cima da servidora pública Tatiana Thelecildes Fernandes Matsunagana. Ele atropelou a vítima na porta da casa dela, no Lago Sul, após uma briga de trânsito, e é julgado pelo júri popular nesta terça-feira (25/7). O réu alegou que achava ter passado por cima da calçada.
Tatiana teve múltiplas lesões no quadril e no tornozelo, além de traumatismo craniano, o que a levou à UTI. Ela precisou de mais de um ano para recuperar parte da capacidade física, motora e mental, mas ainda depende de medicamentos e de fisioterapia, e precisará de vários tratamentos por tempo indeterminado. O filho dela, de 8 anos, estava no carro e viu tudo.
Paulo Ricardo deu a versão dele para os fatos após os depoimentos das testemunhas. Narrando o começo da briga, na altura da QI 15 do Lago Sul, o advogado argumenta que Tatiana estava em alta velocidade, aproximou o carro na traseira do veículo dele, deu luz alta, buzinou e, quando os dois ficaram lado a lado, passou a proferir xingamentos e ameaças.
“Então, começou a me fechar, jogar o carro dela contra o meu. Eu também respondi com xingamentos e isso gerou uma discussão de trânsito. Em um momento, ela fez um sinal com a mão, como quem quisesse que eu fosse atrás. Eu entendi que seria para segui-la”, diz. Ainda segundo Paulo Ricardo, ele teria sido instigado a acompanhar o veículo de Tatiana, por conta dos xingamentos e dos sinais.
“Chegamos a uma rua residencial. Posteriormente, fiquei sabendo que era a rua onde ela reside. Eu parei e questionei, disse que ela era uma irresponsável, falei que ela estava colocando nossas vidas em risco, inclusive do filho dela. Nesse momento lembrei da minha filha. […] Quando fiz esse comentário, vi que ela tirou o cinto e tentou abrir a porta. Eu saí em direção ao final da rua, não sabia que era sem saída. Para mim, aquilo ali já tinha acabado.”
Atropelamento
Quando retornou, o advogado disse ter visto o carro de Tatiana obstruindo a via. “Ela desceu do veículo e veio na direção do meu. Eu peço para ela tirar o carro da frente, para eu ir embora. Mas ela volta a me xingar, me ameaçar, falar palavras de baixo calão. Eu falo que vou pegar o celular para filmar o que estava acontecendo. Mas eu estava muito nervoso e não consegui filmar”, conta.
De acordo com a versão do advogado, Tatiana chegou a fazer um sinal de arma com a mão e perguntou se ele não teria “medo de morrer”. Após a troca de xingamentos, o marido da vítima saiu de casa. “Ele colocou a mão na cintura. Pensei que pudesse estar armado, então eu tinha que sair de lá de qualquer jeito. Fiquei apavorado, achei que estivesse correndo risco de vida.”
Assista ao vídeo do atropelamento:
Paulo Ricardo ainda admitiu que respondeu aos xingamentos e contou que acelerou enquanto estava com o celular na mão. “Vi o caminho livre acima da calçada e acelerei. O celular caiu no chão quando eu acelerei. Eu desviei a atenção para ver onde ele caiu e, nesse momento, senti um impacto. Não imaginava que seria a Tatiana. Depois que passei por cima da calçada, vi que ela estava no chão, caída.”
Sobre não ter prestado socorro, o advogado alegou que saiu do local porque teria visto o marido da mulher correndo atrás do veículo. “Pensei em parar para socorrê-la, mas achei que se eu parasse, a situação ia sair ainda mais do controle. Depois que olho pelo retrovisor, vejo ele retornar para socorrer a vítima.”
Prisão
O réu está preso preventivamente desde 25 de agosto de 2021, quando o crime ocorreu. Paulo Ricardo é acusado por tentativa de homicídio qualificado — por motivo fútil e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Os advogados dele, no entanto, defendem que o motorista não teve intenção de atropelar Tatiana.
As oitivas de Tatiana e do marido dela, Cláudio Matsunaga, não puderam ser acompanhadas pela imprensa. O perito criminal da PCDF, Alex Lima, que atuou como revisor das investigações deu informações como os detalhes de um laudo da corporação. O documento traz algumas conclusões.
Entre elas, ele aponta que “verificou-se que seria possível iniciar o processo de desaceleração do veículo antes do instante definido como o início da transposição”. Ou seja, segundo o laudo apresentado pela Polícia Civil do DF, o acusado poderia ter desacelerado o carro antes de passar por cima da vítima.
Ao todo, o julgamento conta com dez testemunhas, uma fala de Paulo Ricardo, o tempo de debate entre defesa e acusação e a decisão dos sete jurados.
Desde a prisão de Paulo Ricardo, a defesa do advogado entrou com diversos pedidos para tirá-lo da cadeia, mas a Justiça negou todos, em diferentes instâncias. Ele segue detido no 19º Batalhão de Polícia Militar, no Complexo Penitenciário da Papuda.